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Copom reconhece as dificuldades em atingir meta fiscal

O presidente do BC Roberto Campos Neto também comentou que o ruído sobre a possibilidade de troca de meta fiscal causou impacto nos mercados.

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28 de setembro de 2023
Vinicius Palermo
Copom reconhece as dificuldades em atingir meta fiscal
O Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto durante audiência Pública na comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Foto Lula Marques/ Agência Brasil

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na quinta-feira, 28, que o Comitê de Política Monetária (Copom) reconhece as dificuldades em atingir a meta de resultado primário, que é de déficit zero para o ano que vem. “Reconhecemos as dificuldades em atingir meta fiscal, que não depende apenas do controle do governo”, comentou.

Durante a entrevista coletiva, o presidente do BC também comentou que o ruído sobre a possibilidade de troca de meta fiscal causou impacto nos mercados. “Entendemos que é muito importante perseguir a meta. E atingir a meta”, afirmou.

Já o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, comentou que, para elevar o PIB potencial é preciso acompanhar um crescimento robusto sem pressão inflacionária para ter um maior entendimento sobre o que acontece no cenário.

Ele fez a afirmação ao comentar sobre as quatro hipóteses apresentadas pelo BC para o crescimento, salientando que todas contribuem para o quadro previsto. “É prematuro ter uma visão sobre crescimento potencial. Precisaria de um crescimento robusto sem pressão inflacionária para ter maior entendimento.”

O presidente do Banco Central previu que, à medida que projetos de receitas forem aprovados pelo Congresso Nacional, a percepção dos agentes econômicos sobre a área fiscal vai melhorar. “Entendemos que tem várias medidas que poderiam atenuar do lado da receita. A gente vai acompanhar a votação dessas medidas”, afirmou, acrescentando que a autoridade monetária não faz comentários sobre projetos específicos, mas há medidas que melhoram o setor fiscal pelo aumento das receitas.

Em entrevista para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), Campos Neto voltou a observar que a relação entre fiscal e política monetária não é mecânica. “A relação nunca é mecânica Para a gente, o que importa é como isso vai impactar inflação e expectativas”, disse. Ele acrescentou, porém, que se houver piora do setor fiscal, com impacto na expectativa de inflação, haverá impacto na política monetária.

O presidente do Banco Central do Brasil disse ainda que a instituição segue o manual do Fundo Monetário Internacional (FMI) para classificar precatórios como despesa primária e que não tem capacidade de responder porque o Fundo escolheu essa forma de contabilidade. “A decisão sobre precatórios é do STF, mas o departamento técnico do BC vai estudar”, disse.

Sobre cartões de crédito, Campos Neto voltou a dizer que vai reunir todos os envolvidos para buscar solução estrutural para o rotativo e que mudanças no parcelado sem juros tiveram muita resistência de vários setores. “A solução é cada um precisar ceder um pouco”, repetiu, dizendo que não fazer nada também é um problema.

O diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, disse que o Copom não antecipará mudanças na política monetária em função da introdução da meta contínua. “Trabalhamos com a meta em vigor e não antecipamos uma mudança da política monetária em função da meta contínua. A gente não trata política monetária de forma sazonal.”

Campos Neto voltou a dizer que é difícil colocar nas atas quais discordâncias são qualitativas ou quantitativas, quais são maiores ou menores durante o Copom. “Pode ser número maior de pequenos debates sobre temas diferentes, mas não dizer que o dissenso é maior. Tem outras reuniões, em que há só um tema”, disse. “Em termos de direcionamento, o Copom foi mais unânime nessa reunião que em últimas”, reforçou.

O presidente do BC comentou que ainda é cedo para se falar em movimento de cortes menores na Selic. “Há incertezas externas e vamos acompanhar dados até próximo Copom. Está cedo para dizer hoje (quinta) num movimento de corte menor, mas avaliamos isso em todas as reuniões.”

O presidente do Banco Central disse também que a recente elevação do dólar no mercado brasileiro está bastante relacionada ao fortalecimento da moeda norte-americana. “É mais um movimento global do que local”, disse.

De acordo com ele, há interpretações a serem feitas, mas que é importante entender qual vai ser o desenvolvimento da história.

Na sequência, fez uma série de perguntas: a taxa de juros americana vai subir mais? O Federal Reserve (Fed) vai voltar a subir juro? É um movimento mais estrutural? Está relacionado com o fiscal? Campos Neto ressaltou que, para o BC brasileiro, o mais importante é ver como essa movimentação do câmbio afeta as expectativas.

O presidente do BC disse esperar que o perfil dos novos diretores da autoridade monetária seja técnico. Pela lei da autonomia, dois membros da diretoria colegiada têm seus mandatos expirados até o fim de dezembro. “Não tenho mais o que falar sobre isso. É uma escolha do presidente (da República) e temos que aceitar”, disse.