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Campos Neto diz que internacionalização do Pix é um processo contínuo

Ele lembrou que recentemente o governo argentino questionou a autoridade monetária brasileira sobre se os bancos de lá não poderiam usar o Pix

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02 de outubro de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que internacionalização do Pix é um processo contínuo
O Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na segunda-feira, 2, que a internacionalização do sistema de pagamento instantâneo brasileiro, o Pix, é um processo contínuo, mas que o cidadão brasileiro já pode pagar compras feitas em Orlando (EUA), Argentina, Uruguai e em outros países com o Pix.

“A internacuonalizaççao do Pix é um processo contínuo. Hoje se for em Orlando já consegue comprar com Pix, se for no Uruguai e na Argentina consegue comprar com Pix”, disse Campos Neto, ao ser questionado durante o evento da Associação Brasileira das Corretoras de Câmbio (Abracam) sobre quando o Pix seria internacionalizado.

Ele lembrou que recentemente o governo argentino questionou a autoridade monetária brasileira sobre se os bancos de lá não poderiam usar o Pix como uma forma de integração entre os dois países.

Campos Neto disse que o Pix está sendo aberto pra outros BCs. Para ele, o importante é fomentar este sistema que tem funcionado muito bem na Ásia.

Perguntado também como a autoridade monetária está vendo a possibilidade de aumento de fraudes através do Pix, como os economistas têm previsto, Campos Neto relativizou este risco.

De acordo com ele, as pessoas sempre falam de fraudes por meio do Pix mas esquecem que o sistema está substituindo o dinheiro em espécie e outros nichos que tinham outros processos de fraude.

“O que a gente entende no final que é uma vantagem, quando a olha pra frente, porque no final das contas, a fraude quando é digitalizada tem que passar por um sistema. Então, hoje, o que você tem é um sistema de fraude que basicamente usa contas de aluguel ou contas laranja, contas de passagem e esse é o lugar onde a gente precisa focar”, disse o presidente do BC.

De acordo com Campos Neto, “se a gente pensar que vai, eventualmente, viver em um mundo ideal, que não tem conta de aluguel, conta laranja e nem de passagem, basicamente se alguém fizer uma fraude terá que depositar o resultado daquela fraude na conta dele e ai você limita a capacidade de fraudes”.

O que o BC tem feito, segundo Campos Neto, é dá para o usuário a flexibilidade de fazer um Pix sob medida, entendendo a necessidade dele. “Se você não quer fazer um pagamento para uma pessoa que não está na agenda, você consegue bloquear o montante, o horário para fazer uma coisa mais subjetiva.”
A segunda coisa que Campos Neto disse estar sendo feita pelo BC é atacar esse tema das contas laranjas porque “no final das contas, se não tiver contas laranjas esse dinheiro vai pra onde? Tem que ir para alguma conta”.

Para ele, se as contas laranjas forem mapeadas e as aberturas destas contas forem antecipadas pela inteligência artificial, por exemplo, o volume de fraude será bem menor do que era no sistema antigo.

O presidente do Banco Central voltou a elogiar a manutenção da meta central de inflação em 3% nos próximos anos. Ele repetiu a avaliação de que o aumento da meta reduziria o grau de liberdade da política monetária, uma vez que as expectativas não apenas convergiriam para a meta mais alta, como incorporariam um prêmio pelo risco de o governo voltar a mexer no objetivo. “Foi uma decisão correta”, disse Campos Neto. “O governo brasileiro faz bem em manter a meta de inflação em 3%”, reiterou.

Embora tenha chamado a atenção para a piora da inflação no mundo por conta, principalmente, do aumento do petróleo, Campos Neto ponderou que, em geral, a inflação está em situação benigna no Brasil por conta da desinflação dos alimentos.

O presidente do Banco Central disse ainda que não vê, por ora, risco de fuga de dólares do Brasil em função do menor diferencial entre as taxas daqui, que caem, e dos Estados Unidos, que estão em alta nos juros de longo prazo.

Ao considerar o diferencial de juros, ainda elevado, e a percepção de risco atual, Campos Neto disse que o deslocamento de recursos a outros mercados não é o cenário mais provável e não está “no preço” neste momento.

Ele, contudo, apontou preocupação com a possibilidade de os juros continuarem subindo nos Estados Unidos, reconhecendo que, nesse caso, o cenário pode mudar. “Se a taxa de juros longa nos Estados Unidos continuar alta e continuar subindo, em algum momento, podemos ter saída de recursos acelerada”, disse Campos Neto durante evento da Abracam, associação que representa as corretoras de câmbio.

Assim, ele cobrou cuidado na condução da política monetária, já que a inflação segue resiliente no mundo. Nos Estados Unidos, projetou Campos Neto, os gastos com o serviço da dívida devem alcançar no ano que vem uma proporção do Produto Interno Bruto (PIB) parecida com a do Brasil. “Era uma coisa inconcebível até um tempo atrás”, declarou o presidente do BC para frisar, na sequência, que a barra fiscal vai ficar mais alta para redução de juros no mundo.

Numa avaliação do cenário internacional, Campos Neto citou a mudança no modelo de crescimento da China: de uma expansão baseada em infraestrutura para o consumo e a inovação, o que deve fazer com que o gigante asiático cresça menos por algum tempo.

Mais uma vez, o presidente do BC ressaltou que a autoridade monetária tem buscado derrubar a inflação no Brasil com o menor custo possível para a sociedade. Ao lembrar dos erros das projeções de crescimento da economia, também repetiu a observação de que o País, como resultado de efeitos das reformas realizadas nos últimos sete anos, pode ter elevado o seu potencial de crescimento com menor pressão inflacionária.

“O mercado tem errado bastante para baixo as projeções de crescimento. As pessoas começaram a se perguntar se não seria o caso de estudar um pouco se todas essas reformas feitas nos últimos anos estão causando crescimento estrutural mais alto”, disse Campos Neto.

O presidente do Banco Central reconheceu as dificuldades, dada a rigidez do orçamento, porém cobrou uma solução estrutural de longo prazo ao aumento, acima da média, dos gastos públicos no Brasil. Campos Neto disse que os gastos, que estão subindo 9,2% acima da inflação, devem avançar 3,3% em termos reais no ano que vem, mesmo com a entrada dos limites do novo arcabouço fiscal.

Esse ritmo, frisou, está acima da média não apenas de economias desenvolvidas, mas também emergentes, como resultado da rigidez do orçamento. A consequência, pontuou, é um aumento no prêmio de risco pelas preocupações de investidores com as contas públicas.

“É uma questão que precisamos endereçar de forma mais estrutural no longo prazo”, comentou o presidente BC, ao dizer que não procurava fazer uma crítica ao governo atual com o comentário. “Reconhecemos que é difícil cortar gastos estruturais.”

Campos Neto assinalou que o BC está de olho na trajetória da dívida, após chamar atenção para o crescimento das despesas estruturais no Brasil acima da média da América Latina.