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Galípolo diz que papel do BC não é dar sugestão de política fiscal

Galípolo também teceu elogios ao trabalho do Ministério da Fazenda e da Casa Civil na elaboração do pacote fiscal anunciado na noite da quarta-feira, 27, pelo governo.

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29 de novembro de 2024
Vinicius Palermo
Galípolo diz que papel do BC não é dar sugestão de política fiscal
O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, reiterou que o papel da autarquia não é dar sugestão de condução da política fiscal, após ser questionado por participantes no evento do Esfera Brasil, em São Paulo, na noite da quinta-feira, 28, sobre os debates com o PT e com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por quem foi indicado.

“O BC sempre é chamado quando se quer ter o que acontece no mercado. O BC quando é chamado pelo governo não vai falar o que deve ser feito”, enfatizou o diretor, que lembrou que o papel da autoridade monetária não é extrapolar a alçada de política monetária, mas explicar o comportamento dos ativos.

Galípolo também teceu elogios ao trabalho do Ministério da Fazenda e da Casa Civil na elaboração do pacote fiscal anunciado na noite da quarta-feira, 27, pelo governo. “Foi muito importante, presenciei isso”, disse o diretor, que ainda frisou que “colaborar para a produção de consensos é essencial”.

Ele afirmou também que, pelos indicadores da economia é lógico supor que a taxa de juro precisará ficar em nível mais contracionista, ou seja, mais elevado.

“Pelos indicadores, é lógico supor que precisará de juro em nível mais contracionista. Isso (a busca pela meta) pode se dar em doses diferentes, por mais custos, por menos custos, mas esse é um mandato do Banco Central em que a gente segue firme, recebe esse objetivo de perseguição da meta. Ainda que seja, muitas vezes, por um motivo que, para muita gente, pode ser estranho”, disse o diretor.

O futuro presidente do BC ainda avalia que é um tema complexo explicar a resiliência maior da economia com juros mais altos. “É um tema para essa geração enfrentar”, frisou. “No caso do Brasil, enfrentar isso não tem bala de prata, envolve analisar todos os tipos de dissonâncias que existem para o que são as melhores práticas globais, seja do ponto de vista de políticas públicas no âmbito fiscal, seja no âmbito da taxa de juros, no tema da desindexação, por exemplo”, detalhou.

Galípolo ainda pontuou que um elemento que não tem mitigação a juros mais altos é o Tesouro, e lembrou que a taxa fixada pelo Tesouro não é a mesma fixada pelo BC. “Este convívio com taxa de juros mais alta se faz sentir, sim, em um peso maior sobre o Tesouro”, disse. “E eu acho que deveria ser um debate que não envolve só a atribuição do Banco Central, mas também de como é que a gente consegue normalizar as políticas econômicas no Brasil e conseguir aproximá-las do que são as melhores práticas internacionais, para que a gente possa ter mais potência e poder ter o mesmo efeito sem precisar dar uma dose tão alta”, complementou.

Galípolo enfatizou que discutir a meta de inflação de 3% não é tema para ser debatido por um diretor da autarquia. “Meta, você cumpre e persegue”, reiterou.

O diretor voltou a repetir que, uma vez fixada a meta em 3%, cabe ao Copom perseguir o alvo e calibrar a taxa Selic em um nível suficientemente restritivo pelo tempo que for necessário para alcançá-la.

Sobre a relação da autoridade monetária com o mercado financeiro, o futuro presidente do BC ainda fez uma alusão à relação entre o marinheiro e o mar. “Autoridade monetária se queixar do mercado é como marinheiro reclamar do mar”, disse o diretor, que reiterou que o papel do BC é entender e ter função de reação a partir da leitura do comportamento do mercado.

Após reforçar em encontro com empresários que a autarquia fará o que for necessário para levar a inflação à meta de 3%, o diretor de Política Monetária do Banco Central disse ser normal ter de subir os juros durante um mandato de quatro anos na autoridade monetária.

“Você ir para o Banco Central e achar que não vai passar por momentos onde vai ter de subir juros, me parece muito estranho. Você vai passar por um mandato de quatro anos, é normal. E se você pretende ser o Mister Congeniality (Senhor Simpatia), talvez o lugar para você ir não é o Banco Central”, disse Galípolo, que em janeiro assume como presidente do BC, no lugar de Roberto Campos Neto.

E acrescentou: “A função do Banco Central não é você sair obrigatoriamente aplaudido por todo mundo, mas você tem de ter que ter explicação do porquê está fazendo, sustentada tecnicamente e conseguir explicar à sociedade.”

Galípolo participou no período da noite da quinta de um encontro com empresários – entre eles, Joesley Batista, André Esteves, Rubens Menin e Rubens Ometto – promovido pela Esfera Brasil.

Durante o encontro, foram levantadas questões sobre se Galípolo faria um contraponto ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que o indicou ao comando do BC, e até onde iria a liberdade de atuação de sua gestão.

A respeito de fazer contraponto dentro do governo, respondeu que o BC é “pouco hepático” nesse tema e se dedica a olhar exclusivamente ao que acontece com a inflação. “As reações e função de reação do Banco Central não buscam se contrapor a isso ou aquilo […] O mandato é buscar a meta de inflação.”

Do empresário Rubens Ometto, Galípolo ouviu que os investimentos esperados em infraestrutura e parcerias público-privadas não vão acontecer porque os juros vão subir, em razão do desequilíbrio das contas públicas.

Ao recorrer à ilustração, usada por Ometto em seu comentário, de um automóvel em movimento, ele assegurou que, na política monetária, o Banco Central está sentado no banco do motorista – ou seja, no controle -, “com direção, freio, acelerador e todas as ferramentas”.

“Na política monetária, esta eu te garanto, o Banco Central tem autonomia para tocar a política monetária que ele quiser, e estamos com todas as ferramentas para tocar”, respondeu Galípolo a Ometto.

O diretor do BC observou que o impacto da inflação é pior para população do que o dos juros, de modo que o mal maior seria não agir diante da pressão do câmbio desvalorizado e da atividade econômica aquecida sobre os preços.

Evitando fazer comentários sobre a política fiscal, ainda que reconhecendo o empenho do “amigo” Fernando Haddad, ministro da Fazenda, um dia após o anúncio do pacote de ajuste que levou a uma reação negativa do mercado financeiro, Galípolo frisou que a “bola” – isto é, o foco – do BC é a inflação, sendo os juros o instrumento da autoridade monetária para controlar a alta dos preços.

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central destacou que a instituição segue firme em seu compromisso em perseguir a meta de inflação e que a atual desancoragem das expectativas inflacionárias incomoda o corpo diretivo da autarquia.

“Estamos todos no Banco Central muito incomodados com a desancoragem das expectativas e com a inflação corrente também”, afirmou Galípolo. “Mas se comparar com o passado, houve avanço significativo nos níveis de inflação nos últimos tempos”, ponderou.