Economia
Pacote Fiscal

Campos Neto: Mercado entende que choque positivo tem que vir do gasto, não da receita

Nesse sentido, Campos Neto avalia que não é correta a avaliação de que o Brasil esteja numa situação de “dominância fiscal”

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19 de novembro de 2024
Vinicius Palermo
Campos Neto: Mercado entende que choque positivo tem que vir do gasto, não da receita
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 18, que o ideal é que o pacote fiscal discutido pelo governo federal neste momento se concentre especificamente na questão do corte de gastos, sem que haja também novas medidas focadas na ampliação de receitas, sob o risco de “interditar” o processo de melhora de percepção dos agentes com a política fiscal brasileira.

“O mercado entende hoje que para ter efeito de choque positivo tem que ser baseado em corte de gasto do que receita”, frisou Campos Neto, reforçando, mais uma vez, que um juro mais baixo no Brasil só aconteceu em momentos em que houve também um choque positivo vindo da política fiscal. Assim, para ele, a ancoragem fiscal está relacionada com a política fiscal.

Nesse sentido, Campos Neto avalia que não é correta a avaliação de que o Brasil esteja numa situação de “dominância fiscal”, ou seja, em que a política monetária já não teria mais efeito sobre a economia, já que há mecanismos para promover esse “choque” fiscal.

Na avaliação do banqueiro central, o governo parece estar se esforçando nesse sentido e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está focado em fazer “a lição de casa”. Campos Neto pontuou que sempre considerou que o Brasil poderia se antecipar um pouco, em fazer essa lição de casa no fiscal, que a situação fiscal do Brasil “não é um desastre iminente”, e que é possível corrigi-la. As afirmações foram feitas por Campos Neto durante participação em evento da Consulting House, realizado no Insper, em São Paulo.

Durante sua apresentação, Campos Neto frisou que, ao olhar “na ponta” a questão fiscal brasileira não está muito diferente da do resto do mundo, em um contexto em que os gastos subiram com a pandemia e que há uma necessidade de cobrir esses custos agora, num esforço de se diminuir as dívidas.

Com isso, o presidente do BC apontou que a discussão agora deveria ser a geração de superávits para pagar essa conta. Ele reconheceu, porém, que é difícil, encontrar hoje nações produzindo superávits consistentes no mundo. Não à toa, acrescentou o banqueiro central, a questão fiscal foi um dos temas mais discutidos na última reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em que ele esteve presente.

Cenário Global

No mesmo evento em São Paulo, o presidente do Banco Central afirmou que os bancos centrais ao redor do mundo têm se debruçado sobre a discussão a respeito do que aconteceria com a política monetária se a economia mundial começasse a contrair daqui para a frente.

Campos Neto contextualizou que, em momentos em que há certo esfriamento da atividade, os governos costumam agir com expansão fiscal.

O momento atual, contudo, não é dos mais propícios para isso, na avaliação de Campos Neto, entre outras coisas, porque o nível da dívida dos países já está muito alto.

“Fato é que isso significa que alguns bancos centrais estão pensando qual será nossa ‘caixa de ferramentas’ daqui para frente. Será que nós vamos poder usar as mesmas ferramentas que fizemos no passado?”, questionou o chefe do BC brasileiro. “Existe hoje um questionamento que talvez tenha menos grau de liberdade para frente”, complementou.

Escala 6×1

Nesta segunda-feira (18), Campos Neto, voltou a externar preocupação com um eventual avanço do debate que toma como base a proposta de emenda à Constituição que estabelece o fim da jornada de trabalho de 6 dias e trabalho por um de descanso.

De acordo com o banqueiro central, a proposta caminha na mão contrária dos avanços conquistados na esteira da reforma trabalhista. Ele participou até o início da tarde desta segunda-feira de evento realizado pela Consulting House em São Paulo.

A propósito, segundo Campos Neto, o bom momento pelo qual passa o mercado de trabalho se deve às reformas feitas no Brasil. Atualmente o País conta com uma das menores taxas de desemprego de sua história.

“O bom momento do mercado de trabalho se deve às reformas feitas no Brasil”, disse o presidente do BC.

O debate sobre a redução da jornada de trabalho no País ganhou força nos últimos dias porque a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) já teria conseguido número bem superior ao mínimo de 171 assinaturas de seus pares para que sua proposta de emenda à Constituição para a redução da jornada de 6 dias de trabalho por um de descanso possa ser aceita pela Câmara.

Pela proposta da parlamentar psolista, a jornada de trabalho, caso aprovada a sua alteração, passaria ser de 4 dias de trabalho por 3 de descanso.

Ao comentar sobre as expectativas em torno de crescimento e inflação, Campos Neto disse que os elevados preços dos insumos têm levado os agentes da economia real se revelarem mais pessimistas que os agentes do mercado financeiro.