O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, voltou a afirmar nesta quinta-feira, 14, durante abertura do 12º Fórum Liberdade e Democracia de Vitória, que a inflação global está em rota de convergência, principalmente no mundo avançado.
Ao mesmo tempo, segundo o banqueiro central, surgem questionamentos sobre o processo de desinflação na América Latina. Mas, ainda de acordo com Campos Neto, a inflação, em geral, tem subido devido aos preços de alimentos e de energia.
Essa é a primeira fala de Campos Neto depois da divulgação da ata do Copom, na terça-feira, 12, referente à reunião, na semana passada, em que o BC elevou a taxa básica de juros, de 10,75% para 11,25% ao ano.
O presidente do BC também lembrou que, desde o início da campanha eleitoral nos Estados Unidos, o discurso dos dois então candidatos, Donald Trump e Kamala Harris, era inflacionário.
“Precisamos entender o que será feito em termos de protecionismo com a vitória de Trump”, disse Campos Neto, reafirmando não parecer, na visão dele, uma preocupação muito grande com o fiscal nos Estados Unidos. “A deportação de pessoas nos EUA poderia levar a um pico de inflação bastante rápido”, acrescentou.
Transição energética
O presidente do Banco Central voltou a afirmar que uma das grandes contas que o mundo terá que pagar é a da transição energética, e apontou que a desaceleração da inflação nos Estados Unidos continua em andamento, mas ainda enfrenta obstáculos. “A eleição de Trump e dados levaram à percepção de juro terminal maior nos EUA”, disse.
Ao falar da relação entre inflação e juros no cenário doméstico, ele disse que o Brasil é o único país em que se precifica ajuste monetário forte na curva. “O BC precisa fazer inflação convergir para a meta e esse é o nosso mandato, dado pelo governo”, disse Campos Neto também chamou atenção para a geopolítica e fragmentação comercial como fatores de risco para a economia global.
Autonomia do BC
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 14, esperar que seu sucessor no cargo consiga aprovar a autonomia financeira da autarquia. Campos Neto será substituído pelo atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, no início de 2025.
“A gente fez a autonomia operacional e, infelizmente, não conseguimos avançar na autonomia financeira. Espero que meu sucessor consiga avançar nisso, acho que é muito importante para o Banco Central ter esse ciclo completo”, disse Campos Neto em evento do Instituto Líderes do Amanhã, em Vitória (ES).
O banqueiro central citou como marca da sua gestão o aumento da eficiência da intermediação financeira, com iniciativas como Pix e Open Finance.
Outro legado, segundo ele, é a transparência. Campos Neto disse que tentou abrir mais as informações e mostrar que as decisões do BC são técnicas.
“Espero que a gente continue nesse movimento de inovação, continue nesse movimento de transparência e continue nesse movimento de autonomia”, afirmou Campos Neto.
Jornada de trabalho
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 14, que a proposta da deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP) que acaba com a escala de trabalho 6×1 é “bastante prejudicial” para os trabalhadores. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) já reuniu assinaturas suficientes para ser apresentada.
“Ele vai aumentar o custo do trabalho, vai aumentar a informalidade e vai diminuir a produtividade”, disse Campos Neto, em evento do Instituto Líderes do Amanhã, em Vitória (ES). “A gente precisa continuar avançando essas reformas e entender que, no final das contas, aumentando a obrigação dos empregadores, a gente não melhora os direitos dos trabalhadores”
O banqueiro central afirmou que há evidências de que a reforma trabalhista, aprovada no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), melhorou a situação do emprego no Brasil via aumento de flexibilidade.