As bolsas da Europa fecharam na maioria em baixa na segunda-feira, 20, em uma sessão na qual foram pressionadas pela divulgação de balanços que levaram a recuos relevantes nas ações. Além disso, um indicador apontou uma inflação persistente na Alemanha, enquanto dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) sinalizaram uma continuidade na alta de juros. O dia contou ainda com a divulgação da ata do encontro mais recente da autoridade monetária, e analistas observaram sinais que apontam para novas altas nas taxas.
No setor corporativo, a ação da Renault recuou 7,64% em Paris, após a montadora francesa ter publicado balanço. O resultado ajudou a pressionar o CAC 40, que caiu 0,14%, a 7.538,71 pontos. A companhia registrou alta na receita no primeiro trimestre e reafirmou projeção financeira para este ano, mas também advertiu que continua a enfrentar problemas logísticos. Mineradoras estiveram sob pressão em Londres, com Rio Tinto tendo baixa de 1,34% após divulgar relatório de produção. O FTSE 100 subiu 0,05%, aos 7.902,61 pontos.
Na agenda de indicadores, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) da Alemanha subiu 7,5% em março, na comparação anual. O resultado mostra desaceleração considerável, após ganho de 15,8% visto em fevereiro, mas segue em nível forte Em Frankfurt, o DAX caiu 0,61%, aos 15.795,97 pontos. Já em Milão, o FTSE MIB caiu 1,10%, aos 27.627,12 pontos. Em Madri, o IBEX 35 teve baixa de 0,47%, aos 9.450,10 pontos. Em Lisboa, o PSI 20 caiu 1,00%, aos 6.159,96 pontos. Neste cenário, o Stoxx 600 recuou 0,16%, aos 467,36 pontos.
O BCE pode ter de elevar os juros em maio e também em junho e julho, afirmou Klaas Knot, dirigente da instituição. Em um evento, Knot disse na quinta que é “muito cedo para falar em uma pausa” no aperto monetário. Segundo ele, para essa pausa ocorrer é preciso haver uma “reversão convincente na dinâmica do núcleo da inflação”. Knot afirmou que “não está desconfortável” com a atual precificação do mercado, de alta de mais 75 pontos-base nos juros pelo BCE.
Os dirigentes do banco consideraram, na mais recente reunião de política monetária, que as tensões financeiras recentes eram “fonte de incerteza significativa” para o crescimento econômico e também a inflação. A ata aponta que o comando do BCE reforçou que reagirá aos dados, mas também mostra que houve um acordo na reunião para sinalizar que, caso não tivesse havido a turbulência, o cenário-base seria de elevação maior nos juros.
A ata mostra que, em caso de maior calma no setor bancário, a inflação voltaria ao primeiro plano na preocupação dos dirigentes. Eles enfatizaram na reunião o fato de que ela seguirá “muito elevada por muito tempo”, reforçando a necessidade de manter política monetária apertada para conter a trajetória dos preços. O BCE ainda vê alguns riscos de alta para a inflação, e também riscos de baixa para o crescimento.
Os dirigentes avaliaram que houve algumas surpresas positivas em indicadores, mas também números acima do esperado na inflação, sobretudo em seu núcleo. Isso levou a uma reprecificação mais persistente por parte dos mercados sobre a trajetória dos juros, destaca a ata.
O BCE considera ainda que as condições de liquidez permanecem “sólidas” e os dirigentes também acreditam que o sistema bancário europeu é sólido. Sobre a economia global, eles viam sinais de estabilização, com a reabertura da China provavelmente apoiando o quadro, mas também com atividade “contida” no curto prazo no mundo. Na zona do euro, o aperto nas condições financeiras decorrente das altas de juros do BCE já começava a provocar efeitos “mensuráveis” na economia, aponta a ata.
Para a Capital Economics, a ata da última reunião de política do BCE, que ocorreu poucos dias após o colapso do Credit Suisse, confirma que foi apenas a turbulência do setor bancário que impediu os formuladores de políticas de sinalizar novas altas de juros. “Como esses problemas bancários já diminuíram, acreditamos que o BCE aumentará as taxas em mais 100 pontos-base nos próximos meses, para um pico de 4,0%”, projeta.