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Fávaro: Brasil não pode ficar refém da relação com EUA

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o Brasil tem de respeitar a posição mais protecionista do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump

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07 de novembro de 2024
Vinicius Palermo
Fávaro: Brasil não pode ficar refém da relação com EUA
O ministro afirmou ter "quase convicção" de que algumas declarações e posições de Trump tendem a ficar restritas ao período eleitoral.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o Brasil tem de respeitar a posição mais protecionista do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, mas que não deve ficar refém dessa relação.

“Ele fez uma campanha numa plataforma mais protecionista. Queremos ter relações comerciais com toda a América do Sul, com os Estados Unidos, com a Europa, mas também não precisamos ficar reféns dessa situação. O fortalecimento do Brics e o fortalecimento dos países do Sul Global são fundamentais para ampliarmos as nossas negociações”, disse Favaro a jornalistas no Uruguai, onde cumpriu agenda.

Ele afirmou ter “quase convicção” de que algumas declarações e posições de Trump tendem a ficar restritas ao período eleitoral. “A eleição talvez se exacerbe algumas manifestações, mas a realidade do governando é outra. Por isso, eu tenho certeza que os Estados Unidos continuarão tendo um protagonismo importante para o mundo, para a América Latina, para a Ásia e para o Oriente Médio na nova gestão de Donald Trump”, observou.

Para Fávaro, uma ampliação das relações diplomáticas e comerciais do Brasil com os países do Sul Global “supera qualquer protecionismo” a ser adotado por outros países. “Neste Sul Global, temos grande densidade populacional com Índia, China, Japão, toda a Ásia, além de todo o Oriente Médio com países com muitos recursos. E temos a América do Sul com grande densidade populacional e países bem estabilizados”, ponderou o ministro.

O ministro Fávaro, voltou a afirmar que vê necessidade de a União Europeia (UE) “despertar” para maior diálogo com países de fora do bloco. “O tempo dos países colonizadores ficou para trás. Nós queremos ter uma excelente relação com a comunidade europeia, defendemos a formalização do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, mas que isso seja feito de forma respeitosa e que garanta a soberania de todos os países”, disse.

Para o ministro, tanto no acordo entre os blocos quanto em outras políticas públicas medidas unilaterais e de transgressão da soberania nacional não serão bem-sucedidas. “Vejo com bons olhos a manifestação positiva da Unidade Europeia em voltar a discutir o tema da lei antidesmatamento, uma legislação aprovada de forma unilateral, desrespeitosa e transgredindo a soberania dos nossos países”, criticou Favaro. “Mas só o fato de eles concordarem em rediscutir é a consciência de que avançaram demais”, acrescentou.

O Brasil, apoiado pelos demais países da América do Sul, pediu à Comissão Europeia a prorrogação e revisão da nova lei ambiental do bloco, que proíbe a importação de commodities ligadas a desmatamento a partir de dezembro de 2020. O adiamento da entrada em vigor da lei, previsto para 31 de dezembro, depende ainda da validação do Conselho e do Parlamento Europeu.

Fávaro afirmou que a contrariedade do Brasil em relação à lei europeia não se deve “à falta de respeito ao meio ambiente ou práticas sustentáveis na produção”. “Queremos e já estamos com várias políticas de boas práticas de sustentabilidade em todos os nossos países (da América do Sul), mas queremos discutir com eles sentados à mesa e não sendo de cima para baixo, de forma unilateral”, ponderou.

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou nesta quinta-feira, 7, que as relações do Brasil com seus parceiros comerciais são de “Estado”, e não pessoais, e que a tradição de amizade e complementação econômica com os Estados Unidos têm “tudo para crescer”. A declaração foi dada após Alckmin ser questionado sobre o futuro da relação entre o Brasil e o país com a vitória de Donald Trump, que assumirá novamente a presidência americana no próximo ano.

“O maior parceiro comercial é a China, agora os Estados Unidos é o maior comprador de manufatura e o maior investidor no Brasil. As relações são de Estado, não são pessoais. O Brasil tem uma tradição de amizade, de complementação econômica com os Estados Unidos, que eu tenho certeza tem tudo para crescer”, respondeu o ministro, segundo quem a relação entre EUA e Brasil será fortalecida.

E finalizou: “O Brasil é o sétimo país mais populoso do mundo, o quinto maior país em extensão territorial, subsolo, petróleo, gás, ouro, nióbio, lítio, manganês, agricultura mais competitiva, indústria diversificada, então eu tenho certeza de que é um ganha-ganha. O Brasil tem tudo, o presidente Lula parabenizou o presidente eleito, o presidente Trump, desejando a ele um ótimo trabalho e vamos fortalecer essa relação Brasil-Estados Unidos.”