Economia
Precificação

Galípolo diz que desancoragem das expectativas de inflação incomoda o BC

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou nesta segunda-feira, 2, que o papel da instituição é reancorar as expectativas de inflação.

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02 de dezembro de 2024
Vinicius Palermo
Galípolo diz que desancoragem das expectativas de inflação incomoda o BC
O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou nesta segunda-feira, 2, que o papel da instituição é reancorar as expectativas de inflação. Durante palestra no evento Fórum Político da XP Investimentos, em São Paulo, ele disse que a desancoragem tem elemento estrutural, e que não responde à ideia de um BC passivo, ainda que exista um movimento conjuntural nas últimas semanas. “Esse é um processo de desancoragem, que já está aí há algum tempo e que nos incomoda há bastante tempo.”

Ele salientou que a precificação da política monetária, as medianas do relatório Focus e as respostas do Questionário Pré-Copom (QPC) sugerem que o mercado espera “proatividade” do BC no sentido de aumentar os juros – e não que a autoridade monetária se recuse a fazer o suficiente.

No QPC, ele destacou, as respostas para as perguntas “O que acha que o Copom fará nas próximas reuniões?” e “Na sua opinião, o que deveria ser feito?” são similares. Isso, ele disse, demonstra a percepção de que o Copom ajustará os juros para cumprir a meta.

“Ou seja, você está imaginando que a dose é mais ou menos a mesma do remédio e, ainda assim, você fica imaginando que isso não dá conta de reancorar as expectativas. Tem um lado que está correlacionado com isso, que incomoda muito o BC”, afirmou Galípolo.

Para ele, a dúvida sobre a viabilidade da meta está superada, assim como a incerteza de sucessão do BC caiu. “Havia o questionamento da viabilidade da meta, acho que isso está relativamente superado e afastado. Também acho sobre a questão da sucessão, espero que isso esteja bastante reduzido também hoje do ponto de vista que estava colocado ali”, disse, afirmando que permanece um certo puzzle quando se olha para aquilo que está na pergunta do QPC sobre o que você imagina que o BC vai fazer e o que você faria.

O diretor do BC disse que a autarquia tem monitorado com atenção o comportamento das expectativas de inflação, do mercado de trabalho e dos núcleos do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “O tema das expectativas é um tema que a gente tem monitorado com bastante atenção pelo tamanho do incômodo que nos gera, a desancoragem, durante um ciclo de alta de juros”, disse Galípolo.

A autoridade monetária também acompanha a magnitude de repasse da desvalorização do câmbio para a inflação, especialmente em meio ao mercado de trabalho apertado, ele disse. Também observa com atenção o desenvolvimento do cenário externo, afirmou.

Galípolo mencionou entre os pontos de preocupação a desaceleração da China e da Europa, esta última “talvez lutando contra uma recessão”. Falou, ainda, das incertezas em torno da política econômica dos Estados Unidos e da função de reação do Federal Reserve (Fed), o banco central do país.

O diretor de Política Monetária disse que o “Trump Trade” emagreceu orçamento do Fed e que é preciso ver se se trata de um quadro que tende a se aprofundar. “A gente começa o ano imaginando que ia iniciar um ciclo de cortes por parte do Fed, se falava de oito cortes no ano, mas começa o ano com dados fortes de atividade econômica nos Estados Unidos. O Fed faz aquele recuo e diz que vai ficar mais dependente de dados, o que é natural nesses processos, e agregou mais volatilidade”, comentou.

Galípolo salientou que, conforme foi passando o ano, esse processo de postergação dos cortes por parte do Fed foi produzindo uma apreciação do dólar em relação às demais moedas.

“Quando começa a chegar próximo o momento de um ciclo de cortes por parte do Fed, ele vai se sobrepondo com a eleição norte-americana e começa a discussão sobre o ‘Trump Trade’, a partir de uma possibilidade de vitória do Trump”, relatou o diretor, acrescentando que qualquer um dos dois candidatos (a outra era Kamala Harris) não falava muito de fazer qualquer tipo de ajuste fiscal. “Esse ponto, somado ao tema da imigração, que deve aumentar o custo da mão de obra e a questão das tarifas, emagreceu significativamente o orçamento do Fed. A ver até se isso vai se aprofundar, como é que isso vai acontecer”, disse, lembrando que há falas de membros importantes do Fed ao longo das próximas semanas, divulgação do payroll esta semana também e que é importante ver como isso vai impactar a elevação das taxas de juros mais longas.

Nesse cenário, conforme Galípolo, parece lógica uma dedução de como a política monetária no Brasil, que para uma economia que se revela mais dinâmica do que esperado, com desemprego na mínima da série histórica, somado a uma moeda doméstica mais desvalorizada, que isso demande uma política monetária mais contracionista, com juros mais altos por mais tempo. “Parece relativamente lógico imaginar isso e, em cima desse movimento que aconteceu ao longo do ano, o Banco Central foi migrando gradativamente de um ciclo de corte para uma pausa e o ciclo de alta de juros que nós iniciamos nas duas últimas reuniões.”

O diretor afirmou que a instituição tem instrumentos para cumprir a meta de inflação. “O BC tem instrumentos para cumprir essa meta de inflação (de 3%). O BC tem instrumentos para cumprir essa meta, com certeza”, garantiu.

Galípolo falou sobre o assunto quando questionado sobre se a meta de 3% perseguida pelo BC não estaria apertada demais para ser atingida.

“Como eu tenho respondido, esse é um não-tema para diretor de Banco Central. Diretor de Banco Central persegue meta, não tem debate sobre a determinação da meta”, respondeu ele, acrescentando que a meta é uma discussão com página virada e que apenas cabe à instituição persegui-la.

Galípolo disse também que existe uma discussão sobre a potência de transmissão da política monetária na economia brasileira. Aqui, isso se deve a “efeitos mitigadores” em vários setores da economia, e não às transformações do pós-pandemia, como no restante do mundo, afirmou.

No evento da XP Investimentos, em São Paulo, Galípolo mencionou o financiamento de habitação via poupança e os títulos públicos indexados à Selic como mecanismos “mitigadores.” “Você vai passando por vários elementos que você tem, canais ou mecanismos de defesa, vamos dizer assim, para um canal de transmissão de política monetária”, afirmou.