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Lavrov garante que Rússia quer evitar guerra nuclear

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta terça-feira, 19, que os novos critérios para acionamento do arsenal nuclear russo não diferem dos adotados pelos Estados Unidos.

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20 de novembro de 2024
Vinicius Palermo
Lavrov garante que Rússia quer evitar guerra nuclear
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta terça-feira, 19, que os novos critérios para acionamento do arsenal nuclear russo não diferem dos adotados pelos Estados Unidos. Lavrov também afirmou que a Rússia é “fortemente a favor de fazer de tudo para prevenir uma guerra nuclear na Ucrânia”. “A atualização da doutrina não significa nada que o Ocidente já não saiba, não adiciona nada diferente da doutrina dos americanos sobre o que fazer com suas armas nucleares”, afirmou o ministro russo, em coletiva de imprensa na Barra da Tijuca.

A mudança na doutrina nuclear russa veio por meio de decreto assinado por Vladimir Putin. Ele reagiu à decisão do governo Joe Biden que deu aval para a Ucrânia disparar mísseis ocidentais balísticos de longo alcance, com impacto de até 300 quilômetros de distância.

A autorização já permitiu que Kiev conduzisse um primeiro ataque, reportaram agências internacionais. Ao menos cinco mísseis teriam sido repelidos pela defesa anti-aérea de Moscou.

Lavrov repetiu no Rio as palavras do presidente russo que, semanas atrás, antecipou que qualquer aval dos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para Kiev disparar mísseis de longo alcance significaria um envolvimento direto deles na guerra, escalando o conflito.

Segundo o chanceler, os disparos contra a Rússia por parte de Kiev significam que são “operados” com assistência militar de especialistas dos Estados Unidos e do Ocidente para guiar os mísseis, como Putin já expressou, por meio de satélites que Kiev não controla. “Vamos encarar isso como uma nova fase da guerra ocidental contra a Rússia”, disse Lavrov. “E vamos operar de forma adequada.”

Durante coletiva de imprensa no Rio, Lavrov também disse que os russos estão fazendo todos os esforços para evitar uma guerra nuclear.

Ele comparou as declarações do futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que promete encerrar a guerra rapidamente, aos esforços por um cessar-fogo e ao plano de negociação com seis princípios proposto por Brasil e China. “Ele deseja a paz, assim como Brasil e China”, afirmou o chanceler.

O ministro das relações exteriores da Rússia disse que o País concordou com a redação do trecho sobre a guerra na Ucrânia, constante no documento final da cúpula do G20, por se tratar de um “chamamento ao diálogo”. Ele celebrou o trecho genérico sobre resolução de conflitos, que antecede as menções a Gaza e Ucrânia, e defendeu a reforma da ONU, citando brevemente o Conselho de Segurança, com o argumento de que se deve aumentar e fortalecer a voz da maioria global nas instituições.

A defesa da reforma do Conselho de Segurança é pauta cara ao governo brasileiro. Lavrov disse que houve uma tentativa de passar o trecho sobre a situação de Gaza para baixo da menção à guerra na Ucrânia, o que teria sido prontamente rechaçado pelos países do Sul Global.

Ausente deste debate, Lavrov evitou o tema do clima em sua declaração inicial aos jornalistas. “Há um parágrafo sobre a Ucrânia com o qual estamos de acordo porque o principal nele é o chamamento a um diálogo justo sobre a paz. Há um trecho, que abre este artigo, em que se insta as partes a resolver conflitos em base de igualdade e com respeito à carta da ONU”, disse.

Segundo Lavrov, o “Ocidente” só enxerga na carta da ONU o princípio (da integridade) territorial ao defender a retomada de territórios pela Ucrânia, e repetiu que o histórico pós-1991, quando os direitos de russos locais teriam sido perdidos, segue sendo ignorado.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia reiterou que o país apoia Brasil e Índia como membros permanentes do Conselho de Segurança e defendeu a expansão da estrutura, mas disse que potências ocidentais querem “erodir” o processo, ainda que sinalizem apoio no documento final.

“Há países que rechaçam que outros países, com outra postura, se unam ao número de membros permanentes (do Conselho). Nós (Rússia) apoiamos Índia e Brasil, que anunciaram o desejo de se apresentar com membros plenos do Conselho de Segurança”, disse o ministro russo, citando em sequência o direito de representação dos países africanos. “O Ocidente quer erodir este processo, ainda que tenha dito que tem de ampliar. Os Estados Unidos anunciaram que apoiam Índia, Alemanha e Japão. Mas Alemanha e Japão não trazem valor adicional ao Conselho de Segurança. Simplesmente vão repetir tudo o que dizem os EUA”, continuou Lavrov.

Na sequência, ele também citou a reforma da governança de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, a qual, disse ele, os EUA demonstrariam contrariedade.

“O mundo mudou nas últimas décadas, adquiriu uma nova cara. O Brics está no centro da economia mundial e o G7 perde suas posições, dado que os Brics crescem 4% (ao ano) atualmente e, o G7, só cresce 2%”, disse Lavrov.

Na citação ao Brics, o chanceler russo afirmou que o grupo alcançou uma posição em que pode criar seus próprios mecanismos independente do Ocidente, citando sistemas de pagamentos, investimentos e mercados financeiros.

Ele disse que nas últimas cúpulas do G20, o ocidente tentou “ucranizar” o debate sem sucesso. “A maioria dos países do Sul Global não apoiou isso e nossos sócios do mundo em desenvolvimento insistem que o texto seja dedicado a quaisquer conflitos no mundo, e antes de mais nada no Oriente Médio, devido ao destino trágico dos palestinos”, disse.

Segundo o ministro russo, os países ocidentais discutiram a situação de Gaza “sem muito a dizer”, mas entenderam que o assunto não poderia faltar na declaração final.

“Houve tentativa de colocar esse artigo depois do ucraniano, mas não tivemos que demonstrar que não concordávamos com essa manipulação, artimanhas, porque os países do Sul Global, de maneira categórica, rechaçaram minimizar o fato de que o G20 deve destacar em primeiro lugar a situação trágica na Faixa de Gaza”, disse.

Ele destacou que o número de mortes civis estimado em Gaza, 45 mil, é o dobro de Ucrânia e Rússia desde 2014, quando se intensificaram as manifestações anti-Rússia na Ucrânia.