Com o maior volume em cinco anos, a produção de veículos teve no mês passado um crescimento de 14,4% frente a agosto de 2023, chegando a 259,6 mil unidades, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. Na comparação com julho de 2024, a alta na produção das montadoras foi de 5,2%, conforme balanço divulgado na quinta-feira, 5, pela Anfavea, a associação que representa os fabricantes de automóveis.
Desde outubro de 2019, quando foram montados 288,5 mil veículos no País, o setor não registrava um mês com produção tão alta. Ou seja, as montadoras voltaram a experimentar em agosto o nível de produção de antes da pandemia.
Com o resultado, a indústria automotiva passa a mostrar crescimento de 6,6% na produção de veículos desde o início do ano, com 1,64 milhão de unidades fabricadas entre janeiro e agosto.
No mês passado, as vendas de veículos subiram 14,3% no comparativo interanual, somando 237,4 mil unidades. Em relação a julho, quando foi registrado o maior número mensal de licenciamentos do ano, as vendas caíram 1,6%. Porém, esta variação negativa é explicada pelo calendário com um dia útil a menos de venda em agosto.
No acumulado desde o primeiro dia do ano, 1,62 milhão de veículos zero quilômetro foram vendidos no País, 13,3% a mais do que nos oito primeiros meses de 2023.
O desempenho reflete a melhora nas condições de crédito, na esteira dos cortes de juros, somada ao mercado de trabalho aquecido e crescimento da renda. A demanda firme das locadoras de automóveis também explica o resultado positivo.
A entrada de carros importados, porém, faz com que a produção não acompanhe o ritmo de crescimento do mercado. As exportações, que também refletem a perda de espaço das montadoras brasileiras para concorrentes estrangeiros, em especial chineses, nos mercados vizinhos, recuam 17,9% neste ano. Desde janeiro, foram embarcados 242,6 mil veículos ao exterior.
Só no mês passado, as exportações, de 38,2 mil veículos, subiram 10,6% em relação a agosto de 2023. Frente a julho, contudo, os embarques tiveram queda de 2,2%.
O balanço da Anfavea mostra ainda que 1,2 mil vagas de trabalho foram abertas nas montadoras durante o mês passado. O setor agora emprega 105,8 mil pessoas.
Apesar dos resultados, em agosto, parecidos com o desempenho que o setor mostrava antes da pandemia, a direção da Anfavea, entidade que representa as montadoras, demonstrou preocupação com as próximas decisões sobre os juros de referência da economia.
O Banco Central (BC) deixou em aberto a possibilidade tanto de manter quanto elevar a taxa básica (Selic), atualmente em 10,5%, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 17 e 18 deste mês.
Na sexta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, avisou que a alta de juros, quando e se acontecer, será gradual. Porém, na terça-feira, a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) com crescimento acima das expectativas no segundo trimestre incentivou apostas no mercado financeiro de que o BC pode abrir o ciclo de aperto monetário com um aumento de 0,5 ponto porcentual nos juros.
Durante a apresentação dos resultados de agosto, quando o ritmo diário de vendas (10,8 mil veículos por dia útil) foi o melhor do ano e a produção voltou aos níveis de cinco anos atrás, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, destacou que a redução dos juros foi decisiva na recuperação do setor, junto com a maior oferta de crédito, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento da atividade econômica.
Questionado, porém, se o desempenho é sustentável, ele ponderou que a resposta vai depender muito das decisões do BC. “Se a Selic permanecer no patamar que está, com viés de baixa pelo menos no médio prazo, o mercado continuará com esse aquecimento.”
E acrescentou: “Nossos emplacamentos têm crescido, mais do que imaginávamos, muito em razão da redução da taxa de juros, é um fator decisivo … Nossa expectativa é que não haja aumento substancial da taxa, mas reconhecendo que esta questão é muito mais complexa do que o desejo político.”
A avaliação da entidade das montadoras é de que o ritmo de vendas de veículos no Brasil segue consistente, ao passo que a produção de agosto mostrou um volume robusto – 259,6 mil veículos saíram das linhas de montagem no mês, número mais alto desde outubro de 2019.
As exportações ainda caem forte em 2024 – redução de 17,9% de janeiro a agosto -, porém mostraram nos últimos dois meses resultados melhores. É um sinal alentador para o fechamento do ano, sobretudo porque houve crescimento nos maiores mercados de destino: Argentina, México, Colômbia e Chile.