O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a revisão de gastos e do Orçamento de uma forma geral é uma atividade rotineira na pasta e também no Ministério do Planejamento e Orçamento. Em entrevista à RedeTV!, gravada na quinta-feira, 30, Haddad afirmou que os técnicos do governo levam ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um “cardápio” de medidas que podem ser adotadas para garantir o equilíbrio fiscal.
Haddad disse ainda que é preciso fazer o debate sobre a questão fiscal “com honestidade”, já que ministros que o antecederam no cargo, como Henrique Meirelles e Paulo Guedes, são bem vistos pelo mercado financeiro, embora não tenham conseguido produzir superávits “sustentáveis”. Resultados fiscais positivos que os antecessores alcançaram se deveram à venda “criminosa” da Eletrobras e à “dilapidação” da Petrobras, segundo Haddad.
O ministro lembrou que algumas medidas de controle fiscal enviadas ao Congresso pelo governo Lula não foram aprovadas, o que impediu de chegar ao superávit fiscal já em 2024. “Não vejo nenhum desses economistas que falam nos jornais dizendo que, se algumas medidas provisórias que mexiam com privilégio setorial tivessem sido aprovadas, teríamos alcançado superávit”, afirmou
O ministro disse ainda que o Banco Central é formado por pessoas de “alta competência”, o que não os impede de cometer erros. “Não existe essa fantasia de imaginar de porque o BC é autônomo ele não erra. O Banco Central pode errar, a Fazenda pode errar, o mercado pode errar. Isso a história demonstra”, afirmou Haddad.
O ministro disse ainda que é preciso “humildade” e “honestidade” para evitar erros e para que a discussão sobre a economia tenha menos influência das ideologias e seja mais aderente aos fatos.
Haddad também afirmou que para combater o alto nível de endividamento das famílias é preciso resolver a questão das taxas de juros praticadas pelos bancos. Com uma inflação anual de 5%, as instituições chegam a cobrar 5% ao mês de juros. “Ninguém consegue pagar as dívidas”, afirmou Haddad.
Programas criados pelo governo, como o Desenrola, ajudam a equacionar o problema, mas a subida da taxa básica de juros gera preocupação, segundo Haddad. “O aumento da taxa Selic não precisa chegar ao consumidor. Se nós tivermos dispositivos de fazer o juro final cair, a Selic pode subir e o spread pode cair, compensando o aumento da Selic”, disse o ministro. “Como as famílias já têm uma dívida, nós queremos fazê-las migrar de uma dívida com juros altos para uma dívida com juros baixos.”
O ministro disse também ter estabelecido nos últimos dois anos uma “relação excelente” com o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que devem assumir as presidências da Câmara e do Senado nos próximos dias.
Haddad afirmou que se encontrava frequentemente com Motta antes mesmo de o parlamentar despontar como favorito à sucessão de Arthur Lira (PP-AL). “Não teve mês que eu não almocei com o deputado Hugo Motta”, afirmou. Motta, segundo o ministro, “é muito interessado” na pauta econômica.
Já Alcolumbre, com quem jantou nesta semana, demonstrou interesse em impulsionar “uma agenda econômica forte”, segundo o ministro. Na semana passada, Haddad apresentou uma lista de 25 prioridades da agenda econômica para 2025 e 2026 durante a primeira reunião ministerial do ano. Entre elas, está a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil.
O ministro se referiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o “maestro da orquestra”, que tem a função de organizar o time, ao falar sobre as soluções propostas pelo governo para garantir o equilíbrio fiscal. “É um equívoco imaginar que um presidente possa se abster de opinar sobre o que é justo. Existem várias formas de organizar as contas públicas”, disse.
Na área econômica, muitas vezes o caminho “mais longo” é o mais sustentável, segundo ministro. Em outros governos, o Ministério da Fazenda tinha “licença para matar”, o que não é algo positivo, na visão de Haddad.
O atual governo optou por “atacar privilégios” para ajustar as contas, em vez de adotar o caminho “muito fácil” de lançar medidas como o congelamento do salário mínimo, segundo o ministro. A correção do piso só pela inflação resultou em 33 milhões de pessoas passando fome, de acordo com Haddad.
Em relação à avaliação da sua gestão à frente da Fazenda até aqui, Haddad disse que recebe críticas “equilibradas”, tanto do PT quanto de outros agentes, como o mercado financeiro. “A vida de ministro da Fazenda nunca vai ser leve”, afirmou Haddad, que avalia que receber críticas dos dois lados significa que o governo busca o equilíbrio.
Questionado sobre um eventual pedido de Lula para ser candidato à Presidência, Haddad disse que “não tem o 2026 em mente” e que o Brasil não pode se dar ao luxo de esquecer de uma figura como a do atual presidente.
Para Haddad, a extrema direita “se firmou no mundo” e deverá estar presente com força nas próximas eleições, ainda que na figura de “alguém que come com garfo e faca”.