País
CPI dos Atos Antidemocráticos

Mauro Cid fica calado por orientação de novo advogado

A estratégia já tinha sido adotada no primeiro depoimento de Cid na CPMI do 8 de janeiro no Congresso Nacional.

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24 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Mauro Cid fica calado por orientação de novo advogado
tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante-de-ordens do então presidente Jair Bolsonaro.Foto Lula Marques/ Agência Brasil.

Sob orientação do seu novo advogado, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), decidiu não responder as perguntas da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), que investiga a invasão da Praça dos Três Poderes por bolsonaristas no dia 8 de janeiro. A estratégia já tinha sido adotada no primeiro depoimento de Cid na CPMI do 8 de janeiro no Congresso Nacional.

“Por orientação da minha defesa técnica, farei uso do meu direito constitucional de silêncio”, informou Mauro Cid, no início da sessão da comissão.

Esse é o primeiro depoimento de Mauro Cid sob a defesa do advogado Cezar Bitencourt. Na última semana, o defensor afirmou que seu cliente confessaria a participação no esquema que desviou joias da Presidência da República e apontaria Bolsonaro como mandante. Bitencourt, no entanto, recuou. Publicamente, o advogado passou a dizer que Cid apenas cumpria ordens de “resolver o problema do Rolex”.

“Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos”, justificou Bitencourt.

Antes de anunciar que permaneceria em silêncio, Cid leu um breve discurso aos deputados. Afirmou que não foi nomeado ajudante de Ordens de Bolsonaro por motivos políticos. Explicou também que, entre as funções do seu cargo, está a recepção de correspondências recebidas pelo presidente da República. “Não questionávamos o que era tratado nas respectivas agendas e reuniões. não estava na minha esfera analisar propostas de apoiadores”, assegurou.

No início da sessão, o presidente da CPI dos Atos Antidemocráticos, deputado Chico Vigilante (PT), discutiu com Bitencourt após Cid anunciar que permaneceria em silêncio. O petista afirmou que o ex-auxiliar de Bolsonaro foi convocado à Comissão na condição de testemunha, após decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes. O defensor negou e afirmou que o militar seria investigado, o que lhe daria direito de não responder as perguntas.

A CPMI do 8 de janeiro ouviu também na quinta-feira, 24, o sargento Luis Marcos dos Reis, que é suspeito de pagar as contas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com dinheiro vivo repassado por uma empresa de material de construção que tinha contratos com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O dinheiro recebido por Reis era repassado pela Cedro do Líbano. Ao menos R$ 18 mil foram transferidos da conta da empresa para o militar. O sargento alegou ter pedido os repasses ao dono da empresa, mas não soube justificar o motivo de as transferências não terem sido feitas por meio da conta bancária do empresário.

“Existe muita confusão nesse emaranhado de transações financeiras, que nesta CPMI nos precisamos saber que irrigou o 8 de Janeiro”, disse a relatora Eliziane Gama (PSD-MA).

O militar trabalhou como assessor de Jair Bolsonaro e era o braço direito do tenente-coronel Mauro Cid na Ajudância de Ordens da Presidência. Reis ainda participou da invasão aos prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.

Reis está preso desde maio acusado de participação no esquema de fraudes nas carteiras de vacinação de Bolsonaro. O sargento movimentou R$ 3,3 milhões em suas contas e repassou parte do dinheiro para Mauro Cid no que foi identificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como movimentações atípicas. O militar recebia R$ 13 mil por mês.

Antes do início do depoimento de Reis, a CPMI aprovou a quebra de sigilos bancário e fiscal da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e do hacker da Vaza Jato Walter Delgatti Neto. Mauro Cid foi reconvocado pelo colegiado. Os requerimentos foram aprovados em bloco.