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Premiê francês faz concessão à direita em orçamento

Em comunicado divulgado nesta segunda-feira, 2, o governo disse ter se comprometido a garantir que não haverá mais cortes em reembolsos por medicamentos.

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02 de dezembro de 2024
Vinicius Palermo
Premiê francês faz concessão à direita em orçamento
A decisão representa uma nova concessão do primeiro-ministro francês, Michel Barnier

O governo da França desistiu de planos de cortes no apoio financeiro por questões médicas previstos na proposta do orçamento do ano que vem. A decisão representa uma nova concessão do primeiro-ministro francês, Michel Barnier, a demandas da extrema-direita, que ameaça deflagrar voto de confiança para derrubá-lo do cargo.

Em comunicado divulgado nesta segunda-feira, 2, o governo disse ter se comprometido a garantir que não haverá mais cortes em reembolsos por medicamentos.

Na semana passada, Barnier já havia aceitado voltar atrás na ideia de elevar impostos sobre eletricidade.  Segundo a nota, o premiê conversou, na manhã desta segunda-feira, por telefone com a deputada Marine Le Pen, uma das líderes da extrema-direita.

A líder anti-imigração está envolvida em um jogo de alto risco com o governo francês e uma multidão de investidores globais que financiam a dívida do país. Durante semanas, o público e os mercados franceses aguardaram cada palavra de Le Pen em busca de indicações sobre se ela está disposta a cumprir as suas ameaças de derrubar o governo, caso este não atenue o impacto do orçamento planejado sobre os contribuintes.

Agora chegou o momento da verdade. Nesta segunda-feira, 2, Le Pen disse que estava preparada para apoiar um voto de desconfiança em relação ao governo nos próximos dias, depois de Barnier ter submetido o orçamento do governo à Assembleia Nacional mediante o exercício do artigo 493 da Constituição francesa. Barnier não tem votos para obter a maioria na fragmentada Câmara dos Deputados, onde o partido de extrema-direita Reunião Nacional, de Le Pen, detém o equilíbrio de poder.

Portanto, o premiê está essencialmente desafiando Le Pen a derrubar a sua administração, matar o orçamento e, como advertiu Barnier, desencadear uma corrida contra a dívida soberana de França.
As ações francesas tiveram queda acentuada nas últimas semanas, e o prêmio exigido pelos investidores para manter a dívida de longo prazo do governo subiu para o seu nível mais alto desde a crise da dívida da zona euro de 2012. Nos últimos dias, a taxa de financiamento da França se equiparou ao da Grécia, o principal país da zona euro com dificuldades fiscais.

“Votaremos a favor da moção de censura”, disse Le Pen na segunda-feira, referindo-se ao voto de desconfiança esperado para o final desta semana. “O povo francês não tem nada a temer.”

O impasse constitui um teste decisivo para saber se Le Pen tem credibilidade para, em última análise, substituir décadas de governo do establishment político francês, incluindo o presidente Emmanuel Macron, cujo mandato termina em 2027.

Para Le Pen, a crise do custo de vida enfraqueceu a classe média e os trabalhadores. O orçamento de Barnier exige 60 bilhões de euros – equivalentes a US$ 63,5 bilhões – em cortes nas despesas e aumentos de impostos para reduzir o déficit de França, que deverá atingir mais de 6% do Produto Interno Bruto este ano, o dobro do limite da União Europeia.

Os cortes de impostos de Macron para empresas e famílias – além de subsídios significativos para combater a pandemia e o aumento nos preços da energia depois da Rússia ter invadido a Ucrânia – abriram um buraco nas contas públicas. Entre as demandas de Le Pen está a indexação dos valores das pensões à inflação.