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Defesa

Lula diz que Galípolo não pode dar cavalo de pau em um mar revolto

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.

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30 de janeiro de 2025
Vinicius Palermo
Lula diz que Galípolo não pode dar cavalo de pau em um mar revolto
Em entrevista coletiva, concedida na manhã desta quinta-feira (30), Lula cobrou seriedade dos países que assumiram esse compromisso e lembrou do papel importante que a população local da Amazônia terá para a manutenção da floresta em pé. Foto: Jose Cruz/Agência Brasil Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, de críticas sobre o aumento da taxa básica de juros anunciado na quarta-feira, 29. Disse nesta quinta-feira, 30, que o presidente do Banco Central “não pode dar cavalo de pau em um mar revolto de uma hora para outra” e que “já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente e Galípolo fez aquilo que entendeu que deveria fazer”.

“Temos consciência de que é preciso ter paciência. Tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do BC e tenho certeza de que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor, no tempo em que a política permitir que ele faça. Nós, como governo, temos de cumprir a nossa parte. A sociedade cumpre a parte dela. E o companheiro Galípolo cumpra a função que ele tem de coordenar a política monetária brasileira”, declarou Lula.

Em entrevista coletiva a jornalistas nesta quinta-feira no Palácio do Planalto, Lula disse que já esperava pelo aumento da Selic, e destacou que o novo presidente do BC é “da maior competência do ponto de vista econômico”.

“Quando o chamei para o Banco Central, disse: ‘Galípolo, você é meu amigo, mas você vai ser presidente do Banco Central. No meu governo, presidente do BC vai ter autonomia de verdade, porque o (Henrique) Meirelles já teve por oito anos. Faça o que for necessário fazer. O que quero que você saiba é que o povo e o Brasil espera que a taxa de juros seja, dentro do possível, controlada, para que a gente possa ter investimento e mais desenvolvimento sustentável, gerar mais empregos e mais distribuição de riquezas no País. Não esperava milagres, mas que as coisas acontecessem da maneira que ele entendeu que deva acontecer”, declarou o presidente da República.

Lula disse que seu governo tem como objetivo controlar a economia do Brasil “porque senão quem sofre é o povo”. “Na hora em que o País quebrar, vão cortar do povo”, “não posso levar ao povo mais humilde o sacrifício”, afirmou em entrevista coletiva à imprensa nesta quinta-feira, 30, quando também enfatizou: “Neste governo, não haverá irresponsabilidade fiscal.”

Lula disse que pretende manter políticas de inclusão social e reajustes no salário mínimo acima da inflação, ainda que tenha alterado a regra no fim do ano passado para limitar esse crescimento ao cálculo estabelecido pelo novo arcabouço fiscal.

O presidente repetiu a história que conta com frequência sobre ter aprendido sobre responsabilidade fiscal com sua mãe e disse que “não podemos gastar mais do que temos capacidade de arrecadar”.

Também falou que tem “muita responsabilidade fiscal” com o País. “Se tivermos que fazer investimento para aumentar um ativo do Brasil, vamos fazer uma dívida saudável. Uma dívida para construir algo benéfico para o povo brasileiro. Fora disso, se a gente começar a gastar aquilo que não tem, chega um dia em que a gente quebra.”

Lula questionou as críticas contra o governo em relação ao déficit fiscal que deve ser registrado neste ano. “O que aconteceu com o déficit fiscal? (Vai ser) De 0,1% (do PIB), que é zero. Não é 2,5% (do PIB), como recebemos, é zero. Vai ser assim, porque tenho muita responsabilidade”, declarou o presidente da República.

Ele disse que vai conversar com empresários para pedir explicações sobre o aumento dos preços dos alimentos, principalmente do óleo de soja e da carne. “Quando eu cheguei à Presidência, o preço do óleo de soja tinha caído para R$ 4, agora subiu para R$ 9, R$ 10, ou seja, qual é a explicação?”, questionou em conversa com jornalistas no Palácio do Planalto. “Não tenho outra coisa a não ser chamar os produtores para saber por que o preço da carne, que tinha caído 30%, voltou a subir”.

