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Lula propõe erradicar a fome como prioridade da agenda internacional

Lula discorreu sobre a cooperação entre os dois países e a necessidade de preservação da paz, citando a guerra entre a Rússia e Ucrânia.

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27 de abril de 2023
Vinicius Palermo
Lula propõe erradicar a fome como prioridade da agenda internacional
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama, Janja Lula da Silva, são recebidos pelo rei da Espanha, Felipe VI, no Palácio Real, em Madri. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, na quarta-feira (26), que é preciso recolocar, como prioridade, na agenda internacional, a erradicação da fome e da pobreza. Lula está em viagem oficial à Espanha e participou de almoço oferecido pelo rei Felipe VI, no Palácio Real, em Madri.

Em seu breve discurso, ele discorreu sobre a cooperação entre os dois países e a necessidade de preservação da paz, citando a guerra entre a Rússia e Ucrânia.

“Brasileiros e espanhóis estão comprometidos com o desenvolvimento sustentável e com as transições energéticas e ecológicas. Compartilhamos a urgência de agir para proteger o meio ambiente e combater as mudanças climáticas. Também é momento para recolocar como prioridade no centro da agenda internacional a erradicação da fome e da pobreza. Não haverá sustentabilidade sem justiça social, tampouco haverá sustentabilidade no mundo em guerra”, disse.

Lula voltou a condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia. “Queremos abrir caminhos para o diálogo e não obstruir as saídas que as diplomacias oferecem. Sem o cessar-fogo não é possível avançar. Essa guerra no coração da Europa é uma tragédia para a humanidade. O mundo precisa de paz, o mundo também precisa de solidariedade”, acrescentou.

Desde que tomou posse, o presidente brasileiro defende a criação de um grupo de países neutros para negociar o fim do conflito entre Rússia e Ucrânia. Em viagem à China, no início deste mês, Lula chegou a criticar os Estados Unidos e países da União Europeia (EU) por estarem “incentivando a guerra” com o fornecimento de armas aos ucranianos. Agora, na Europa, o presidente vem reafirmando seu apoio à solução negociada para a paz na Ucrânia

Lula está em viagem oficial à Europa desde sexta-feira (21). A agenda começou por Portugal e, na terça-feira (26), a comitiva brasileira desembarcou em Madri. Na capital espanhola, o presidente se reuniu com lideranças sindicais e participou de um fórum de empresários. Na quarta-feira, já esteve com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, em cerimônia de assinatura de atos no Palácio de Moncloa e, na sequência, seguiu para o almoço no Palácio Real.

O presidente lembrou que a Espanha é o segundo maior investidor estrangeiro no país, atrás dos Estados Unidos, e que o Brasil abriga mais de mil empresas espanholas em diversos setores, como finanças, telecomunicações, construção civil, infraestrutura e turismo. Entre essas empresas estão a Telefônica e o Banco Santander.

“Retorno à Espanha empenhado em relançar a parceria estratégica que tivemos a honra de estabelecer há 20 anos. Além de nosso patrimônio de cooperação e afinidades culturais e linguísticas, temos também uma relação política e econômica de alta importância. Somos duas grandes democracias, nosso comércio bilateral chega a quase US$ 15 bilhões e tem demonstrado um grande dinamismo”, disse Lula.

Lula e Sánchez assinam três memorandos resultantes das conversas e negociações ocorridas nesta visita do governo brasileiro. O primeiro é um memorando de entendimento entre o Ministério de Universidades do Reino da Espanha e o Ministério da Educação da República Federativa do Brasil sobre cooperação no ensino superior universitário.

Será assinado também um memorando de entendimento sobre cooperação entre o Ministério do Trabalho e Economia Social do Reino de Espanha e o Ministério do Trabalho e Emprego da República Federativa do Brasil.

Além disso, há uma carta de intenções na área de ciência, tecnologia e inovação entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação da República Federativa do Brasil, O Ministério de Ciência e Inovação do Reino da Espanha, a financiadora de estudos e projetos, o Centro Para o Desenvolvimento Tecnológico Industrial do Reino da Espanha.

O presidente do governo espanhol confirmou a disposição de trabalhar para que a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia (UE) se concretize ainda este ano. Para Sánchez, o momento de grandes desafios que vive o mundo é propicio para que a parceria entre os dois blocos se concretize.

“O momento é de incertezas e de oportunidades, e o Brasil e Espanha compartilham de várias visões, como a urgência em trabalhar questões climáticas e ambientais. Se temos uma oportunidade, ela é agora, a Europa precisa de aliados. Vamos trabalhar para superar dúvidas de alguns países”, disse Sánchez, acrescentando que seu compromisso com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, é trabalhar para atingir o acordo Mercosul-UE.

Segundo Sánchez, são poucos os pontos em que precisa haver ajustes até que se firme o acordo e a disposição é estreitar as relações entre os dois blocos.

O presidente de governo da Espanha lembrou que o país é o segundo investidor estrangeiro no Brasil e disse que os acordos firmados na quarta são uma continuidade depois de o Brasil ter ficado ausente do cenário internacional por anos.

“O Brasil é uma potência e não ouvimos a sua voz por muitos anos”, afirmou Sánchez disse ainda que “vimos o Brasil e os EUA passarem por barbáries contra o estado democrático e damos extrema importância a esta visita”.

Lula afirmou que, se fosse fácil fechar o acordo Mercosul com a União Europeia, isso “já teria sido feito”. Ele lembrou que o desfecho para essa negociação já esteve perto muitas vezes e citou vários momentos em seus governos passados onde isso ocorreu. “O acordo mexe com os interesses da sociedade”, justificou Lula. Segundo o presidente brasileiro, o acerto feito pelo governo Bolsonaro é inaceitável porque impõe punição. “A proposta é inaceitável porque impõe punição e não podemos aceitar”, disse Lula, acrescentando que tem interesse em assinar o documento.

A Espanha vai presidir a União Europeia no segundo semestre deste ano em substituição à Suécia e, na percepção do presidente da República, isso aumenta a chance de sucesso.

“Tenho interesse em fechar, mas todos têm que estar de acordo e tem que todo mundo ganhar. No ganha-ganha é que podemos fazer um bom acordo”, disse Lula. Lula disse que gostaria que o banco dos Brics “se transforme num grande banco de investimentos, se possível maior que o Banco Mundial”.

“Sem dinheiro, sem crédito, a economia não cresce”, disse o presidente brasileiro, acrescentando que “ou o Estado ou os empresários têm que colocar dinheiro”. “Se o Estado não pode colocar e os empresários não têm, os bancos têm que oferecer. Se os bancos privados não querem, os bancos públicos que ofereçam. No Brasil temos quatro bancos públicos importantes”, disse, citando BNDES, Banco do Brasil, Caixa, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia.

Lula também voltou a defender a criação de uma moeda comum para os países do Mercosul e outra para os membros do Brics. “Como o euro”, comparou.