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ABI lembra 50 anos da morte e resistência de Salvador Allende no Chile

O presidente da ABI, Octávio Costa, disse que o ato se soma aos eventos que estão sendo realizadas nesta data, com o mesmo objetivo, no Chile.

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11 de setembro de 2023
Vinicius Palermo
ABI lembra 50 anos da morte e resistência de Salvador Allende no Chile
Delegação chilena na Associação Brasileira de Imprensa (A.B.I), para o ATO em MEMÓRIA DE ALLENDE, em setembro de 2023. Foto: Manuel Lagos

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) recebeu, na segunda-feira (11) o ato Allende não se rende, em memória dos 50 anos da morte de Salvador Allende, presidente do Chile, em 11 de setembro de 1973. O evento é organizado pela Fundación Salvador Allende e pela ABI.

O presidente da ABI, Octávio Costa, disse que o ato se soma aos eventos que estão sendo realizadas nesta data, com o mesmo objetivo, no Chile. “São atos em homenagem à resistência heroica e ao simbolismo todo de Salvador Allende para a América do Sul”, disse Octávio Costa. Para ele, o ato em memória de Allende tem tudo a ver com a própria história da ABI de defesa do estado democrático de direito, que marca a entidade desde sua criação e com alguns momentos marcantes, como a resistência à ditadura e as campanhas pela anistia e pelas Diretas Já – “todos momentos importantes na história da ABI e por toda a simbologia representada por Allende”. “

A ABI se sentiu honrada ao ser escolhida para sediar esse evento no Brasil, destacou Costa. Segundo o jornalista, Allende era um símbolo de luta social. “Era um socialista histórico no Chile quando foi eleito presidente, enfrentou a resistência imediata da burguesia chilena e, principalmente, dos Estados Unidos.” Costa ressaltou que hoje existem documentos que comprovam a interferência do governo americano na política do Chile na época, inclusive financiando o movimento de conspiração contra Allende. De acordo com Costa, partiu do então presidente americano Richard Nixon a ordem para derrubar Allende, porque não aceitava um governo popular e, pessoalmente, a resistência de Allende.

Com o Palacio La Moneda sendo bombardeado, o presidente Salvador Allende pediu um salvo conduto aos militares para que os assessores mais próximos e sua filha pudessem deixar o local. Quando os militares lhe ofereceram um avião para que saísse do país na companhia da família, Allende recusou, dizendo que só sairia morto do palácio. “Infelizmente, ele cumpre sua palavra. Depois que todos os assessores se retiram, no dia 11 de setembro, ele vai para o gabinete e grita: ‘Allende não se rende’, repetindo o que havia falado no rádio para o povo chileno. Quando o médico ouve o grito e chega ao local, o encontra caído em uma poltrona, morrendo. Tinha se suicidado”, lembrou Costa.

Para o jornalista, foi um ato heroico de um homem que tinha uma causa, que era o bem-estar da população chilena. “É um exemplo para todos nós, não só para a América do Sul, mas para quem acredita na democracia, para quem acredita que é possível, sim, governar buscando a justiça social”. Allende era médico e dedicou toda a vida ao povo chileno. “Daí, a ABI sediar esse ato, com toda uma simbologia para nós, brasileiros, uruguaios, argentinos, povos que viveram esse tipo de tragédia em um momento muito perto na história. Foi ditadura aqui, na Argentina, no Uruguai e, por fim, no Chile. Nós sofremos tudo isso. Temos essa página sombria na nossa história e daí, a total adesão da ABI a um evento que homenageia o presidente Salvador Allende.”

Para o superintendente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) no Rio de Janeiro, o escritor, tradutor e jornalista Eric Nepomuceno, o evento Allende não se rende é “importantíssimo”. Nepomuceno esteve no Chile, de forma clandestina, em 1974, para fazer uma série de reportagens sobre a resistência não armada no Chile. “E isso foi divulgado mundo afora, junto com texto do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez sobre os últimos momentos da democracia e do Allende. Então, meu vínculo com o Chile é muito forte”, disse Nepomuceno. A avaliação de Nepomuceno sobre Allende é a melhor possível. ”Eu tenho o Allende não como um exemplo, mas como um modelo de democracia. No seu tempo, havia pouquíssimos homens como ele.”

Filha do poeta Thiago de Mello, nascida quando ele estava exilado no Chile, no governo de Salvador Allende, a roteirista Isabella Thiago de Mello disse que seu pai foi adido cultural na Bolívia de 1959 a 1960 e de 1961 a 1964, no Chile. Após o golpe cívico-militar de 1964 no Brasil, ele entregou o cargo ao Itamaraty, mas continuou trabalhando no Chile como jornalista e editor de revistas, e recebendo a primeira leva de exilados brasileiros que chegavam ao Chile, entre os quais Fernando Henrique Cardoso e José Serra. “Foram três levas de exilados: no primeiro momento do golpe de 1964; depois do Ato Institucional Número 5 (AI5), em 1968; e em 1970, no governo Garrastazú Médici”, citou Isabella.

Quinze dias depois do golpe, o poeta recebeu a notícia, no Chile, da prisão, pela Polícia Militar, do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony na redação do jornal. “Ele ficou desesperado porque estava longe, sem poder fazer nada para ajudar o amigo. Morando naquela época na casa do poeta chileno Pablo Neruda La Chascona, em Santiago, Thiago de Mello escreveu ali Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente), que dedicou a Cony. Colocou o poema dentro de um envelope e enviou para o jornal Correio da Manhã, que o publicou no dia 30 de maio de 1964.

O poeta enviou uma série de poemas, artigos e crônicas também publicadas pelo mesmo jornal. Voltou ao Brasil em maio de 1965 e, no mesmo ano, em setembro, lançou o livro Faz Escuro mas Eu Canto. O verso acabou servindo de base e inspiração para uma canção Manhã de Liberdade, musicada por Mansueto e cantada por Nara Leão.