Economia
Corte necessário

Campos Neto: gastos crescem acima da média do mundo emergente

Segundo Campos Neto, o País precisa discutir a estrutura do gasto público, e reduções feitas nos últimos governos foram conjunturais

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22 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto: gastos crescem acima da média do mundo emergente
Sede do Banco Central

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que mesmo com as regras previstas no novo arcabouço fiscal, que ainda precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados, os gastos no Brasil devem crescer acima da média dos países emergentes. De acordo com ele, o País precisa discutir a estrutura do gasto público, e reduções feitas nos últimos governos foram conjunturais, como o congelamento dos reajustes salariais do funcionalismo público.

“No Brasil, se gastou em termos reais muito mais do que no mundo emergente nos últimos anos e mais do que no mundo desenvolvido”, disse. Campos Neto afirmou que, ainda assim, é importante o País ter um arcabouço fiscal com credibilidade.

Na apresentação feita por Campos Neto, os dados apontam um crescimento real de 7,5% na despesa do governo geral no Brasil neste ano, contra uma média de 1% na América Latina. Para o ano que vem, as projeções são de queda de 1% no Brasil e de 2,7% no continente; em 2024, apontam para alta de 3,3% no Brasil, e queda de 0,9% na América Latina.

“Isso significa que nós temos um trabalho para fazer em termos de gastos, e que não é um trabalho fácil, não é uma coisa desse governo nem de outro governo, é uma coisa estrutural brasileira”, disse ele. “Nós tivemos alguns momentos onde tentaram cortar gastos, mas em grande parte foi conjuntural, não foi estrutural.”

O presidente do Banco Central apontou o aumento da incerteza fiscal ao tratar, durante conferência do Santander em São Paulo, da dinâmica recente do câmbio. “Tem um pouco de prêmio de risco da incerteza fiscal, que parece que aumentou um pouquinho nas últimas duas ou três semanas”, disse Campos Neto, referindo-se à desvalorização do real frente ao dólar no último mês. Ele considerou, porém, que o movimento reflete em maior parte fatores externos.

Durante o evento, o presidente do BC lembrou de movimentos cambiais bastante diferentes nos últimos anos. Houve momentos, pontuou, nos quais o real se depreciou a despeito da redução do risco, como no período de “overhedge”, que elevou as compras de dólares. Posteriormente, a desvalorização cambial esteve associada à piora na percepção de risco fiscal.

Agora, pontuou Campos Neto, o câmbio está sendo guiado pelo aumento do diferencial com os juros americanos, já que há bons títulos privados nos Estados Unidos pagando 7% ao ano, atraindo assim investidores, em paralelo à desaceleração da economia chinesa, a qual o Brasil tem alta exposição.

Conforme o presidente do BC, ao mesmo tempo em que exporta desinflação, a perda de tração da China gera questionamentos sobre o crescimento do Brasil.

O presidente do Banco Central, cujo voto desempatou o placar da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em agosto, a favor de um início de corte de juros mais arrojado, contou que o “voto de Minerva” já havia sido dado no encontro anterior do colegiado, realizado em junho. Ao participar da conferência do Santander, realizada na capital paulista, o presidente do BC lembrou que havia, em junho, uma divisão entre os diretores da autarquia sobre sinalizar ou não a abertura do ciclo de flexibilização monetária.

Enquanto um grupo queria manter a porta fechada a um movimento de corte na reunião seguinte, outro desejava abri-la.  Assim, contou Campos Neto, o seu “voto de Minerva” foi determinar, na ocasião, que deveria constar da ata do Copom a informação de que a posição a favor da “porta aberta” foi a predominante.

O presidente do Banco Central disse também que, apesar da melhora das expectativas ao desempenho da economia neste ano, a tendência ao crescimento de longo prazo é mais preocupante. Ele apontou a baixa taxa de investimento e o envelhecimento da população, ao mesmo tempo que em a produtividade tem caído ao longo do tempo, entre os fatores que levaram o mercado a reduzir de 2% para 1,8% a estimativa ao crescimento potencial do País.