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Bistecas

Dino manda PF investigar compra do governo Bolsonaro nunca entregue a indígenas

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou na terça-feira, 16, que a Polícia Federal (PF) instaurou um inquérito.

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16 de maio de 2023
Vinicius Palermo
Dino manda PF investigar compra do governo Bolsonaro nunca entregue a indígenas
O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou na terça-feira, 16, que a Polícia Federal (PF) instaurou um inquérito para apurar a compra de 19 toneladas de bistecas congeladas para indígenas no governo Jair Bolsonaro que nunca foram entregues.

O governo Bolsonaro comprou 19 toneladas de bisteca para compor cestas básicas que deveriam ser enviadas ao Vale do Javari, no Alto Solimões (AM), mas a carne congelada nunca foi de fato entregue às comunidades indígenas. Mesmo se o produto tivesse sido entregue, não haveria local de armazenamento e conservação para acomodar o alimento. Os contratos foram assinados no governo Bolsonaro entre 2020 e 2022 e seguem em vigor na atual gestão do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

O sumiço das bistecas foi confirmado pelos indígenas que deveriam receber o produto e por uma das empresas contratadas para entregar a carne. Mislene Metchacuna Martins Mendes, atual diretora de administração e gestão da Funai, que assinou o contrato de compra, admitiu desperdício de dinheiro público na aquisição. Ela afirmou que a Funai ignorou alerta dos técnicos sobre os produtos, mas disse que “a ordem era entregar”.

A gestão passada desrespeitou recomendações técnicas da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e pagou R$ 4,4 milhões para adquirir sardinha enlatada e linguiça calabresa para enviar ao Território Indigena Yanomami no meio de uma crise humanitária. Os alimentos, contudo, não são tradicionalmente consumidos pelos indígenas e a falta de hábito do consumo podem gerar doenças.

O governo Bolsonaro pagou R$ 260 o quilo da carne de pescoço de frango também para enviar a indígenas. Da mesma forma, não há comprovação de que os alimentos foram entregues.

Os contratos da bisteca seguem em vigor no governo Lula. A Funai informou que mandou averiguar as compras. O comando da Funai no governo Bolsonaro foi procurado, mas não se manifestou.

Após deflagração de operação na Terra Indígena (TI) Karipuna, em Rondônia, resultado de articulação interministerial, os indígenas que vivem no local temem sofrer retaliação por parte dos invasores, tão logo os agentes se retirem do local.

A ação teve início na última quinta-feira (11) e conta com a atuação da Polícia Federal, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Adriano Karipuna, um dos líderes que fazem a defesa do território, acredita que a segurança da comunidade pode ser mantida com vigilância constante, tanto terrestre como fluvial, e a reativação do posto que a Funai mantinha na TI, que deixou de funcionar em 2017, por reação dos invasores, que o incendiaram.

Os Karipuna de Rondônia – que não têm relação com os do Amapá – têm, atualmente, uma população de 62 pessoas. O número reduzido evidencia a agressividade que a presença de não indígenas em sua terra, homologada em 1998, representa para os indígenas desta etnia.

Em entrevista, o líder karipuna informou que os intrusos destruíram uma ponte que dava acesso ao território indígena, através do distrito de União Bandeirantes, município de Porto Velho. “Por essa razão é que temos receio. Como é que vai ficar depois?”, questionou, com preocupação.

“Não adianta cumprir aquela fase e os karipuna ficarem sozinhos, de novo, como diz o senso comum, apagando fogo. Para continuar a proteção, eles têm que continuar fazendo a fiscalização e vigilância”, acrescentou.

Para Adriano, é igualmente fundamental a convocação de um efetivo que saiba lidar com problemas típicos de fronteira – a TI Karipuna fica próxima à fronteira do Brasil com a Bolívia.

Outro aspecto abordado pela liderança karipuna é a necessidade de reconstrução de 12 casas de sua única aldeia, a Panorama, que tiveram a estrutura abalada após enchentes, sendo a última delas em março deste ano. Segundo Adriano, com a destruição das casas na primeira enchente, em 2014, muitas famílias deixaram a aldeia e não voltaram.