Economia
Impacto ruim

Campos Neto defende aumento em preço de combustíveis

Campos Neto participou na manhã de quarta-feira do 35º Congresso da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

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17 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Campos Neto defende aumento em preço de combustíveis
No início de sua fala, Campos Neto também reafirmou que o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a começar a subir os juros diante do choque de inflação pós-pandemia.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, classificou na quarta-feira, 16, como acertado o reajuste sobre o preço dos combustíveis anunciado pela Petrobrás na terça-feira, 15. “Não é bom um distanciamento grande de preços, mesmo tendo um impacto negativo”, disse, em referência ao impacto sobre a inflação de 2023.

Campos Neto participou na manhã de quarta-feira do 35º Congresso da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).  Ele afirmou ainda que há uma queda da inflação em grande parte do mundo. A mesma velocidade de redução, porém, não é vista nos núcleos de inflação, disse. “Alguns lugares estão com os núcleos caindo; na América Latina é muito mais recente a queda, mas quando olhamos países avançados a queda dos núcleos tem sido muito baixa”, comentou.

O presidente do BC citou o exemplo da Inglaterra. Campos Neto afirmou em seguida que, entre os países emergentes, Brasil e Chile têm a maior queda de inflação.  Ele defendeu que o País é um dos poucos com expectativas de inflação dentro das bandas da meta em 2023, 2024 e 2025.

No início de sua fala, Campos Neto também reafirmou que o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a começar a subir os juros diante do choque de inflação pós-pandemia.

O presidente do Banco Central afirmou também que as surpresas negativas com a economia chinesa têm sido o grande tema na discussão global sobre atividade econômica.

“Hoje (quarta) temos mais notícias da China sobre empresas ligadas ao setor da construção civil que não estão conseguindo honrar seus compromissos”, disse ele.

Campos Neto citou o corte dos juros feito pelo país na terça – de 0,15 ponto porcentual, que levou uma das taxas de referência a 2,50% – e avaliou que “não é isso que fará a economia acelerar muito”.

O presidente do Banco Central afirmou que a luta contra a inflação não está ganha e que é preciso perseverar para atingir a meta de 3,0%. Campos Neto disse que a inflação acumulada em 12 meses, que estava em queda, deve começar a subir por efeito estatístico no segundo semestre.

Ele emendou que a média dos núcleos também tem recuado, ainda que siga acima do desejável, mas ressaltou que vê consistência nessa queda.

“Quando olhamos de forma geral, vemos a inflação de serviços e do núcleo de serviços bem comportada, indo na trajetória que esperávamos ao longo desses meses”, acrescentou Campos Neto.

O presidente do Banco Central afirmou ainda que, mesmo antes do corte de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic realizado em agosto, já havia uma melhora das condições financeiras no País.

“As condições financeiras tiveram um afrouxamento, um ganho de liquidez, mesmo antes da queda da Selic”, disse Campos Neto. “Foi em parte pela credibilidade do BC, em parte pelo que o governo tem feito e em parte pelo Congresso, que fez um excelente trabalho aprovando várias medidas”, enumerou ele, que emendou que ainda há medidas que precisam ser aprovadas.

O presidente do Banco Central afirmou também que a desaceleração do crédito no Brasil foi muito menor que no resto do mundo. “Vemos uma desaceleração grande no mundo, indo para 0,0% de crescimento”, disse Campos Neto, que ponderou que na parte das empresas a expectativa é um pouco melhor.

Ele contrapôs que no Brasil, por outro lado, a Febraban revisou recentemente a expectativa para o crescimento do crédito no País para em torno de 8,0% neste ano.

Campos Neto reafirmou, na sequência, que o objetivo do BC é fazer um pouso suave na economia, ou seja, trazer a inflação para baixo com o menor custo possível para a sociedade.

“Com o menor custo de crescimento negativo e emprego, e, na parte de crédito, tentando retrair o mínimo possível”, emendou o presidente do BC. “É óbvio que alguma retração de crédito precisa ter quando estamos em um processo de desinflação”, ponderou.

O presidente do Banco Central pontuou ainda que ao longo dos últimos anos, com a realização de mais de vinte medidas para a redução dos spreads, houve queda deste indicador na maior parte dos produtos de crédito.

Ele acrescentou que foram poucos os produtos com elevação, como o cartão de crédito. “Em grande crédito as medidas foram efetivas.”

O presidente do Banco Central (BC) que um dos desafios dos governos para o crescimento da economia no pós-pandemia é o equilíbrio entre o social e o fiscal. “É importante olhar para o social também, e é importante que o social não seja apenas assistencialismo, mas seja dar oportunidade para pessoa crescer e se inserir em um mundo competitivo”, disse.

Campos Neto defendeu que a credibilidade é essencial para um crescimento sustentável da economia brasileira. “Temos uma situação fiscal complexa então não vamos crescer simplesmente com impulso do governo. Precisamos do setor privado acreditando, investindo e tomando risco”, afirmou.

Para isso, acrescentou, o governo tem que gerar credibilidade, com uma melhor segurança jurídica, um melhor processo de recuperação de crédito e transmitindo para a sociedade que o governo terá contas equilibradas à frente, enumerou.

Campos Neto defendeu ainda que a forma mais sustentável e mais de longo prazo de gerar crescimento é entender que ele é eminentemente feito por um processo competitivo, no qual é preciso ter respeito pelos processos de preço e mercado.

O presidente do Banco Central afirmou também que, no longo prazo, preocupa a percepção dos agentes econômicos de que o crescimento potencial do Brasil é baixo. Ele citou que, na comparação entre agosto de 2021 e junho de 2023, houve mais uma queda na perspectiva do que os agentes entendem como crescimento potencial do Brasil, de acordo com dados do Questionário Pré-Copom (QPC).

A mediana das estimativas para a taxa de crescimento do PIB potencial passou de 2,0% para 1,8% entre os períodos.

“Vemos alguns fatores para isso: o crescimento da população em idade de trabalhar caindo; o investimento também em uma média de longo prazo caindo; e a produtividade caindo, com uma queda recente grande”, enumerou Campos Neto.

O presidente do Banco Central afirmou ainda que é preciso aprovação de medidas adicionais que aumentem a arrecadação entre 2024 e 2026. Ele citou a diferença entre as previsões do mercado para o resultado primário do setor público consolidado no período e as metas do governo.

Campos Neto emendou que, para fazer a entrega desejada pelo governo, são necessárias medidas adicionais, que gerem um incremento de arrecadação em termos de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, 1,5% do PIB em 2025 e 1,7% do PIB em 2026. “Há um pouco de ceticismo em relação a essa capacidade”, disse. “Temos medidas importantes para serem aprovadas nesse sentido.”