“Eu tenho em mente que o aumento dos preços de comida que vão na cesta básica é sempre muito ruim, porque eles afligem exatamente as pessoas mais pobres, então não tem sentido fazer um sacrifício enorme de fazer políticas públicas para fazer com que o dinheiro chegue na ponta e depois esse dinheiro ser comido pela inflação”, disse o presidente.

Lula garantiu que não tomará nenhuma “medida daquelas que são bravatas” para conter a inflação dos alimentos e que o governo quer aplicar medidas como aumentar produção e financiar a modernização da pequena e média agricultura. “Não faremos nada que possa significar surgimento do mercado paralelo”, afirmou o presidente.

O presidente disse que o governo pode vir a discutir, ao longo de 2025, novas medidas de corte ou contenção de gastos, mas deixou claro que essa não será uma prioridade deste ano. “Não tenho outra medida fiscal (planejada para 2025). Se apresentar durante o ano a necessidade de fazer alguma coisa, vou reunir o governo e discutir. Mas, se depender de mim, não tem outra medida fiscal. O que vamos agora é pensar no desenvolvimento sustentável deste país, mantendo a estabilidade fiscal e sem fazer com que o povo pobre pague o preço de alguma irresponsabilidade de um corte fiscal desnecessário”, afirmou, em entrevista coletiva à imprensa nesta quinta-feira, 30.

Lula reiterou o que disse mais cedo, de que “déficit de 0,1% é déficit zero” e cobrou um pedido de desculpas daqueles que criticaram o governo.

“As pessoas que ficaram o ano todo falando em déficit fiscal deveriam pedir desculpa ao (Fernando) Haddad”, afirmou o presidente da República. “As pessoas que falam coisas erradas e depois não acontecem não têm a humildade de falar que erraram”, completou.

Na entrevista, ele destacou: “Estabilidade fiscal é uma questão muito importante para este governo e para mim. A gente quer estabilidade fiscal e queremos o menor déficit possível.”

O presidente disse também que há apenas um ajuste a ser feito antes de enviar ao Congresso a proposta de isenção do imposto de renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil.

“Estamos preparando para mandar ao Congresso, tem apenas um ajuste, porque toda vez que vai tirar uma coisa, tem que fazer a compensação. Ainda ontem (quarta) conversei com (o ministro da Fazenda, Fernando) Haddad, e logo logo a gente vai dar entrada”, afirmou.

O presidente disse também que haverá uma nova reunião com a mineradora Vale, após ter se encontrado com o presidente da empresa, Gustavo Pimenta, no Palácio do Planalto, na terça-feira, 28. Segundo Lula, a companhia se dispôs a ter um “novo comportamento” com o governo.

“Foi boa a reunião, e nós vamos fazer uma reunião, que eu vou convocar, para a gente discutir como é que a gente vai vencer os obstáculos de mineração que a Vale está enfrentando”, disse Lula
Ele afirmou que houve um período de gestão “irresponsável” na Vale e destacou a importância da empresa para o Brasil, ao afirmar que o diálogo foi retomado entre a empresa e o governo. “Eu tenho noção da importância da Vale para o Brasil, muita noção. E tenho noção de que a Vale foi governada, em determinado período, de forma muito, mas muito irresponsável”, declarou, em entrevista coletiva à imprensa.

Lula continuou: “A Vale não conversava com o governo e não discutia com o governo os projetos que ela pode participar neste momento de transição energética, neste momento da gente explorar os minerais críticos.” Em seguida, o presidente da República disse que a reunião com a Vale foi boa.

“Nós tivemos uma reunião, eu fiquei muito contente com a impressão que me passou o presidente da Vale, e nós queremos discutir várias coisas para fazer com que a Vale volte a produzir mais minérios e ela voltar a ser a primeira ou a segunda no mercado internacional. Ela caiu muito no mercado internacional”, afirmou.

Lula prosseguiu: “Acho que foi uma conversa extraordinária. Havia aquela tensão maluca, porque a gente não tinha feito o acordo de Mariana. Há nove anos estava parado o acordo de Mariana, havia gente que achava que era impossível, e nós conseguimos fazer o acordo funcionar.”

Na sequência, o presidente da República disse que, agora, há uma cautela do governo junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) para fazer com que os recursos originários do acordo cheguem “na ponta”.