O presidente centrista Emmanuel Macron busca “relançar a cooperação” da França com a América Latina em uma viagem que o levará, a partir de sábado, à Argentina, Brasil e Chile, informou nesta quinta-feira (14) seu gabinete.
A visita começará no sábado em Buenos Aires, onde ele conversará com seu homólogo ultraliberal Javier Milei, a quem buscará atrair para o “consenso internacional” sobre os desafios globais, como a questão climática, precisou a presidência.
O consenso estaria em risco “após as eleições nos Estados Unidos”, alertou essa fonte, no mesmo dia em que a Argentina se retirou da 29ª conferência sobre a mudança climática da ONU (COP29), que está sendo realizada em Baku.
A viagem à América do Sul, 60 anos depois da realizada durante três semanas pelo então presidente e herói da Segunda Guerra Mundial, Charles de Gaulle, ocorre por ocasião da cúpula do G20 no Brasil, prevista para segunda e terça-feira.
E em um contexto de tensão sobre o acordo comercial em negociação entre a União Europeia e os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), cuja assinatura é rejeitada pela França em sua forma atual. Agricultores franceses preveem protestos a partir de segunda-feira.
Durante a cúpula do G20, focada no desenvolvimento sustentável, na transição energética e no combate à pobreza, Macron se reunirá com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
Em Buenos Aires, Macron buscará “aprofundar a parceria estratégica e histórica” em áreas como defesa, transição energética e transporte, em um contexto de abertura ao “investimento estrangeiro” e com o objetivo de “melhorar a situação econômica” da Argentina, segundo a presidência.
A visita também terá um componente comemorativo, com uma visita no domingo à igreja de Santa Cruz, onde o presidente francês prestará homenagem a cerca de 20 cidadãos franceses, incluindo duas religiosas, desaparecidos durante a ditadura argentina (1976-1983).
O Chile será a última parada de Macron durante o giro pela América do Sul na quarta e quinta-feira. Além de visitar a casa do poeta Pablo Neruda e se reunir com o presidente chileno, o esquerdista Gabriel Boric, Macron fará um discurso no Parlamento em Valparaíso sobre as relações com a América Latina.
Nesta cidade portuária, o presidente francês conversará com cientistas a bordo de um quebra-gelo, com vistas à Conferência da ONU sobre os Oceanos, prevista para junho de 2025 em Nice, no sudeste da França.
Mercosul
O governo da França anunciou nesta quinta-feira (14) que está usando “todos os meios” para bloquear a conclusão do acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.
A declaração foi dada pelo ministro da Economia, Antoine Armand, após agricultores franceses contestarem o acordo comercial e prometerem novos protestos e manifestações em todo o país.
“Utilizaremos todos os meios, incluindo meios institucionais e de voto a nível europeu, para que o Mercosul, tal como concebido atualmente, não passe”, assegurou o político francês, em entrevista à SudRadio.
Segundo o ministro, o governo de Emmanuel Macron também está tentando “convencer” os seus “parceiros que às vezes podem hesitar”.
Na quarta-feira (13), o primeiro-ministro da França, Michel Barnier, já havia declarado que seu país não aceitará o acordo comercial entre a UE e o Mercosul “nas condições atuais”.
A declaração do chefe de governo francês foi feita durante uma reunião com a presidente do poder Executivo da UE, Ursula von der Leyen.
“Eu disse para a presidente que, nas condições atuais, este acordo não é aceitável para a França. Recomendo não ignorar a posição de um país como a França”, afirmou.