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Haddad afirma que é possível ter ciclo virtuoso na economia

“O resultado dessa política é que você consegue fazer o ajuste sem prejudicar o crescimento econômico”, disse Haddad.

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04 de setembro de 2024
Vinicius Palermo
Haddad afirma que é possível ter ciclo virtuoso na economia
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu o forte crescimento da economia brasileira à “qualidade” do ajuste fiscal feito pela pasta, que se focou “em quem deixou de pagar impostos.” “O resultado dessa política é que você consegue fazer o ajuste sem prejudicar o crescimento econômico”, disse Haddad.

Segundo o ministro, a ideia de fazer um ajuste cobrando da população pobre prejudica o consumo e o investimento, mas a agenda da Fazenda permitiu o crescimento dessas duas variáveis e o controle da inflação.

Ele repetiu que a pasta “abriu a caixa-preta” dos grupos econômicos no Brasil quando aprovou a sua agenda de aumento da arrecadação. “Eram quase 2% do PIB a menos em arrecadação em virtude desses ‘campeões’ que se apropriaram do Orçamento”, disse.

O ministro se esquivou de responder a uma indagação de jornalistas sobre se o Banco Central teria de aumentar os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 17 e 18. Ele disse considerar deselegante opinar sobre o tema.

“Confio muito na capacidade técnica das pessoas que estão à frente do BC, não acho elegante dizer o que o BC tem de fazer, assim como eles também respeitam a autoridade fiscal do ministério da Fazenda”, afirmou.

Ele lembrou que o governo já indicou quatro diretores para o BC e, agora, Gabriel Galípolo, atualmente diretor de Política Monetária e indicado para a presidência da autarquia, deve ser sabatinado pelo Senado Federal.

O ministro da Fazenda disse que Galípolo, “está muito gabaritado” para assumir a presidência do BC na transição da atual gestão. Ele foi indicado ao cargo na semana passada.

“Penso que foi um acerto ter indicado o Galípolo para diretor do Banco Central”, disse Haddad, para quem isso deu condições de que o diretor conhecesse a autoridade monetária. “É uma pessoa que, na minha opinião, está muito gabaritada para assumir a presidência do BC.”

Ele ressaltou que Galípolo tem experiência no mercado financeiro – ele foi presidente do Banco Fator de 2017 a 2021 – e se habituou a fazer negociação política quando foi secretário-executivo da Fazenda, em 2023. No BC, ele se dá bem com o presidente, Roberto Campos Neto, e com outros diretores, disse Haddad.

O ministro ressaltou que pessoas em cargos públicos de alto escalão, como o Ministério da Fazenda e o BC, têm de se habituar a sofrer pressões. Ele havia sido perguntado sobre eventuais pressões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas respondeu que essas pressões “não são de A, B, C ou D” e se mostram em vários espaços, como jornais e TVs.

Pouco antes, falando sobre o crescimento do PIB, Haddad defendeu que a Fazenda tem conseguido conduzir um “ajuste” de forma que a atividade não comprometa a inflação. Ele repetiu que o Brasil tem de crescer mais do que a média mundial, afirmando que o Fundo Monetário Internacional (FMI) já vê um PIB potencial de 2,5% para o Brasil. “O ministro da Fazenda não pode falar que é menos”, disse.

O ministro disse que “tudo indica” que o acordo firmado para disciplinar as emendas parlamentares terá de respeitar o arcabouço fiscal. Ele afirmou que não há razão para rever as metas fiscais, desde que a desoneração da folha de pagamentos seja compensada.

“Se nós tivermos a compensação da desoneração, cuja reoneração será escalonada, nós não temos porque rever a trajetória traçada pelo Ministério da Fazenda, quando nós estipulamos o novo arcabouço fiscal, que foi saudado por todos os economistas e pelas agências de risco, que aumentaram a nota do Brasil”, disse.

O ministro argumentou que as agências de risco “continuarão aumentando” a nota de crédito do Brasil e afirmou que o País tem condições de retomar o grau de investimento.

Haddad também voltou a falar sobre o pagamento dos precatórios. Ele disse que o aumento das despesas públicas quando essas dívidas foram pagas foi “momentâneo” e repetiu a avaliação de que o governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro, atrasou a concessão de benefícios e o pagamento dos precatórios para tentar cumprir o teto, o que teve de ser resolvido pela atual administração.

O ministro disse que o governo não discute fazer uma nova reforma da previdência. Indagado sobre o tema, ele citou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) em tramitação no Congresso, que trata da previdência nos governos regionais.

“Neste momento, não está em discussão no governo federal uma reforma da previdência do regime geral”, disse Haddad. “Tem alguma discussão do governo sobre categorias que ficaram de fora da discussão da reforma da previdência, que podem eventualmente dar uma contribuição para melhorar as contas públicas, buscando mais justiça social e equilíbrio em relação aos demais servidores.”

Sobre a PEC, que estende a reforma dos regimes especiais de previdência para Estados e municípios, Haddad disse que a expectativa é de apreciação pela Câmara ainda este ano, após o término do “recesso branco” do Congresso nas eleições.

“Existe essa discussão, que é muito importante, e nós estamos falando de alguma coisa, em termos de cálculo atuarial, de R$ 600 bilhões”, disse o ministro, para quem a PEC coloca ordem nas finanças regionais de previdência.