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Bolsonaro diz que ficou ‘chateado’ por apoio de Tarcísio à reforma tributária

Aliado de Bolsonaro, o chefe do Executivo paulista disse que concorda com “95%” do texto da reforma tributária.

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07 de julho de 2023
Vinicius Palermo
Bolsonaro diz que ficou ‘chateado’ por apoio de Tarcísio à reforma tributária
Bolsonaro expôs a insatisfação com o diálogo entre o governador de SP e o governo federal

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou na quinta-feira, 6, que “ficou chateado” com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pelo apoio público ao texto da reforma tributária. Aliado de Bolsonaro, o chefe do Executivo paulista disse que concorda com “95%” do texto da reforma após se encontrar com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

“Ontem (quarta, 5), muita gente ficou chateada com o Tarcísio, até eu. Mas vamos conversar, pô. Conversei com ele”, afirma.

O ex-ministro de Bolsonaro, considerado seu herdeiro na política após a inelegibilidade, foi hostilizado na quinta-feira em uma reunião do PL, o partido do ex-presidente, após costurar um acordo com o governo Lula para aprovar a reforma tributária.

“O Tarcísio não tem, com todo o respeito, uma experiência política que muitos de vocês têm. Nós não queremos, nesta proposta que tá aí, dizer que vai ser melhorada por emendas. Não tem garantia nenhuma de aprovação. O que o Tarcísio está expondo e eu conversei longamente com ele, é essas possíveis emendas entrarem agora no corpo da PEC”, afirmou Bolsonaro durante a reunião com integrantes do PL.

De acordo com relatos da reunião do PL, Tarcísio foi interrompido várias vezes pelo deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP). O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, teve de intervir.
Bolsonaro, por sua vez, afirmou durante o encontro que Tarcísio não tem experiência política, o que expõe seu descontentamento com o afilhado político.

Tarcísio chegou a ser aplaudido ao defender que a reforma tem de ser de Estado, e não de governo. Também agradou ao dizer que não defende a votação do texto na quinta-feira.

Na quarta-feira, após se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Tarcísio decidiu manifestar apoio ao texto da reforma tributária – que tem Bolsonaro como uma das principais vozes contrárias. O movimento do governador, que pediu poucos ajustes no texto, irritou o PL e as figuras mais leais ao ex-presidente. Bolsonaro tenta transformar o embate em torno da reforma tributária na nova guerra entre oposição e governo.

“A gente tem falado que a espinha dorsal da reforma – a tributação sobre base ampla, o princípio do destino, que é fundamental, a transição federativa – sempre teve a concordância de São Paulo. O que a gente sempre ponderou foram questões pontuais, ou seja, a gente concorda com 95% da reforma”, disse o ex-ministro da Infraestrutura.

O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) fez ataques diretos a Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante a reunião em que o governador de São Paulo foi criticado por Bolsonaro e hostilizado por aliados após apoiar a proposta de reforma tributária do governo Lula.

Em tom estridente, Salles disse que o governador não representa a direita brasileira e faz uma gestão em São Paulo que não segue os princípios deste espectro político. “Ser de direita não é um discurso, é uma conduta. Se tem um lugar no Brasil que não tem um governo de direita, é o governo de São Paulo”, atacou Salles na reunião, sem a presença do governador, conforme vídeo do discurso obtido pela reportagem.

“Não vem aqui dizer, colocar faixa de representante da direita, porque não é. Temos nossas próprias convicções, próprios princípios. Nós não queremos e não seremos representados por alguém que se diz de direita e depois, na hora de governar o Estado para o qual foi designado pelo presidente, não governa como alguém de direita. Acabou essa brincadeira”, criticou o deputado, arrancando aplausos de participantes da reunião.

Salles ironizou a passagem de Tarcísio como ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro e disse que a atuação dele não serviu para “combater a esquerda”. “Dos seus ministros, um dos que mais apanhou no seu governo fui eu, porque estava em um dos ministérios cujo objetivo é enfrentar a esquerda. É muito mais fácil fazer estrada, ponte, ferrovia do que combater a esquerda.”

O deputado também questionou a relação de Tarcísio com o ex-presidente, seu padrinho político e principal cabo eleitoral da vitoriosa candidatura ao governo de São Paulo em 2022. “Muitos de nós aqui temos ao presidente Bolsonaro uma lealdade verdadeira”, afirmou, em referência a pessoas que estavam no encontro.

Em mais um indicativo da insatisfação de bolsonaristas com a posição de Tarcísio a favor da reforma, o deputado disse que o governador não foi autorizado a atuar como interlocutor do PL nas negociações para votação do texto. Afirmou ainda que ele entende pouco de reforma tributária. “Ao contrário do que foi dito aqui, o Luiz Phillipe de Orleans e Bragança entende muito mais de reforma tributária que o Tarcísio. Se tem alguém para nos representar nessa discussão com o relator, é o Luiz Phillipe. Ele vai nos dar sinal se estamos de acordo com cada um dos critérios.”

As críticas de Salles, um dos representantes mais proeminentes da extrema-direita brasileira, mostram o estremecimento nas relações entre o bolsonarismo e Tarcísio.