O G20 vai movimentar R$ 595,3 milhões na economia da cidade do Rio de Janeiro, segundo estudo divulgado pela Prefeitura do Rio, levando em conta despesas operacionais (R$ 226,3 milhões) – em infraestrutura, aluguel de espaços e serviços diversos -, gastos dos mais de 120 mil participantes e do valor investido (R$ 32 milhões) na reforma do Museu de Arte Moderna (MAM), onde a reunião de Cúpula do Líderes acontece.
O cálculo leva em consideração os números dos mais de 130 eventos realizados na cidade e que estão associados à reunião das 21 nações e blocos que têm as maiores economias do mundo, envolvendo 27 órgãos municipais, entre dezembro de 2023 a novembro deste ano.
“O G20 no Rio é mais do que um evento econômico, é uma vitrine da capacidade do Rio de integrar a agenda global de desenvolvimento. Esse legado de transformação e impacto econômico que vemos é resultado do compromisso de todos os órgãos e da dedicação de cada cidadão carioca que participa da construção de um Rio mais forte e conectado com o mundo”, disse em nota o prefeito Eduardo Paes.
A publicação “G20 em Dados” foi desenvolvida pela Prefeitura, por meio do Instituto Fundação João Goulart (FJG), do Comitê Rio G20 e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE).
Durante o G20, segundo o estudo, o Rio recebeu aproximadamente 270 ministros e vice-ministros estrangeiros, além de seis vencedores do Prêmio Nobel – Serge Haroche (Física, 2012), May-Britt Mosser (Medicina, 2014), David MacMillan (Química, 2021), Richard Roberts (Medicina e Fisiologia, 1993), Nadia Murad (Paz, 2018) e Kip Thorne (Física, 2017), em mais de 900 horas de eventos na cidade – o equivalente a 83 viagens de avião para a França, por exemplo.
“O ‘G20 em Dados’ reafirma o potencial do Rio para eventos de grande escala, deixando um legado tangível de cooperação e infraestrutura aprimorada, consolidando sua imagem como uma cidade pronta para os desafios do presente e do futuro”, afirmou a presidente do Instituto Fundação João Goulart, Rafaela Bastos.
Na quarta-feira, a Central Única das Favelas (Cufa), junto com a Unesco e a London School of Economics, apresentou o Communiqué G20 Favelas, que a partir de debates em 3.007 conferências realizadas em cidades do Brasil e de mais 48 países, onde a organização social está presente, mostrou a principal preocupação dos moradores de favelas com a falta de acesso a serviços básicos e a instituições estatais adequadas, que resultam em escassez e precariedade da infraestrutura estatal.
Essas ausências fazem parte da vida cotidiana dessas comunidades, que na sequência se preocupam com segurança comunitária, transporte, educação, saúde e acesso às artes e aos esportes.
O documento será entregue ao G20 Social nesta quinta-feira (14). Hoje (13), entretanto, a Cufa fez um pré-lançamento na sua sede, no Conjunto de Favelas da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. Nessa comunidade, os debates tiveram início no dia 29 de abril deste ano e a intenção foi fechar o círculo com a apresentação no mesmo local.
O documento, que será apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva às lideranças na reunião de cúpula do G20, que vai ocorrer nas próximas segunda-feira (18) e terça-feira (19), chama a atenção que “as favelas e as comunidades periféricas identificam a precariedade institucional como uma das principais áreas em que devem ser desenvolvidas políticas públicas voltadas aos direitos humanos e à redução da desigualdade”.
O Communiqué pede aos líderes do G20 investimentos em políticas públicas que garantam o acesso universal a serviços estatais básicos nas favelas e comunidades periféricas, incluindo transporte público, saúde e educação. “As ações podem incluir a melhoria de hospitais e centros de saúde ao nível de outras regiões da cidade, comprometendo empresas privadas de saúde apoiadas por fundos públicos a oferecer serviços nas comunidades das favelas”.
Outra demanda das populações de periferias é o reconhecimento da necessidade urgente de se ter segurança comunitária nos territórios, além de apoio às vítimas de crimes e da violência com a instalação de centros de apoio com assistência psicológica, social e jurídica.
O G20 Favelas aponta ainda dificuldades de mobilidade. As comunidades pedem transporte dentro das favelas “para melhorar o acesso ao trabalho, à educação e ao lazer, bem como o direito de ir e vir na cidade”.
O documento pede apoio à educação dentro da favela, acompanhando os jovens moradores em suas jornadas de decisão e instrução para que permaneçam na escola, e deem foco a programas que visem apoiar a díade mãe-bebê e educar para o desenvolvimento infantil e atenção à primeira infância.
Para moradores das favelas, a realidade da discriminação e do estigma é uma preocupação tão grande quanto a precariedade das instituições e dos serviços dentro desses territórios.
O documento aponta que as comunidades são expostas a um nível de discriminação e estigma que começa com indicadores socioeconômicos, com a fragilidade dos serviços prestados pelo Estado e com a dificuldade de engajar prestadores privados para trabalharem nas favelas. “No dia a dia, as pessoas desses territórios são moldadas por representações negativas da favela e da identidade de serem moradoras de favela”.
“Ser da favela, morar na favela e transitar pela cidade marcado(a) socialmente pela favela são fatos que criam uma identidade construída pela discriminação e pelo estigma, desafiando o direito dos moradores a uma autointerpretação positiva. O estigma associado às favelas continua sendo um determinante importante da vida nesses territórios, criando interseccionalidades com múltiplas identidades”.