O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, expressou nesta segunda-feira, 25, sua preocupação e da casa em relação às críticas feitas na semana passada às proteínas animais da América Latina e, em especial, as do Brasil pelo CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, que mais que criticar proibiu a compra e a venda das carnes brasileiras na rede francesa da empresa.
“Nos incomoda muito o protecionismo europeu, especialmente da França contra as proteínas animais do Brasil”, rebateu o presidente da Câmara durante abertura do CNC Global Voices 2024, organizado na capital paulista pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Mostrando-se indignado com a decisão do Carrefour Francês, o deputado disse ainda nesta semana que o Congresso irá colocar na sua pauta a Lei da Reciprocidade entre países.
“Não é possível que o CEO de um grupo importante como Carrefour não se retrate de uma declaração de praticamente não contratar as proteínas animais advindas e oriundas da América do Sul. O Brasil, com o Congresso Nacional, com os empresários e a população, tem que dar resposta clara para esse protecionismo exagerado dos produtores da França”, disse Lira, acrescentando que uma reação da sociedade brasileira se faz necessária para que atitudes como essa, do CEO do Carrefour, não causem motivo de rotina.
Ainda, segundo o presidente da Câmara, é injusto o protecionismo contra os interesses de quem protege embaixo da lei mais rígida no sentido ambiental mundial, que é o Código Florestal brasileiro.
Arthur Lira, que está para deixar o comando da Câmara, fez uma espécie de balanço de sua presidência por dois mandatos e usou como corte o período da pandemia até agora. Disse que por um bom tempo, durante sua gestão, só se falava na pandemia. Depois a Câmara e o Congresso como um todo trataram de retirar os entraves ao bom desempenho da economia brasileira. Agora o que se mais debate é a transição energética e pautas relacionadas à mudança climática.
Lira também fez questão de frisar que dentre todas as agendas cumpridas pela Câmara está a reforma tributária, que é a mais transformadora e que está agora só dependendo de aprovação de sua regulamentação no Congresso.
O Grupo Carrefour Brasil reconheceu, em nota, impactos advindos da ruptura de fornecimento de carnes pela indústria nacional, após grandes frigoríficos interromperem a entrega de produtos às unidades do grupo no País. “Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”, disse o grupo em nota, que é formado pela rede Carrefour, Atacadão e Sam’s Club.
Apesar da suspensão do fornecimento de carnes pelos frigoríficos, o grupo reforçou que não há desabastecimento dos produtos em suas lojas. Segundo fontes da indústria, a interrupção no fornecimento atinge mais 150 lojas da rede no Brasil. O movimento de cancelamento de entregas começou ainda na quarta-feira, 20.
Entre os frigoríficos que aderiram à interrupção estão a JBS, a Marfrig e o Masterboi, que não se manifestaram publicamente, conforme apurou a reportagem.
Somente a Friboi, marca de carnes bovinas da JBS, responde por 80% do volume fornecido ao grupo de origem francesa, sendo que na rede Atacadão o fornecimento da marca é de 100%.
A JBS cancelou a saída de produtos das fábricas e dos centros de distribuição que seriam destinados ao Grupo Carrefour Brasil imediatamente, segundo fontes. A estimativa do mercado é de que a partir desta segunda-feira os efeitos da suspensão das entregas comece a ser percebido nas gôndolas da rede, já que se trata de mercadoria resfriada e/ou congelada com estoques limitados. A decisão da indústria foi endossada pelo governo, que cobrou do setor uma “ação enérgica” contra o boicote da empresa.
A represália da indústria foi imediata à declaração do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, que anunciou na quarta, que a rede pararia de vender carne do Mercosul nas lojas francesas. Um dos frigoríficos cancelou no mesmo dia o envio de caminhões que abasteceriam 50 unidades do Carrefour. A indústria cobra uma retratação pública de Bompard para retomar o abastecimento.
“Nós, do Grupo Carrefour Brasil, lamentamos profundamente a atual situação e reafirmamos nossa estima e confiança no setor agropecuário brasileiro, com o qual sempre mantivemos uma relação sólida e de parceria. Entendemos a importância deste setor para a economia e para a sociedade como um todo, e continuamos comprometidos com o fortalecimento dessa relação”, disse o Carrefour Brasil na nota divulgada nesta segunda-feira.
O grupo afirmou também que há 50 anos “tem construído e mantido uma excelente relação” com seus fornecedores, pautada pela “confiança mútua”. “Por isso, estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil”, explicou o grupo.
“Reiteramos nosso compromisso com o País, o respeito ao consumidor e a transparência em todas as etapas deste processo. Seguiremos trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível, sempre com o objetivo de atender com qualidade e excelência aos nossos clientes”, concluiu o grupo na nota.