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Juros altos

FMI vê como ‘urgente’ que EUA tenham acordo no teto da dívida e alerta para efeitos globais

O FMI falou sobre o timing das discussões sobre a elevação do teto da dívida entre políticos nos Estados Unidos.

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12 de maio de 2023
Vinicius Palermo
FMI vê como ‘urgente’ que EUA tenham acordo no teto da dívida e alerta para efeitos globais
O diretor do Departamento Europeu do FMI, Alfred Kammer, afirma que subsídios de apoio à transição verde são benéficos onde há falhas de mercado.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) destacou o fato de que as discussões sobre a elevação do teto da dívida entre políticos nos Estados Unidos ocorrem “em um momento muito difícil para a economia global”. Porta-voz do FMI, Julie Kozack alertou na quinta-feira, 11, em entrevista coletiva que haveria “efeitos muito negativos”, para os EUA, mas também para a economia global, caso ocorra um default da dívida americana como resultado do impasse entre o governo do presidente Joe Biden e a oposição republicana no Congresso.

Ela enfatizou que seria “urgente” haver uma solução nesse tema. A porta-voz disse que uma das repercussões potenciais do impasse seriam juros mais altos, bem como maior instabilidade, com repercussões na economia global, que “poderiam incluir custos mais altos de empréstimos”. E recordou que há países, sobretudo com vulnerabilidades na dívida, que já enfrentam quadro mais delicado com o aperto monetário global. “Pedimos que todos os lados se reúnam e trabalhem para resolver a questão o mais rápido possível”, disse.

Kozack foi questionada também sobre turbulências recentes em bancos regionais americanos. Ela recordou que a transição para juros mais altos “ocorreu muito rápido, o que tem exposto algumas vulnerabilidades em bancos, particularmente nos EUA”.

Segundo ela, as autoridades têm adotado medidas “bem-vindas” para controlar o quadro. Mas a porta-voz complementou que “é preciso seguir vigilante sobre o tema, nesse ambiente de juros altos”.

Em outro momento, a porta-voz foi questionada sobre a eventual emissão de moedas digitais de bancos centrais (CBDC, na sigla em inglês). Ela afirmou que essa decisão é “muito específica de cada país”, mas também notou que “pode haver benefícios para alguns países” na adoção desse instrumento.

Já sobre criptomoedas, ela lembrou que o FMI não apoia o uso por países dessa alternativa como moeda de curto legal. O Fundo analisou a questão no ano passado, recordou. “Isso é diferente de meios digitais de pagamentos”, ou de almejar “meios eficazes para pagamentos digitais”, explicou.

A diretora afirmou ainda que a Argentina enfrenta uma situação “muito desafiadora e complexa”. Segundo ela, o Fundo continua em contato com autoridades locais, a fim de realizar a quinta revisão do pacote de ajuda para o país, que está sendo renegociado.

Kozack não se comprometeu com prazos para uma potencial conclusão dessas conversas, dizendo apenas que “comunicaremos mais sobre isso no momento devido”.

Ela disse que tem havido “boas discussões” com as autoridades, em reuniões por enquanto virtuais, e também ressaltou o fato de que o Fundo tem levado em conta os efeitos da “seca histórica” que “exacerba” a situação desafiadora para o país.

A porta-voz não comentou, porém, sobre potencial divergência entre o governo do presidente Alberto Fernández e o FMI em alguns pontos, como câmbio flutuante, com Buenos Aires dizendo que pretende manter algum controle sobre o câmbio.

O diretor do Departamento Europeu do FMI, Alfred Kammer, afirma que subsídios de apoio à transição verde são benéficos onde há falhas de mercado. Kammer alertou, no entanto, para o risco de uma eventual “corrida” entre as maiores economias globais para atrair investimento verde.

“Quando as emissões de carbono são subprecificadas em relação ao seu verdadeiro custo para a sociedade, ou quando soluções políticas preferíveis (como precificação de carbono) não estão em vigor, subsídios podem orientar empresas e consumidores em direção a tecnologias limpas menos poluentes, ao mesmo tempo que reduzem os custos dessas tecnologias”, escreveu o diretor, em artigo publicado na quinta-feira.

Ele defendeu, porém, que uma corrida entre as maiores economias poderia “minar a igualdade de condições no comércio global, contribuir para a fragmentação geoeconômica e impor grandes custos fiscais”.

“Nações mais ricas com poder fiscal maior podem sair como vencedoras em uma corrida de subsídios, mesmo se a economia global ficar pior. Seria particularmente difícil para mercados emergentes e economias em desenvolvimento com recursos fiscais mais escassos competir por investimentos com economias avançadas em um mundo mais protecionista”, ponderou.

Isso também atrapalharia a transferência de tecnologia a esses países e, em última análise, a transição verde poderia ficar mais cara, disse.

Kammer fez recomendações para os formuladores de política responsáveis pelo desenvolvimento do Green Deal da União Europeia (UE), o projeto da Comissão Europeia que relaxa regras de competição temporariamente para permitir subsídios a empresas que usam tecnologia limpa, como definiu.

O dirigente afirmou que preservar a integridade do mercado único da UE é fundamental, defendendo que o relaxamento deve ser limitado, e que deve haver financiamento voltado para nivelar a habilidade dos Estados-membros de conceder incentivos.

Ele disse ainda que um progresso mais rápido na adoção da União de Mercados de Capitais (CMU, na sigla em inglês) deve continuar sendo prioridade, pois “ajudaria a assegurar um financiamento do setor privado suficiente para a transição verde no bloco”.