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Questão humanitária

Haddad pede ajuda a Yellen no socorro à Argentina

O ministro Fernando Haddad ainda destacou que a união entre Brasil e Estados Unidos nesse tema seria um facilitador para as negociações.

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12 de maio de 2023
Vinicius Palermo
Haddad pede ajuda a Yellen no socorro à Argentina
O ministro Fernando Haddad se reuniu com a secretária do Tesouro dos EUA Janet Yellen.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pediu ajuda à secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, no socorro à Argentina. Em reunião bilateral em Niigata, no Japão, na véspera do G-7 Financeiro, Haddad disse à contraparte americana que se trata de uma questão humanitária. Ele ainda destacou que a união entre Brasil e Estados Unidos nesse tema seria um facilitador para as negociações.

“Estamos muito preocupados com o que está acontecendo com a nossa vizinha Argentina. E uma das coisas que me traz ao G-7, por recomendação do presidente Lula, é sensibilizar o G-7 e o G-20 para as condições específicas da Argentina nesse momento. Nós trazemos essa preocupação por uma questão humanitária bastante evidente”, declarou o ministro da Fazenda a Yellen, na parte da reunião que pôde ser acompanhada pela imprensa.

Haddad relatou à secretária do Tesouro americano a falta de divisas na Argentina “por razões históricas que vinham se acumulando” e as secas recentes, que afetaram as exportações. Também destacou que é ano eleitoral no país vizinho. “Estamos preocupados com o destino político na Argentina”, afirmou o ministro a Yellen, ao citar a postura violenta de grupos de extrema-direita na América do Sul.

Após o encontro, que durou das 15h47 às 16h23, pelo horário do Japão, Haddad afirmou a jornalistas que Yellen “se surpreendeu” com o tema abordado na bilateral, a Argentina, e se comprometeu a analisar as considerações.

A intercessão brasileira em nome da economia argentina acontece semanas após o presidente da Argentina, Alberto Fernández, visitar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada. Na ocasião, o petista se comprometeu a trabalhar para convencer o Fundo Monetário Internacional (FMI) a “tirar a faca do pescoço” da Argentina. “A solução para Argentina passa pelo FMI”, destacou Haddad.

Para além da identificação ideológica, o governo brasileiro quer ajudar a Argentina no campo da economia em ano eleitoral para evitar uma queda nas exportações ao país vizinho que leve ao enfraquecimento da atividade nacional. Os dois países estudam formas de financiar as exportações à Argentina, mas esbarram na garantia à política creditícia.

Haddad relatou ainda que os empresários japoneses com os quais se encontrou estão interessados na aprovação de um acordo comercial entre Mercosul e Japão.

“O acordo Mercosul-Japão está na ordem do dia para os empresários japoneses, que se interessam por esse acordo e querem que o governo japonês tenha um olhar interessado, particular para as exportações vindas do Brasil para cá”, disse o ministro a jornalistas em Niigata, Japão, cidade-sede do G-7 financeiro.

De acordo com o ministro, que destacou as relações históricas entre Brasil e Argentina, o encontro com os empresários japoneses também tratou da reforma tributária para melhorar o ambiente de negócios brasileiro, de forma a fortalecer os investimentos vindos do país asiático.

“Falamos muito da reforma tributária, interessa demais aos investidores japoneses por uma série de problemas complexos que serão simplificados pela reforma, como também das exportações brasileiras ao Japão. Queremos manter a nossa quota-parte no mercado japonês”, declarou Haddad.

Haddad afirmou também que uma das pautas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua participação no G-7 da próxima semana é a situação econômica da Argentina. O Brasil tem mobilizado esforços no socorro à nação vizinha.

“Uma das razões pelas quais o presidente Lula está vindo ao G-7 é para tratar desse assunto. Para nós, é uma questão fundamental que esse problema seja endereçado. E o presidente Lula virá na próxima semana com a mesma preocupação, estou antecipando o que ele próprio, de viva-voz, vai trazer”, declarou o ministro após se encontrar com a secretária do Tesouro americano.

Haddad está em Niigata para o G7 Financeiro, marcado para sexta-feira, 12, e retorna ao Brasil no sábado (13). Lula, por sua vez, irá a Hiroshima na semana que vem para o G-7 presidencial. O Grupo dos Sete é formado por Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Itália, Alemanha e Japão. O Brasil participa dos encontros na condição de convidado.

O ministro da Fazenda disse também ter manifestado à secretária do Tesouro americano a disposição do Brasil em se aproximar mais dos Estados Unidos. Haddad destacou que Yellen não faz “objeções” à aproximação do Brasil com a China, apesar das tensões sino-americanas. “Uma das coisas que a secretária deixou claro é que ela não faz nenhuma objeção aos acordos comerciais que o Brasil faz, com a aproximação do Brasil com a China, em relação às parcerias estabelecidas. Mas eu manifestei nosso desejo de nos aproximarmos mais dos Estados Unidos”, disse o ministro. “Deveríamos estar preocupados com a integração das Américas”, acrescentou.

Ao comentar a relação do Brasil com a China, Haddad voltou a defender a ideia do presidente de se incrementar o uso de moedas locais em trocas comerciais, sem que seja preciso recorrer a uma terceira divisa – no caso, o dólar.

Questionado por jornalistas americanos se o Brasil tem alguma preocupação com a possibilidade de o governo americano dar um calote na dívida, Haddad negou. “Os Estados Unidos são a maior economia do mundo e a questão da dívida será devidamente endereçada”, destacou.

A tensão em torno da dívida americana se dá diante da dificuldade de Casa Branca e Congresso chegarem a um acordo sobre a elevação do teto da dívida.

Na véspera de sua participação no G-7 financeiro, Haddad afirmou que a “sintonia” do G-7 e do G-20 é importante para “a continuidade dos trabalhos”. No ano que vem, o Brasil vai presidir o G-20.