O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou na sexta-feira, 23, que chegou o momento de ajustar a política monetária nos Estados Unidos, depois do aumento mais rápido nas taxas em 40 anos. O cronograma e o ritmo de cortes nas taxas vão depender, porém, dos dados e do balanço de riscos, conforme ele.
“Chegou a hora de a política se ajustar. A direção da viagem é clara, e o momento e o ritmo dos cortes de taxas dependerão dos dados recebidos, da perspectiva em evolução e do equilíbrio do balanço de riscos”, disse Powell, em discurso de abertura do Simpósio de Jackson Hole.
O presidente do Fed afirmou que a inflação nos Estados Unidos caiu significativamente e que está mais confiante de que os preços estão em um caminho sustentável, de volta à meta do BC, de 2% ao ano.
Quanto ao mercado de trabalho norte-americano, avaliou que não está mais superaquecido e esfriou “consideravelmente”.
“As condições agora são menos apertadas do que as que prevaleciam antes da pandemia”, afirmou Powell. “No geral, a economia continua a crescer em um ritmo sólido. Mas os dados de inflação e mercado de trabalho mostram uma situação em evolução”, acrescentou, ressaltando que os dirigentes do Fed estão atentos aos riscos para ambos os lados do “nosso mandato duplo”.
O presidente do Federal Reserve disse que distorções relacionadas à pandemia na oferta e demanda, bem como choques severos nos mercados de energia e commodities, foram importantes impulsionadores da alta inflação. Mas que a reversão desses efeitos tem contribuído de forma “fundamental” à queda da inflação nos Estados Unidos.
“O desenrolar desses fatores levou muito mais tempo do que o esperado, mas, em última análise, desempenhou um grande papel na desinflação subsequente”, avaliou Powell, ao discursar a uma plateia de banqueiros centrais e economistas.
Uma “lição importante” da pandemia, segundo ele, foi que as expectativas de inflação ancoradas, reforçadas por ações vigorosas do banco central, podem facilitar a desinflação.
“A reversão das distorções da pandemia, nossos esforços para moderar a demanda agregada e a ancoragem das expectativas trabalharam juntos para colocar a inflação no que cada vez mais parece ser um caminho sustentável para nossa meta de 2%”, disse Powell.
O presidente do Federal Reserve afirmou que a política monetária restritiva nos Estados Unidos ajudou a restaurar o equilíbrio entre demanda e oferta, que foram impactados durante a pandemia de covid-19.
“Nossa política monetária restritiva contribuiu para uma moderação na demanda agregada, que combinada com melhorias na oferta para reduzir as pressões inflacionárias, permitiu que o crescimento continuasse em um ritmo saudável”, disse Powell, após relembrar todo o impacto da covid-19 na inflação e na condução dos juros nos EUA.
Ele afirmou ainda que o desemprego nos EUA continua baixo para os padrões históricos e que não tem subido motivado por demissões, como tradicionalmente acontece em crises econômicas.
“Em vez disso, o aumento do desemprego reflete principalmente um aumento substancial na oferta de trabalhadores e uma desaceleração do ritmo frenético de contratações anteriormente”, destacou Powell.
Na sua visão, parece improvável que o mercado de trabalho nos EUA seja fonte de pressões inflacionárias. Ponderou, contudo, que o Fed não busca nem recebeu bem o esfriamento laboral no país.
“Os riscos de alta para a inflação diminuíram. E os riscos de baixa para o emprego aumentaram”, avaliou o presidente do Fed. “Estamos atentos aos riscos para ambos os lados do nosso mandato duplo”, acrescentou.
O presidente do Federal Reserve afirmou que a autoridade monetária fará tudo o que estiver a seu alcance para apoiar um mercado de trabalho forte nos Estados Unidos. “Faremos tudo o que pudermos para dar suporte a um mercado de trabalho forte à medida que avançamos em direção à estabilidade de preços”, disse.
Segundo Powell, há boas razões para pensar que a economia norte-americana retornará a uma inflação de 2% ao ano, mantendo um mercado de trabalho forte.
“O nível atual de nossa taxa básica de juros nos dá amplo espaço para responder a quaisquer riscos que possamos enfrentar, incluindo o risco de enfraquecimento adicional indesejado nas condições do mercado de trabalho”, disse o presidente do Fed.
O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) da Filadélfia, Patrick Harker, repetiu que a autoridade monetária deve começar a cortar juros de maneira “metódica”, mas que o ritmo de relaxamento dependerá da evolução dos indicadores econômicos. Harker disse que a taxa deve voltar ao nível neutro, ou seja, que não estimula nem comprime a atividade. O dirigente estima que esse nível esteja em cerca de 3%, embora não tenha certeza.
Segundo ele, mais importante do que cortar juros em 25 pontos-base ou em 50 pontos-base no mês que vem, o Fed deve ser metódico – isto é, o afrouxamento deve seguir o curso de maneira paulatina, sem cortar muito e depois parar abruptamente.
Harker, que não vota nas reuniões deste ano do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), disse que as empresas estão cautelosamente otimistas sobre a economia.
Na visão dele, o déficit fiscal e os desdobramentos geopolíticos são alguns dos riscos possíveis ao cenário. O dirigente reiterou que a revisão do payroll nos EUA já era esperada. “Veio um pouco mais forte que o esperávamos, mas não foi surpreendente”, disse.
O presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, sinalizou que o BC dos Estados Unidos está quase pronto para fazer cortes nos juros e demonstrou que mudanças na política monetária devem ser feitas antes mesmo de se chegar à meta de inflação de 2% ao ano. “Não se pode esperar até que a inflação volte para 2% para fazer qualquer mudança nas taxas de juros”, disse.
O dirigente afirmou que a inflação caiu mais rápido do que ele esperava, ainda que tenha “um longo caminho” de trabalho pela frente. “A inflação não está próxima da meta do Fed”, comentou Bostic.
Sobre o mercado de trabalho, Bostic afirmou que não há uma crise e que, apesar dele estar se enfraquecendo, não está fraco. “O mercado de trabalho é um sinal de que estamos voltando para um lugar mais normalizado”, disse o dirigente.