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Ibovespa inicia semana em queda de 0,80%, abaixo dos 118 mil pontos

O giro foi de apenas R$ 18,1 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa passa a terreno negativo (-0,12%), mas no ano ainda sustenta avanço de 7,48%.

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10 de julho de 2023
Vinicius Palermo
Ibovespa inicia semana em queda de 0,80%, abaixo dos 118 mil pontos
O Ibovespa começou a semana em queda.

Vindo de ganho de 1,25% na sexta-feira, o Ibovespa manteve variação contida nesta primeira sessão de semana que trará novos dados de inflação nos Estados Unidos, no momento em que o mercado tenta auscultar sinais do Federal Reserve quanto aos juros americanos – e os emitidos hoje vieram no sentido de novos aumentos nos custos de crédito na maior economia do globo.

Apesar do avanço moderado que prevaleceu no fechamento de Nova York, e mais cedo também nos principais mercados da Europa, a cautela se impôs na B3, que operou em baixa desde a abertura, a 118.897,42 pontos.

Ao fim, sem catalisadores domésticos que empurrassem o Ibovespa em outra direção, o índice mostrava perda de 0,80%, aos 117 942,44 pontos, com mínima aos 117.814,49, em variação de pouco mais de mil pontos ante a abertura. O giro foi de apenas R$ 18,1 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa passa a terreno negativo (-0,12%), mas no ano ainda sustenta avanço de 7,48%.

“Dados de inflação na China – estável para o consumidor e em queda para o produtor – corroboraram a percepção de desaceleração da atividade no país asiático, que se mantém no foco de atenção dos investidores, especialmente em mercados com exposição a commodities, como o Brasil”, diz Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Assim, entre as ações de maior peso no Ibovespa, destaque para a queda de 1,53% em Vale ON nesta segunda-feira, em dia de retração de 3,46% para o minério de ferro em Dalian, na China, e de quase 4% em Cingapura.

O desempenho de Petrobras chegou a contribuir para mitigar o efeito negativo no Ibovespa, mas ao final as ações da empresa não mostravam sinal único, com a ON estável e a PN em leve alta de 0,17%, apesar do recuo em torno de 1% para o Brent e o WTI nesta segunda-feira. Na ponta negativa do índice nesta abertura de semana, destaque para nomes do varejo, como Renner (-6,46%), Magazine Luiza (-4,09%) e Via (-3,77%). No lado oposto, Azul (+3,11%), Ambev (+1,08%) e Raízen (+0,95%).

No fechamento, o índice de consumo (ICON -0,94%), com exposição ao ciclo doméstico, teve desempenho semelhante ao do índice de materiais básicos (IMAT -0,87%), correlacionado a preços e demanda formados fora do Brasil. Entre os grandes bancos, as perdas do dia chegaram a 1,84% (BB ON) no fechamento, à exceção de Bradesco (ON +0,07%, PN +0,06%).

“Nos Estados Unidos, as bolsas americanas operaram entre perdas e ganhos, em semana que marca o início da temporada de resultados do segundo trimestre. Empresas do setor financeiro como BlackRock, JPMorgan Chase, Wells Fargo e Citi irão divulgar balanços no decorrer da semana”, diz Vanessa Naissinger, especialista da Rico Investimentos.

Por lá, a presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, afirmou hoje que não acredita que os juros americanos estão restritivos o suficiente, de forma que deverão subir mais para conseguir controlar a pressão dos preços e trazer a inflação de volta à meta de 2%. Falando em evento na Universidade da Califórnia, ela destacou ainda que o Fed está mais perto do fim do ciclo de aperto monetário do que do início, mas ressaltou que o banco central americano está comprometido em trazer a estabilidade de preços de volta.

Por outro lado, nos Estados Unidos, as expectativas de inflação de um ano caíram pelo terceiro mês consecutivo, de 4,1% em maio para 3,8% em junho, segundo pesquisa do Federal Reserve de Nova York divulgada nesta segunda-feira. Foi a menor leitura desde abril de 2021, e três pontos porcentuais menor que as de junho de 2022.

