Economia
Dólar recua

Ibovespa se descola de NY e recupera nível dos 127 mil pontos

O vértice positivo foi liderado por ações cíclicas, que se beneficiaram da queda dos juros futuros em boa parte da sessão.

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07 de agosto de 2024
Vinicius Palermo
Ibovespa se descola de NY e recupera nível dos 127 mil pontos
As ações cíclicas, consideradas mais sensíveis a juros, lideraram o campo positivo da referência da B3

O Ibovespa se descolou de Wall Street, acelerou alta e recuperou o nível dos 127 mil pontos no período da tarde, com 66 papéis (de 85) no azul. O vértice positivo foi liderado por ações cíclicas, que se beneficiaram da queda dos juros futuros em boa parte da sessão, e a melhora também foi amparada pelo setor financeiro, visto que as ações preferenciais do Itaú e do Bradesco apagaram as perdas da manhã. Contudo, Banco do Brasil (-1,31%) fechou em queda antes do balanço, que será divulgado após o fechamento.

Nem mesmo o recuo das bolsas de Nova York limitou a recuperação da referência da B3. “Nossa bolsa passa a ter mais atratividade pelas relações de preço e lucro – vemos os preços ainda muito comprimidos, especialmente pela saída massiva do capital estrangeiro no ano, enquanto os resultados dos balanços continuam apresentando fundamentos sólidos”, afirma Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital.

As ações cíclicas, consideradas mais sensíveis a juros, lideraram o campo positivo da referência da B3, com CVC (+9,94%), Localiza (+9,00%) e GPA (+8,42%), na esteira da curva de juros, que se ajustaram após o governo do Japão minimizar o risco de novo aperto monetário enquanto durar a volatilidade dos ativos, o que acabou trazendo alívio ao câmbio.

Entre as blue chips, destaque para valorização de Itaú PN (+0,27%) e Bradesco PN (+0,21%), que conseguiram inverter o sinal depois de passarem boa parte do pregão realizando lucros. A Unit do BTG Pactual, por sua vez, subiu 3,39%, na máxima intradia de R$ 33,55.

No setor financeiro, contudo, Banco do Brasil, que reporta balanço após o fechamento, cedeu 1,31%. “A queda do BB, mais forte desde cedo, pode ser causada pela expectativa com a qualidade dos resultados, com expectativa de provisões elevadas para cobrir possíveis inadimplências do setor rural, além de um salto nas despesas administrativas”, comenta Inácio Alves, analista da Melver.

Dentre as blue chips de commodities, Vale cedeu 0,19% com pressão do minério de ferro, que caiu 2,41% em Dalian. Já os papéis da Petrobras ON (-0,14%) e PN (-0,15%) ignoraram a alta de mais de 2% do petróleo e fecharam em leve baixa, à medida em que o mercado se prepara para balanço do segundo trimestre de 2024, que será divulgado nesta quinta-feira.

O Ibovespa fechou em alta de 0,99%, aos 127.513,88 pontos, após máxima (+0,99%) aos 127.517,18 pontos e mínima (0,00%) aos 126 267,70 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,0 bilhões. O índice acumula alta de 1,32% na semana e queda de 0,11% no mês.

O dólar emendou na quarta-feira, 7, o segundo pregão consecutivo de queda firme no mercado doméstico de câmbio e fechou abaixo de R$ 5,65 pela primeira vez em agosto. O real e seus pares latino-americanos foram beneficiados por nova rodada de queda do iene, após declarações do vice-presidente do Banco do Japão (BoJ), Shinichi Uchida, de que não haverá nova alta de juros enquanto os mercados se mantiveram instáveis.

Pela manhã, a divisa chegou até a furar o piso de R$ 5,60 e registrou mínima a R$ 5,5976, em sintonia com a diminuição da aversão ao risco no exterior, refletida na queda do VIX, conhecido como “termômetro do medo”. Dados da balança comercial chinesa contribuíram para a valorização das moedas de exportadores de commodities, ao mostrar crescimento de 7,2 das importações em julho (na comparação anual), bem acima da expectativa (3%).

Ao longo da tarde, com o VIX zerando a queda vista mais cedo e as bolsas em NY em terreno negativo, em razão das perdas das big techs, o dólar reduziu a queda. Com máxima a R$ 5,6406, a moeda fechou em baixa de 0,57%, a R$ 5,6250. Com isso, o dólar passa a acumular desvalorização de 0,54% nos cinco primeiros pregões do mês.

Entre as moedas latino-americanas, destaque para os ganhos de mais de 1,5% do peso mexicano em relação ao dólar. Na terça, o real havia apresentando o melhor desempenho entre seus pares, em razão do tom duro da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que deixou a porta aberta para uma eventual retomada do ciclo de alta da taxa Selic.

Para o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, além de o BoJ ter vindo a público tentar acalmar os mercados, o real se beneficia de um movimento de correção após uma “reação exagerada” à safra recente de indicadores americanos, em especial o payroll de julho, divulgado na sexta-feira, 2. Os temores de uma recessão nos EUA provocaram uma onda de aversão ao risco, levando até a especulações de que o Federal Reserve poderia se reunir de forma extraordinária para uma redução antecipada da taxa de juros.

“A desaceleração da economia americana demorou mais do que o esperado, mas houve um exagero com a precificação de recessão. O mercado acabou pesando demais a mão e agora está passando por uma fase de ajustes, com as moedas emergentes recuperando parte das perdas”, afirma Velloni, para quem, mesmo com o ambiente externo mais calmo, o real tende a ter um comportamento mais volátil por razões domésticas. “Temos ainda o problema fiscal e um cenário que não é mais de corte da Selic. É preciso ver como o governo vai lidar com isso”.

Economistas do Bradesco afirmam que o fato de o real ter apresentado desempenho inferior a de pares na média dos últimos meses pode ser atribuído ao “acúmulo de ruídos fiscais e políticos, incertezas quanto à condução da política monetária no próximo ano e dúvidas sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal”.

“Em nossos modelos estruturais, o câmbio deveria convergir para R$ 5,00 no equilíbrio de médio prazo. Mas esses modelos baseados em fundamentos podem indicar um equilíbrio que demora a ser atingido. No curto prazo, incertezas e questões técnicas podem se sobrepor aos fundamentos”, afirma o banco.

À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial total em julho foi positivo em US$ 1,743 bilhão, segundo dados preliminares. A entrada líquida de US$ 5,046 bilhões via comércio exterior sobrepujou a saída líquida de US$ 3,302 bilhões pelo canal financeiro. Em junho, o fluxo foi positivo em US$ 5,603 bilhões.