O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira, 29, em São Paulo, que o pacote de ajuste anunciado na quarta-feira não representa o “gran finale” do esforço do governo em reequilibrar as contas públicas, reiterando que, se necessário, a equipe econômica apresentará outras medidas de contenção de gastos.
“Esse conjunto de medidas não é o gran finale, não é bala de prata. Daqui três meses, posso voltar à planilha para discutir a evolução do Benefício de Prestação Continuada e da Previdência (BPC)”, afirmou o ministro no almoço de fim de ano com dirigentes da Febraban, a entidade que representa os bancos.
Haddad pediu um “pouco de cautela” dos analistas na avaliação “rubrica a rubrica” das medidas propostas. Se houver algum erro de cálculo, o ministro disse que voltará a conversar com Congresso e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele salientou que o governo está cumprindo a promessa, feita há dois anos, de buscar o equilíbrio fiscal e atendeu, com o pacote, os pedidos do mercado para reforçar o arcabouço. Frisou que todos os Poderes precisam entregar a sua cota de contribuição ao ajuste. “Não é tarefa só do Executivo … Temos que convencer o Congresso Nacional que bondades precisam ser compensadas”, declarou o ministro, acrescentando que o Legislativo fez “belo trabalho” para diminuir os gastos tributários no País.
Haddad frisou ainda que o governo tenta corrigir dez anos de déficit primário, e assegurou que a meta fiscal será cumprida em seu limite inferior. Mais uma vez, afirmou que o objetivo de déficit zero só não será entregue neste ano porque não houve aprovação da proposta de acabar com a desoneração da folha de pagamento e os incentivos ao setor de serviços.
“Estamos até hoje pagando por problemas que foram herdados”, disse Haddad, que reforçou sua crença no ajuste fiscal, e que “ninguém que vender fantasia ou mágica.” “Eu acredito no ajuste, defendo ele onde vou, é crença minha. Agora, não vamos conseguir fazer tudo o que tem que ser feito com bala de prata”, concluiu
O ministro disse que o relacionamento dele com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, é “claro”, mas tem que ser leal a ele. “Às vezes temos que convencer o presidente Lula do que dá e o que não dá para fazer”, frisou. Haddad também pontuou as manifestações mais cedo do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sobre a política fiscal. “Alinhamento dos líderes com a presidência não podia ser melhor”, destacou.
Ele ressaltou que, se houver alguma surpresa no Congresso, será positiva. “Ninguém está pedindo para destruir arcabouço, o pedido é para reforçar”, afirmou. Haddad disse também que “ninguém aqui está pregando fantasias”, e que a ala econômica não age com soberba, mas, sim, com humildade. “Se preciso, revisaremos rota”, disse. “Não mudo nada do que falei há dois anos; o crédito cresce a 10%, a receita também, e não aumentei impostos”, salientou.
O ministro também falou da relação da Fazenda com o Banco Central ao reafirmar que trabalhou com o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e deve seguir colaborando com o diretor de Política Monetária e presidente do BC no ano que vem, Gabriel Galípolo. Os dados referentes às contas públicas, frisou, serão encaminhados ao presidente do BC.
Haddad alertou ainda que o quadro externo é mais desafiador, uma vez que o comportamento do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não veio como o esperado. “Precisamos ver qual será o orçamento do Fed”, atentou o ministro, que também pontuou o cenário mais desafiador no âmbito interno.
O diretor de Política Monetária do Banco Central iniciou sua fala em almoço com banqueiros nesta sexta-feira, 29, em São Paulo, destacando as declarações feitas pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, que, observou, foram bem recebidas e ajudaram a acalmar um pouco o mercado financeiro.
Conforme Galípolo, enquanto o pacote de contenção de gastos está sendo digerido, as declarações de Lira e Pacheco contribuíram para uma interpretação de que existe um consenso em torno da grande disposição em aprovar o ajuste com urgência, e de que a reforma do imposto de renda, visando ampliar a faixa de isenção para R$ 5 mil, envolve uma discussão mais ampla, a ser feita apenas a partir do ano que vem.
O futuro presidente do BC também destacou as declarações dadas pelo ministro da Fazenda, que antecedeu a sua participação no almoço da Febraban, a federação dos bancos. Segundo Galípolo, o discurso de Haddad mostrou convicção na direção do ajuste das contas públicas.
Ele salientou que após as manifestações de Lira e Pacheco, o preço do dólar cedeu um pouco, assim como os juros futuros. “Parece que está sendo interpretado que existe grande disposição de aprovar o pacote de contenção de gastos, que precisa ser feito com devida urgência, e que a reforma da renda envolve discussão mais ampla, e que seria feita a partir do ano que vem”, comentou.
Galípolo avaliou que, entre esta sexta ou no sábado, com o envio do pacote ao Congresso, os agentes do mercado poderão se debruçar sobre o ajuste para entender, com mais detalhes, seu impacto efetivo.