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Recuperação

Wassef recomprou Rolex dado a Bolsonaro

O objeto foi vendido pelo general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, braço-direito do ex-chefe do Executivo

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12 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Wassef recomprou Rolex dado a Bolsonaro
O advogado Frederick Wassef recomprou, nos Estados Unidos, o relógio da marca Rolex recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

O advogado Frederick Wassef recomprou, nos Estados Unidos, o relógio da marca Rolex recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em viagem oficial, segundo as investigações que resultaram na operação da Polícia Federal (PF) na sexta-feira, 11. O objeto foi vendido pelo general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, braço-direito do ex-chefe do Executivo, e recuperado para ser entregue ao Tribunal de Contas da União (TCU).

As movimentações faziam parte, segundo a PF, de atos para recuperar os itens que integravam o denominado “Kit Ouro Branco”, com o objetivo de “escamotear, das autoridades brasileiras, a evasão e a venda ilícitas dos bens no exterior”.

Segundo os investigadores, a recuperação do relógio ocorreu em março, após o TCU determinar a devolução do item, que teria sido vendido para a empresa Precision Watches. O valor, segundo a PF, foi maior do que o obtido na venda.

“Primeiramente o relógio Rolex DAY-DATE, vendido para a empresa Precision Watches, foi recuperado no dia 14/03/2023, pelo advogado Frederick Wassef, que retornou com o bem ao Brasil, na data de 29/03/2023. No dia 02/04/2023, Mauro Cid e Frederick Wassef se encontraram na cidade de São Paulo, momento em que a posse do relógio passou para Mauro Cid, que retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma o documento.

Na sexta-feira, a Polícia Federal abriu uma operação para investigar suposto grupo que teria vendido bens entregues a autoridades brasileiras em missões oficiais. Dentre os investigados estão general da reserva Mauro César Lourena Cid, Wassef, que representou o ex-chefe do Executivo perante a Justiça, e o tenente Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens do ex-presidente.

Nas últimas semanas, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro identificou uma troca de e-mails sobre a tentativa de venda, por R$ 300 mil, de um relógio da marca Rolex recebido em viagem oficial, por Mauro Cid. A negociação se deu no dia 6 de junho. Em e-mail em inglês, uma interlocutora pergunta a Cid quanto ele quer no relógio e dá a entender que ele seria cravejado de platina e diamantes.

Em viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riade, na Arábia Saudita, em outubro de 2019, o então presidente Bolsonaro recebeu um estojo de joias, que incluía um relógio da marca Rolex, de ouro branco, cravejado de diamantes. Três anos depois, no mesmo dia em que Cid enviou o e-mail identificado pela CPMI, foi registrado pelo sistema da Presidência que os itens foram “encaminhados ao gabinete do presidente Jair Bolsonaro”. Dois dias depois, em 8 de junho, conforme os registros oficiais, as joias já se encontravam “sob a guarda do Presidente da República”.

O reflexo do general Mauro Cesar Lourena Cid na foto usada nas negociações de uma caixa de escultura que Bolsonaro ganhou de presente em uma agenda oficial serviu de prova para a operação Lucas 12:2, feita pela Polícia Federal.

Dentro da caixa na qual aparece o reflexo do general, havia uma escultura de um coqueiro de ouro. Ele enviou as fotos para o filho, Mauro Cid, e pediu orientações de onde levar o objeto para que o valor fosse avaliado. A troca de mensagens entre os dois, que consta na investigação, mostra que eles pretendiam vender a escultura.

De acordo com as investigações, Jair Bolsonaro ganhou a escultura no dia 16 de novembro de 2022, na cerimônia de encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira na cidade de Manama, no Reino do Bahrein, nos Emirados Árabes. Há uma imagem, nos autos, do ex-presidente recebendo em mãos o artefato.

Diante dessas novas provas, a Polícia Federal suspeita que o próprio Bolsonaro tenha agido para viabilizar a venda de presentes que ele recebeu em agendas oficiais. Na semana passada, documentos recebidos pela CPMI do 8 de Janeiro mostraram que Mauro Cid tentou vender um relógio da marca Rolex com características similares às do que Bolsonaro ganhou de presente dos Emirados Árabes em 2019.