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Lula diz que “nunca foi tão urgente” retomar cooperação na Amazônia

Segundo Lula, a reunião de países-membros deve gerar três grandes propostas, incluindo discutir e promover uma nova visão de desenvolvimento sustentável e inclusivo na região

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09 de agosto de 2023
Vinicius Palermo
Lula diz que “nunca foi tão urgente” retomar cooperação na Amazônia
Presidente Lula participa da reunião dos Chefes de Estado e de Governo dos países signatários do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), em Belém (PA). Foto: Ricardo Stuckert/PR Foto: Ricardo Stuckert/PR

Ao abrir a Cúpula da Amazônia, em Belém, na terça-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou o que chamou de “severo agravamento da crise climática” e avaliou que nunca foi tão urgente retomar e ampliar a cooperação entre países da região. 

Em sua fala, Lula se referiu à Amazônia como patrimônio comum desses países e lembrou que, desde a assinatura do Tratado de Cooperação da Amazônia, em 1978, os chefes de Estado só se encontraram três vezes, em 1989, em 1992 e em 2009 – todas em Manaus. 

“Há 14 anos que não nos reuníamos. É a primeira vez que o fazemos aqui no Pará e a primeira vez num contexto de severo agravamento da crise climática. Nunca foi tão urgente retomar e ampliar essa cooperação. Os desafios da nossa era e as oportunidades que surgem demandam ação conjunta.” 

Segundo Lula, a reunião de países-membros deve gerar três grandes propostas, incluindo discutir e promover uma nova visão de desenvolvimento sustentável e inclusivo na região, combinando a proteção ambiental com a geração de empregos dignos e a defesa dos direitos de quem vive na Amazônia.  

“Precisaremos conciliar a proteção ambiental com a inclusão social, o fomento à ciência tecnológica e a inovação, o estímulo à economia local, o combate ao crime internacional e a valorização dos povos indígenas e de comunidades tradicionais e seus conhecimentos ancestrais.” 

Em segundo lugar, de acordo com o presidente, estão medidas para o fortalecimento da Organização do Tratado de Cooperação na Amazônia (OTCA), classificada por ele como um legado construído ao longo de quase meio século e o único bloco do mundo que nasceu com uma missão socioambiental.  

“Finalmente, fortaleceremos o lugar dos países detentores de florestas tropicais na agenda global em temas que vão do enfrentamento à mudança do clima à reforma do sistema financeiro internacional. O fato de estarmos todos juntos aqui, governo, sociedade civil e academia, estados e municípios, parlamentares e lideranças reflete a nossa intenção de trabalhar por esses três grandes objetivos.” 

“São muitas as Amazônias que estão representadas aqui. Da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, do Equador, da Guiana, do Peru, do Suriname e da Venezuela. Em seu conjunto, essas Amazônias abrigam muitas outras. Da floresta e das cidades, dos trabalhadores, das mulheres e dos jovens, dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, da cultura, da ciência e dos saberes ancestrais”, concluiu. 

O presidente confirmou os planos de criar um painel técnico-científico para a Amazônia, nos moldes da Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
“O Observatório Regional Amazônico, que reúne dados sobre temas como recursos hídricos, saúde, biodiversidade e mudança do clima, fornecerá insumos para nossas políticas públicas e iniciativas de cooperação”, disse.
Lula também defendeu o fortalecimento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e sinalizou intenção de “dotá-la de recursos próprios”. Ressaltou ainda o objetivo de revitalizar e formalizar o Parlamento Amazônico.
“A Amazônia não é e não pode ser tratada como um grande depósito de riquezas. Ela é uma incubadora de conhecimentos e tecnologias que mal começamos a dimensionar”, afirmou o presidente.

Lula reafirmou o compromisso em zerar o desmatamento na Floresta Amazônica até 2030. Em pronunciamento na Cúpula da Amazônia, o petista afirmou que, nos sete primeiros meses do ano, os alertas de desmate caíram 42,5% no bioma.
Lula pediu aos líderes da região que se unam para assegurar a preservação do bioma. Segundo o brasileiro, o objetivo é articular uma posição conjunta para ser entregue à comunidade internacional na Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP28), que acontecerá em Dubai, em outubro. “Queremos retomar a cooperação entre nossos países e superar desconfianças”, disse ele, que defendeu ainda a colaboração entre as forças armadas da região.
O presidente acrescentou que, durante séculos, sucessivos ciclos econômicos geraram “prosperidade para poucos e pobreza para muitos”. Para Lula, a sociedade teve dificuldades para encontrar um equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade. “Durante muito tempo, o mundo falou pela Amazônia; hoje, a Amazônia fala ao mundo”, disse.