O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou taxar em 100% os produtos vindos dos países do Brics, caso o bloco dê prosseguimento à ideia de criar uma moeda própria para substituir o dólar no comércio exterior. “A ideia de que os países do Brics estão tentando se afastar do dólar, enquanto nós assistimos de braços cruzados, acabou”, escreveu Trump na rede Truth Social, na noite desta quinta-feira, 30.
Em 1º de janeiro, o Brasil assumiu a presidência do grupo e terá a missão de sediar a Cúpula do Brics neste ano. A reunião global está inicialmente programada para julho, no Rio de Janeiro.
O projeto de moeda comum, embora ainda continue na pauta, não interessa à maioria dos países no momento e é visto pelo Brasil como uma agenda de longo prazo.
O presidente americano disse que exigirá um compromisso desses países “aparentemente hostis” de que não haverá a criação ou o apoio a uma nova moeda. Caso contrário, Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e os outros integrantes do grupo “vão enfrentar tarifas de 100% e devem se preparar para dizer adeus à venda para a maravilhosa economia dos Estados Unidos”, afirmou Trump.
“Eles que procurem outra nação otária”, disse o presidente americano. “Qualquer país que tentar (criar uma moeda para substituir o dólar) deve dizer olá para tarifas e adeus para a América.”
O conselheiro sênior para Comércio e Manufatura de Donald Trump, Peter Navarro, afirmou nesta sexta-feira, 31, que a política tarifária do republicano será uma “parte importante da discussão de redução de impostos” nos Estados Unidos. “O presidente Trump quer passar do mundo dos impostos para o mundo onde as tarifas pagarão por muita coisa”.
Questionado sobre a possibilidade de aumento da inflação no país com as tarifas a parceiros comerciais norte-americanos, Navarro se limitou a dizer que com a nova política tarifária, “a economia ficará mais forte e a inflação será eliminada”.
“Temos as menores tarifas do mundo e, como diz o presidente Trump, o mundo leva vantagem disso”, enfatizou o conselheiro, ao mencionar que os acordos comerciais dos EUA com outras nações do mundo não são benéficos para o país.
“Essas tarifas a China e México serão capazes de parar a importação e o contrabando de fentanil, que mata os americanos. A discussão deveria ser sobre o contrabando de fentanil, e não sobre se ele Trump iria impor ou não as tarifas”, acrescentou Navarro.
Segundo ele, a promessa do republicano de tarifar produtos do México e do Canadá em 25% a partir do sábado é uma medida para a “segurança nacional” dos EUA.
O dirigente do Banco Central Europeu (BCE) Olli Rehn defendeu nesta sexta-feira, 31, também que a União Europeia (UE) acelere acordos comerciais de livre comércio para enfrentar as ameaças tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump. Rehn expressou preocupação sobre como a fragmentação do comércio global pode pesar sobre o crescimento econômico da zona do euro.
“O acordo de livre comércio do Mercosul está se movendo para frente. A ratificação deve tomar lugar antes que países da região, como o Brasil, se voltem para a China, o que não está em nossos interesses. Democracias da América Latina são parceiros naturais da Europa”, disse ele, que também é presidente do BC da Finlândia, em discurso preparado para evento.
Rehn afirmou que estes acordos de fortalecimento de parcerias devem ser tratados como “prioridade estratégica”. Isso também inclui aceitar ofertas de empresas não integrantes da UE para acessar o mercado do bloco, reduzir tarifas e promover as relações comerciais. Ele destacou ainda que negociações semelhantes estão em andamento com a Austrália, a Índia e a Indonésia.
“A União Europeia não pretende ficar de braços cruzados, mas se preparou de várias maneiras para possíveis medidas de pressão comercial dos EUA e para fortalecer a posição de negociação da Europa. Esperançosamente, no entanto, o bom senso prevalecerá, e os problemas poderão ser resolvidos na mesa de negociação”, comentou a autoridade monetária.
Já o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou que o país está “em um momento crítico” e esperando por “tempos difíceis” devido à iminente imposição de tarifas pelos Estados Unidos e garantiu que os canadenses estão prontos para responder, caso as tarifas prometidas pelo presidente Donald Trump sejam aplicadas a partir deste sábado, dia 1ª. “Qualquer resposta do Canadá às tarifas será deliberada, firme e imediata.”
“Não é o que queremos, mas se ele Trump avançar, agiremos”, acrescentou. “Eu não vou minimizar a situação. Nossa nação pode ter que enfrentar tempos difíceis nos próximos dias e semanas. Eu sei que os canadenses podem estar ansiosos e preocupados. Quero que saibam que o governo federal está ao lado deles”, completou Trudeau.
O premiê do Canadá também destacou que, caso o país precise agir contra as políticas de Trump, não desistirá até que todas as tarifas sejam definitivamente removidas. “Tudo está em pauta. Se forem necessárias medidas retaliatórias, tudo o que fizermos será justo em todo o país”, pontuou.