Por sua vez, a presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, disse que é cedo para comemorar o fim da inflação alta nos EUA, e que as projeções que defendem mais dois aumentos de juros pela autoridade monetária até o fim de 2023 são “realistas e razoáveis”. O aperto monetário, segundo ela, aparenta estar na etapa final.

Aqui, em outro ponto de destaque na agenda da semana, os investidores conhecerão amanhã, antes da abertura dos negócios, o IPCA de junho.

Em relatório, a equipe de pesquisa global do Bank of America (BofA) destaca que a América Latina está em “posição privilegiada” em comparação ao restante dos mercados emergentes. “Há pouca exposição a conflitos geopolíticos, e Brasil e Chile podem estar entre os primeiros países a cortar juros”, observa o BofA, acrescentando que a inflação em ambos já está em rápido declínio. “Os mercados de ações no Chile têm avançado desde o quarto trimestre de 2022; no Brasil, vêm em recuperação desde abril”, nota o banco americano.

Mas o BofA destaca também que, para o Brasil, uma questão-chave é quem estará na ponta compradora daqui para frente. “Vimos fracas entradas de fluxo estrangeiro durante a maior parte desse rali de recuperação, e os fundos de ações locais continuam a apresentar resgates desde que os fluxos chegaram a um pico em setembro de 2021”, acrescenta o banco, no relatório.

Ainda assim, o BofA observa que o rali desde o fim de abril trouxe valorização de 17% para o Ibovespa, comparado a um avanço médio de apenas 2% para os mercados emergentes, em dólar.

“A inflação abaixo do esperado contribuiu para declínio dos juros e para o prosseguimento do movimento de recuperação das ações, no Brasil”, acrescenta o relatório, em que o BofA observa também que o Ibovespa, excluindo commodities, está sendo negociado agora com apenas 5% de desconto em relação ao padrão histórico, comparado a um desconto de 26% nas mínimas de 2023.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 10, em alta de 0,34% em relação ao real, cotado em R$ 4,8825, em realização parcial de lucros após as quedas acumuladas em junho (-5,59%) e na última sexta-feira, 7 (-1,30%), quando a Câmara aprovou a reforma tributária. Dados de inflação menores que o esperado na China ajudaram a balizar o movimento, enquanto investidores recompunham posições defensivas em câmbio.

Somados às quedas em torno de 1% dos preços de petróleo, esses fatores mantiveram o dólar em alta ante o real durante praticamente toda a sessão. Em meio à agenda esvaziada do dia e à espera pelo IPCA de junho nesta terça-feira, 11, e pela inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos na quarta-feira, 12, a moeda oscilou menos de quatro centavos entre a mínima de R$ 4,8563 (-0,20%) e a máxima de R$ 4,8924 (+0,54%).

A queda interanual de 5,4% dos preços ao produtor (PPI) da China em maio, maior baixa em oito anos, adicionou incertezas sobre o ritmo de crescimento econômico do gigante asiático e pressionou os preços do petróleo e do minério de ferro (-3,46%). Enquanto isso, a baixa das expectativas de inflação de um ano nos Estados Unidos levou a um recuo de 0,30% do índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de moedas fortes.

Juros

Os juros futuros fecharam em leve alta, em movimento de correção viabilizado pelo noticiário escasso e agenda esvaziada. O ambiente externo, hoje de indefinição, não serviu de parâmetro, com retornos dos Treasuries em desempenho misto, assim como o comportamento do dólar ante moedas emergentes. A liquidez foi fraca, refletindo ainda o compasso de espera pela agenda da semana, com dados de inflação aqui e no exterior.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,82%, de 12,779% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,68% para 10,77%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,16%, de 10,10%. A do DI para janeiro de 2029 avançou de 10,44% para 10,50%.

Após as taxas terem recuado na sexta-feira, a disposição para alguma recomposição dos prêmios foi vista hoje desde a abertura, quando o ambiente internacional já estava nublado e o dólar operava pressionado ante o real. Mas, sem uma referência forte, a trajetória altista era limitada também pela perspectiva de IPCA amanhã e, na sequência, pela divulgação dos índices de inflação ao consumidor e ao produtor dos Estados Unidos (CPI e PPI, em inglês), que não recomendavam assumir posições mais firmes.