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Investigação

Ex-diretor da PRF é preso por suposta interferência no 2º turno das eleições

O aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro foi capturado em Florianópolis e deve ser transferido para Brasília

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10 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Ex-diretor da PRF é preso por suposta interferência no 2º turno das eleições
Diretor Geral da PRF, Inspetor Silvinei Vasques  , participa do programa Brasil em Pauta

A Polícia Federal (PF) prendeu preventivamente na manhã de quarta-feira, 9, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques no bojo de uma operação que apura suposta interferência nas eleições 2022. O aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro foi capturado em Florianópolis e deve ser transferido para Brasília

Silvinei é o alvo principal da Operação Constituição Cidadã que ainda vasculha dez endereços em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte. As ordens foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A ofensiva tem o apoio da Corregedoria Geral da PRF, que determinou que 47 agentes da corporação prestem depoimento sobre o caso.

De acordo com a PF, a “Constituição Cidadã” investiga o suposto uso da máquina pública para interferir no segundo turno do pleito do ano passado, com o direcionamento de recursos, por parte de integrantes da PRF, para dificultar o trânsito de eleitores no dia 30 de outubro de 2022.

“Os crimes apurados teriam sido planejados desde o início de outubro daquele ano, sendo que, no dia do segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste do país”, diz a corporação.

A operação mira crimes de crimes de prevaricação e violência política, previstos no Código Penal. Ainda mira delitos descritos no Código Eleitoral: “impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio” e “ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no dia da eleição o fornecimento, normalmente a todos, de utilidades, alimentação e meios de transporte, ou conceder exclusividade dos mesmos a determinado partido ou candidato”.

O nome da ofensiva, “Operação Constituição Cidadã”, faz referência à Lei Maior do País, que “garantiu a todos os cidadãos o direito ao voto, maior representação da Democracia”, ressaltou a PF.

Silvinei Vasques assumiu a chefia da PRF em abril de 2021, quando foi empossado o ex-ministro da Justiça Anderson Torres – alvo de investigação por suposta omissão ante os atos golpistas de 8 de janeiro.

O ex-diretor da PRF se aposentou em dezembro do ano passado, aos 47 anos e no apagar das luzes do governo Jair Bolsonaro, no meio de uma série de investigações sobre sua atuação em meio às eleições.
Às vésperas do pleito, ele chegou a usar sua conta para pedir o voto no então presidente Jair Bolsonaro.

Ele publicou nos stories uma foto da bandeira do Brasil e escreveu: “Vote 22, Bolsonaro presidente”.
Silvinei é alvo de investigação não só pelas blitze da PRF em meio ao segundo turno das eleições, mas também pela conduta antes os bloqueios de rodovias que ocorreram após Luiz Inácio Lula da Silva sair vitorioso das urnas.

Ele ainda é acusado de improbidade administrativa e uso indevido do cargo para beneficiar a candidatura de Bolsonaro.

A descoberta de três imagens guardadas no celular da delegada de Polícia Federal Marília Alencar, diretora de inteligência do Ministério da Justiça na gestão Anderson Torres, fez avançar a investigação que culminou na prisão.

As fotos foram tiradas no dia 17 de outubro de 2022, 13 dias antes do segundo turno do pleito. A primeira delas mostra uma folha de papel com um painel de inteligência intitulado ‘Concentração maior ou igual a 75% – Lula’. Em seguida, é disposta uma lista de municípios: Crato (CE), Paulo Afonso (BA), Iguatu (CE), Parintins (AM) Candeias (BA), Serra Talhada (PE), Quixeramobim (CE), Canindé (CE), Casa Nova (BA), Araripina (PE), Santo Amaro (BA), Pesqueira (PE), Ouricuri (PE), Barreirinhas (MA), Icó (CE), Cajazeiras (PB) e Euclides da Cunha (BA).

“Há uma coluna de votos, cujo número total é 10.073.642. Na coluna “BOLSONARO”, há indicativo de um total de 1.485.294 votos, seguida pela coluna “LULA” com número total de 7.743.713. As colunas de percentuais apontam 15,37% na coluna “% BOLSONARO” e 80,15% na coluna “% LULA”, descreveu a Polícia Federal sobre a imagem.

Segundo a corporação, no mesmo dia em que a foto foi tirada, a delegada Marília Alencar teria uma reunião com o então ministro Anderson Torres às 11h. A imagem foi capturada às 11h23, o que levou os investigadores a concluírem que a ‘fortes indícios de que esta fotografia tenha sido realizada para esta reunião’.

As outras duas imagens, tiradas antes, mostram listas de municípios de Goiás e de Minas Gerais. Na foto que trata do Estado comandado por Romeu Zema – considerado, à época do pleito, como decisivo para o segundo turno – aparecem duas colunas: uma com o total de votos do Estado e outra com o título ‘Bolsonaro’.

Ainda vasculhando os dados do celular de Marília, a PF identificou que, no dia seguinte à captura das imagens, foi modificada uma planilha com o nome ‘BA_ELEICOES’. O arquivo tinha as colunas ‘quantidade de equipes’, ‘base’, ‘total de eleitores’ e ‘alcance no Estado’.

No relatório encaminhado ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes com pedido de prisão preventiva de Silvinei Vasques, a Polícia Federal destacou o que lhe chamou atenção nos documentos encontrados no celular de Marília.

A corporação apontou que, além de as planilhas terem sido produzidas um dia após as fotografias do chamado ‘BI dos 75%’, a delegada encaminhou a seu marido, ainda no dia 18 de outubro, a seguinte mensagem: “Cara, eu tô em reunião séria do Excel no GAB”. Para os investigadores, a mensagem deixa clara que a delegada estava ‘tratando sobre os dados das planilhas em questão’ com o ministro Anderson Torres.