O dólar abriu a semana em queda firme no mercado doméstico de câmbio, acompanhando o movimento de enfraquecimento global da moeda americana, em um aparente movimento de ajustes e realização de lucros do chamado “Trump trade”.
O real também é beneficiado pela valorização das commodities, como petróleo e minério de ferro, e por sinais de que o plano de gastos em gestação no governo Lula, que deve ser anunciado após a conclusão do G20 e o feriado do Dia da Consciência Negra, na quarta-feira, 20.
Neste domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote “está fechado”. A expectativa gira em torno da possibilidade de que o plano traga uma harmonização do crescimento das despesas às regras do arcabouço fiscal. O Broadcast Político apurou que o aumento anual do mínimo seria de no máximo 2,5% e no mínimo 0,6% além da inflação. Há relatos de que os cortes somariam R$ 70 bilhões nos próximos dois anos.
Afora uma alta pontual bem limitada na abertura dos negócios, quanto registrou máxima a R$ 5,7997, o dólar operou o restante da sessão em baixa. Com mínima a R$ 5,7376 no início da tarde, a moeda encerrou o dia em queda de 0,70%, a R$ 5,7474. Dado o recuo de desta segunda-feira, passa a apresentar desvalorização de 0,58% em novembro.
O índice DXY recuava mais de 0,40% no fim da tarde, mas mantinha-se acima dos 106,000 pontos, nos maiores níveis em quase um ano. Entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities, destaque para o rand sul-africano e o real, ambos favorecidos pelo salto de mais de 3% das cotações do petróleo, em meio a tensões geopolíticas, com relatos de foguetes disparados do Líbano contra Israel, e à interrupção da produção no maior campo de petróleo da Europa Ocidental.
Apesar do escorregão desta segunda-feira, o índice DXY acumula valorização de mais de 2% em novembro. Além da eleição de Donald Trump à presidência dos EUA, a última rodada de indicadores mostra resiliência da economia americana, o que estimula as apostas em ciclo mais enxuto de cortes de juros pelo Federal Reserve.
Ibovespa
O Ibovespa fechou perto da estabilidade após ter oscilado entre leves altas e baixas desde cedo. Do lado positivo, destaque para a alta das commodities e um Plano de Negócios da Petrobras sem grandes mudanças em relação ao anterior, o que significa maior espaço para dividendos. Contudo, a espera pelo pacote de corte de despesas, em gestação pelo governo federal, e a piora nas expectativas de inflação vista no boletim Focus pesaram contra.
O Morgan Stanley inclusive rebaixou a recomendação do Brasil na sua cobertura de América Latina para underweight (equivalente a venda), mencionando preocupações fiscais e taxa de juros elevada
O principal índice da B3 fechou aos 127.768,19 pontos (-0,02%), após máxima de 128.277,27 pontos (+0,38%) e mínima de 127.226,37 pontos (-0,44%). O giro financeiro foi de R$ 22,6 bilhões.
O sinal positivo do Ibovespa foi amparado principalmente pelas cotações de petróleo, que à tarde acentuaram alta com a intensificação de riscos geopolíticos, principalmente após as Forças de Defesa de Israel interceptarem foguetes vindos do Líbano, em um aparente ataque. O dólar enfraquecido e riscos à oferta também ajudaram a elevar os preços da commodity, que fechou em alta acima de 3% tanto no barril WTI, a US$ 69,17 (+3,36%), quanto no Brent, a US$ 73,30 (+3,18%).
“Ponto relevante é petróleo subindo bastante, e Petrobras anunciou um Plano de Negócios que não veio ruim. O mercado tinha receio de que aumentasse muito o capex (investimento) e reduzisse os dividendos, mas não foi bem assim”, comenta o chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, Pedro Serra. A estatal subiu 2,57% (ON) e 2,50% (PN) após divulgar que seu Plano de Negócios prevê US$ 111 bilhões em investimentos para o período de 2025 a 2029, em linha com os US$ 102 bilhões da gestão de Jean Paul Prates.
O minério de ferro também fechou em alta, de 1,87% em Dalian, na China, a US$ 105,23 por tonelada, e de 2,52% em Cingapura, a US$ 99,15. Assim, Vale ON, ação com maior peso no índice, fechou em alta de 1,25%.
Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para as ações cíclicas – mais sensíveis a juros – Azul PN (-7,50%) e Hapvida (-6,94%).
Juros
Os juros futuros fecharam a sessão em alta, na contramão da queda do dólar e da melhora no mercado de Treasuries no decorrer da sessão. Os investidores seguiram repercutindo a piora das estimativas de IPCA na pesquisa Focus e a precificação de Selic terminal na curva de juros já bateu nos 14,25%. É crescente a percepção de que só a divulgação de um pacote de gastos, o que não deve ocorrer antes de quinta-feira, que seja crível é capaz de alterar a dinâmica das taxas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu de 13,18% na quinta-feira para 13,30% e a do DI para janeiro de 2027, de 13,35% para 13,46%. Esses são os maiores níveis de fechamento desde 19/12/2022, quando encerraram em 13,68% e 13,62%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 13,24% (de 13,18%).
Os resultados da pesquisa Focus comprometeram bastante o comportamento das taxas, num ambiente externo marcado pelo pessimismo com relação à trajetória dos juros nos EUA. A sinalização do Federal Reserve na semana passada de uma distensão monetária mais branda somada à perspectiva para a política fiscal da gestão Donald Trump são fatores negativos para o fluxo de capital a economias emergentes.
Pela manhã, o yield do T-Bond de 30 anos subiu ao maior nível desde 31 de maio, a 4,677% e o da T-Note de dez anos voltou a se aproximar dos 4,50%. À tarde, perderam ímpeto, mas os DIs não acompanharam.
A precificação dos DIs ia muito além disso, projetando Selic terminal de 14,25% em novembro de 2025, segundo o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano. Para o Copom de dezembro, a curva indicava alta de 73 pontos, ou quase 100% de chance de aperto de 75 pontos.