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China quer negociar retomada de acordo comercial com Trump

Pequim considerou que a tarifa de 10% anunciada por Trump no sábado, 1º, sobre as importações da China foi uma forma de pressão

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03 de fevereiro de 2025
Vinicius Palermo
China quer negociar retomada de acordo comercial com Trump
Outras iniciativas projetadas pelos chineses incluem uma oferta para fazer mais investimentos nos Estados Unidos. Crédito: pexels

O governo da China está preparando uma proposta inicial para tentar impedir que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aplique tarifas ainda maiores contra os produtos do país e imponha mais restrições de acesso à tecnologia. De acordo com pessoas familiarizadas com o assunto, a aposta chinesa tem como foco a retomada do acordo comercial assinado pelos dois países em 2020, no primeiro governo de Trump. À época, o pacto fracassou.

Segundo tais fontes, Pequim considerou que a tarifa de 10% anunciada por Trump no sábado, 1º, sobre as importações da China foi uma forma de pressão, mas longe do nível máximo, que seria considerado intolerável pelos chineses. Em uma resposta inicial tímida, o Ministério do Comércio da China informou que acionaria a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os Estados Unidos e pediu um “diálogo franco” entre os dois países.

O chamado Acordo de Fase Um, assinado em 2020, exigia que a China aumentasse as compras de bens e serviços americanos em U$ 200 bilhões durante dois anos. Após o fracasso da iniciativa, Pequim agora se prepara para indicar aos EUA em quais áreas poderia ampliar as aquisições de produtos americanos.

Outras iniciativas projetadas pelos chineses incluem uma oferta para fazer mais investimentos nos Estados Unidos, em setores como o de baterias para carros elétricos; uma nova promessa de não desvalorizar o yuan para ganhar vantagem competitiva; e um compromisso de reduzir as exportações de insumos para a produção de fentanil.

Pequim também estaria planejando tratar a questão do TikTok como um “assunto comercial”, disseram as fontes, como forma de abrir espaço para a negociação de uma participação na plataforma para investidores americanos.

Após assinar decreto executivo que determina a criação do fundo soberano dos EUA, o presidente norte-americano afirmou que o governo estuda utilizar o instrumento como solução para evitar a proibição do TikTok no país. Entre as medidas em discussão, Trump citou a possibilidade de o fundo comprar o aplicativo, que pertence à chinesa ByteDance.

Também na Casa Branca, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que o fundo soberano será criado ao longo dos próximos 12 meses e que estuda as melhores práticas internacionais. “Vamos monetizar o lado de ativos do balanço americano para o povo americano. Vamos colocar esses ativos para trabalhar”, disse.

Sobre política externa, Trump voltou a pressionar os países da Otan a ampliarem os gastos com a aliança e ameaçou não defendê-los se eles não aumentarem esses investimentos.

O enviado da China na Organização das Nações Unidas (ONU), Fu Cong, afirmou que Pequim “pode ser forçada” a adotar medidas de retaliação contra os Estados Unidos caso as tarifas prometidas por Trump sejam aplicadas. “A China se opõe firmemente ao aumento injustificado de tarifas pela administração Trump”, declarou.

O diplomata enfatizou que “não existem vencedores em uma guerra comercial” e informou que a China deve apresentar, em breve, uma reclamação contra os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Trump justificou a imposição das tarifas como uma resposta ao tráfico de fentanil, mas Cong rebateu a acusação: “Os EUA deveriam olhar para seus próprios problemas com o fentanil em vez de transferir a culpa para os outros.”

Apesar das tensões, Fu Cong defendeu o diálogo entre os dois países e destacou que China e Estados Unidos “têm muito em comum” e podem “trabalhar juntos em várias questões”. “Espero que, apesar da retórica dos políticos americanos, os EUA e a China possam adotar uma abordagem construtiva e profissional no trabalho da ONU, pois há muito em jogo”, acrescentou.

Ele também abordou o impacto da inteligência artificial (IA) e alertou que a falta de cooperação pode trazer riscos. Segundo ele, a fragmentação tecnológica apenas aumenta as ameaças e reduz os benefícios da inovação.

Em evento durante visita ao Panamá, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que a fronteira norte-americana “não começa no Texas ou no México. Ela começa muito mais para baixo”, na região panamenha. Rubio também enfatizou que “o que aconteceu com a migração em massa neste hemisfério é bastante lamentável”.

“A maioria das pessoas que chegam aqui no Panamá tem como objetivo final chegar aos Estados Unidos. E o que podemos fazer é criar incentivos para que as pessoas não façam essa viagem”, destacou o secretário. Ele ressaltou que, em parceria com o país da América Central, pretende “conter o fluxo de migração ilegal”.

“Este é um programa que demonstra como a cooperação com nossos fortes aliados aqui no Panamá pode ajudar a conter o fluxo, criando um desincentivo e enviando uma mensagem clara de que, se você vier de forma irregular, poderá ser parado e devolvido ao seu país de origem. E isso pode ser feito de maneira regular e digna, mas eficaz”, detalhou Rubio.