O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a criticar o patamar da taxa básica de juros, atualmente em 11,25% ao ano. Dessa vez, ele não mencionou diretamente o Banco Central ou seu presidente, Roberto Campos Neto. A autoridade monetária será presidida por Gabriel Galípolo, próximo de Lula, a partir de janeiro de 2025.
“Qual a explicação para a taxa de juros estar do jeito que está hoje?”, questionou o presidente da República em discurso no Encontro Nacional da Indústria, em Brasília.
Ele afirmou que a inflação está controlada e que o País está crescendo como não crescia desde 2010, quando ele deixou o governo. Segundo o presidente, aquela foi a última vez em que o Brasil “cresceu para valer”.
Lula disse que a economia real é “maior que discursos fictícios”, em uma crítica indireta a analistas que questionam a política econômica do atual governo. O presidente e seus ministros devem anunciar um pacote para contenção de despesas nos próximos dias, mas o presidente não mencionou essa discussão em sua fala.
Segundo ele, o País crescerá mais de 3% neste ano. “Quando eu chego no governo, a sorte chega também”, declarou.
O presidente disse ainda querer fechar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia ainda este ano e que a posição contrária da França não será determinante para inviabilizar a assinatura. “Se a França não quiser, eles não apitam mais nada”, afirmou o presidente em evento com líderes do setor industrial. Ele disse querer fechar o acordo ainda neste ano. “Para superar essa pauta, que estou há 23 anos”, afirmou.
O presidente afirmou que o Brasil precisa avançar em parcerias comerciais com novos países, superando a dependência de acordos apenas com os países ricos. “O Brasil não precisa ficar preso à sua história, aos países que nos colonizaram. Comércio é guerra”, disse Lula.
Para uma plateia de empresários, o presidente disse que o governo manterá empenho para novos acordos comerciais. “Quero fazer reuniões com a Índia. Em março iremos para o Japão. Depois vamos para o Vietnã”, afirmou.
Ao cobrar a priorização dos interesses brasileiros, Lula disse que as relações comerciais não devem observar determinados fatores políticos. “Não quero brigar com os EUA, não quero saber se o presidente é Biden ou Trump. Temos nossos interesses, eles têm os deles. Nossos interesses têm que convergir”, afirmou.
O presidente disse também que o comércio internacional é uma guerra, e que quer que o agronegócio brasileiro cause raiva em políticos franceses. Ele deu a declaração em um contexto de tensão entre os produtores de carne do Brasil e o Carrefour. A rede francesa de supermercados disse dias atrás que deixaria de vender carne do Mercosul no país europeu. “Nossos agricultores não querem morrer e nossos pratos não são latas de lixo”, chegou a dizer o deputado da UDR, de direita, Vincent Trébuchet.
O caso mobilizou o agronegócio e o governo brasileiro em uma rara convergência entre Lula e o setor, majoritariamente bolsonarista. “Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva num deputado francês que hoje achincalhou os produtos brasileiros”, afirmou o presidente da República.
Segundo ele, será fechado o acordo entre Mercosul e União Europeia mesmo se a França não quiser – o protecionismo agrícola do País é o principal entrave. Segundo ele, “nenhum país do mundo falará bem dos nossos produtos”.
Lula também defendeu encontros empresariais em países como Índia, Japão e Vietnã para diversificar os negócios brasileiros no exterior e atrair investimentos.