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Papa discute com Lula situação política da América Latina

Outro tema debatido no encontro entre Lula e o Papa Francisco foi a guerra na Ucrânia e as iniciativas de mediação da paz que ambos propõem.

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22 de junho de 2023
Vinicius Palermo
Papa discute com Lula situação política da América Latina
Presidente Lula e a primeira-dama Janja encontram-se com papa Francisco, no Vaticano. Ricardo Stuckert/PR

O papa Francisco e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conversaram na quarta-feira, dia 21, sobre a situação política na América Latina. A informação consta de comunicado oficial divulgado pelo Vaticano, após a audiência entre eles. Outro tema foi a guerra na Ucrânia e as iniciativas de mediação da paz que ambos propõem.

O papa Francisco já recebeu a visita do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e enviou um representante a Kiev. Moscou acenou positivamente e disse que o presidente Vladimir Putin aprecia a posição “equilibrada” do papa e se dispôs a receber um membro da Cúria Romana.

“Houve uma troca positiva de pontos de vista sobre a situação sociopolítica da Região e foram abordados alguns temas de interesse comum, como a promoção da paz e da reconciliação, a luta contra a pobreza e as desigualdades, o respeito às populações indígenas e a proteção do meio ambiente”, informou um boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé.

No Vaticano, Lula convidou o Papa a fazer uma nova visita ao Brasil, para assistir à tradicional festa do Círio de Nazaré, em Belém (PA), no mês de outubro. A primeira viagem internacional do pontífice após assumir o cargo, em 2013, foi para o Rio de Janeiro.

Além do papa, o presidente Lula conversou com o arcebispo Edgar Parra Peña, secretário de Estado substituto para Assuntos Gerais. Ele fez a função de chanceler da Santa Sé.

“Durante os encontros cordiais, manifestou-se o apreço pelas boas relações entre o Brasil e a Santa Sé, destacando-se a colaboração harmoniosa entre a Igreja e o Estado em prol da promoção dos valores morais e do bem comum”, disse o Vaticano.

A repressão à presença da Igreja Católica na Nicarágua era parte da agenda prioritária para o conversa do papa com Lula. A Santa Sé não tem mais um núncio apostólico, representante diplomático do papa, no país da América Central, governado pelo ditador Daniel Ortega.

Além disso, preocupam o papa as situações de outros dois governos autoritários com os quais Lula mantém laços próximos, Cuba e Venezuela, com restrição a direitos humanos e políticos de opositores. O papa se reuniu na véspera com o presidente cubano Miguel Díaz-Canel. O líder da ilha comunista conversará agora com Lula em Paris, na França.

O presidente da República reuniu-se também, pela primeira vez com a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. O encontro ocorreu na sede do governo italiano, o Palácio de Chigi.

Governante de um partido de direta mais radical na Itália, ela tem divergências políticas explícitas com Lula, mas diplomatas responsáveis pela ligação dos dois países descreveram que o encontro seria uma oportunidade de “normalização” da relação.

Os italianos se queixam de manifestações de Lula associando a Itália a um “país fascista”, em data próxima à vitória eleitoral de Meloni, no ano passado. Além disso, Lula tem a marca de ter barrado a extradição do assassino confesso Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua no país por quatro assassinatos.

Os dois países mantêm uma parceria estratégica e forte colaboração, além do intercâmbio cultural e da comunidade italiana presente no Brasil. São cerca de 30 milhões de descendentes, segundo o governo federal.

Há ainda forte colaboração em matéria de Defesa, especialmente no fornecimento e desenvolvimento de viaturas blindadas para o Exército Brasileiro e empresas italianas. Brasil e Itália – assim como o restante da União Europeia – divergem na abordagem para a guerra na Ucrânia.

O presidente se reuniu também com o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri. O encontro ocorreu no gabinete da prefeitura e teve caráter pessoal, uma vez que Gualtieri foi uma das personalidades internacionais que visitaram Lula durante o período em que o ex-presidente esteve preso em Curitiba, entre 2018 e 2019, no âmbito da Operação Lava Jato. Na época da visita, em julho de 2018, Gualtieri exercia mandato de eurodeputado pelo Partido Democrático Italiano.

“É uma visita de agradecimento, de expressar minha gratidão pela lealdade, solidariedade e pelo comportamento do prefeito Gualtieri quando eu estava detido na Polícia Federal do meu país”, afirmou Lula, em tom emocionado. “Além de amigo, sou um torcedor fervoroso de que ele faça uma extraordinária administração na cidade de Roma”, acrescentou o presidente.

Roberto Gualtieri também se dirigiu a Lula como um amigo e ressaltou o peso internacional da imagem do presidente brasileiro. “Para mim, foi uma verdadeira felicidade esse encontro, encontrar um verdadeiro amigo e ver uma personalidade tão importante para mim, para o governo de Roma e para um desenvolvimento mais justo e social do mundo”, afirmou o prefeito de Roma.

Em sua primeira reunião do dia, em Roma, o presidente Lula se encontrou com o ex-primeiro-ministro italiano Massimo D’Alema. Os dois conversaram sobre a conjuntura política do Brasil e da esquerda europeia e da social-democracia na Europa.

Em seguida, ele teve reunião com a secretária-geral do Partido Democrático Italiano, Elly Schlein, uma das líderes da oposição no parlamento local, de 38 anos. Com ela, Lula falou sobre as conjunturas políticas na Itália e no Brasil e sobre a necessidade de uma maior união entre legendas progressistas pelo mundo.

Na sequência, ele foi recebido pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella, no Palácio Quirinale. Os dois conversaram sobre o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, sobre a aproximação entre as universidades e a ampliação do intercâmbio comercial entre os dois países. Brasil e Itália assinaram acordo de Parceria Estratégica em 2007, durante o segundo mandato do presidente Lula. Em 2010, entrou em vigor um plano de ação que destacava 16 áreas-chave de cooperação entre os dois países.

Lula chegou a Roma na manhã de terça-feira (20) e o primeiro compromisso na capital italiana foi com o sociólogo Domenico de Masi, referência internacional em estudos sobre a sociologia do trabalho. Autor do livro Ócio Criativo, de Masi tornou-se famoso pelo conceito segundo o qual o ócio é um fator que estimula a criatividade pessoal. Assim como Roberto Gualtieri, Domenico de Mais também visitou Lula na prisão em Curitiba. No encontro, os dois conversaram sobre o cenário político no Brasil e na Europa.

Na quarta-feira (22), Lula embarca para Paris. Na capital francesa, ele participa da Cúpula sobre o Novo Pacto Global de Financiamento e terá encontro bilateral com o presidente da França, Emmanuel Macron. Ele também tem encontros bilaterais previstos com líderes da África do Sul e Cuba.