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Desinflação

Campos Neto diz que juro real no Brasil está mais perto da taxa neutra

Quando a referência são pares emergentes, os juros do Brasil, disse Campos Neto, estão mais perto da taxa de equilíbrio do que outros países.

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21 de fevereiro de 2024
Vinicius Palermo
Campos Neto diz que juro real no Brasil está mais perto da taxa neutra
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse na quarta-feira, 21, que os juros do Brasil, em termos reais, estão mais perto da taxa neutra do que os de outras economias emergentes. Durante participação no café da manhã da Frente Parlamentar da Economia Verde, em Brasília, Campos Neto salientou que a diferença entre os juros reais e a taxa de equilíbrio aproximou-se – “está bem perto” – da observada no mundo avançado.

Quando a referência são pares emergentes, os juros do Brasil, disse Campos Neto, estão mais perto da taxa de equilíbrio do que outros países.

Ele citou como exemplo, nessa comparação, o Chile. Ao explicar por que os juros no país vizinho estão mais baixos do que os do Brasil, Campos Neto observou que a taxa de equilíbrio no Chile, em termos reais, está entre 1% e 1,5%, enquanto no Brasil ela gira entre 4,5% e 5%. “A questão é: por que nossa taxa de equilíbrio é tão alta?”, assinalou Campos Neto.

O presidente do Banco Central disse ainda que as autoridades monetárias do mundo inteiro estão debatendo como seus mandatos de estabilidade de preços estão associados aos riscos climáticos Ele observou que os choques climáticos afetam não só os preços de alimentos e energia, mas também provocam prêmios de risco e atingem a estabilidade financeira, os balanços de bancos e as cadeias de suprimento.

Na abertura de sua palestra, Campos Neto ressaltou que o tema da economia verde tornou-se importante no debate global, incluindo nas reuniões do G20, junto com a geopolítica e a reorganização de cadeias de produção.

Segundo o presidente do BC, a transição verde, conforme mostram pesquisas, leva a uma maior eficiência das cadeias produtivas, porém com aumento de custos no caminho, dada a compensação dos pesados investimentos realizados no processo. “É importante ter processo de produção mais sustentável, mas tem um aumento de custo no meio do caminho”, pontuou.

Campos Neto também chamou a atenção para o aumento do custo de logística em meio a tensões geopolíticas no mundo. Ele observou ainda que a reorganização das cadeias globais de produção, influenciada por riscos na geopolítica, está custando dinheiro. Ao mesmo tempo, a transição verde não é linear ao longo do tempo, levando a aumentos de custo nas cadeias produtivas antes de resultar, no final, em ganhos de eficiência.

Durante o evento, o presidente do BC avaliou que a economia global segue o curso desinflacionário – com continuidade da flexibilização monetária em emergentes e indicações de cortes de juros em breve nas economias desenvolvidas -, porém sem a mesma contribuição de antes da desinflação de alimentos e energia.

Campos Neto destacou aos parlamentares que, enquanto os preços de bens têm comportamento positivamente influenciado pela China, que está “exportando deflação”, a inflação de serviços está muito alta no mundo, dado o efeito do mercado de trabalho aquecido.

O presidente do Banco Central disse que faltam elementos para a autoridade monetária entender a velocidade do último estágio do processo de desinflação de serviços, a chamada “última milha”.

“Não temos componentes para entender se a última milha da desinflação de serviços vai se dar de forma linear ou com momentos de convergência mais lenta”, comentou.

O presidente do BC pontuou que a inflação de serviços, embora em processo de convergência, vem rodando no Brasil um pouco acima da meta, com os últimos índices marginalmente piores.

Esse cenário não é particular do Brasil, já que no resto do mundo a desinflação de bens, com a contribuição da China, que “exporta deflação”, vem mostrando comportamento mais benigno do que a de serviços, cuja inflação segue relativamente alta em termos históricos.

Conforme Campos Neto, o grande debate hoje é sobre quais fatores e riscos serão observados no processo de desinflação daqui para frente. Se o processo for revertido, alertou, o mundo terá que conviver com juros mais altos por mais tempo.

Os preços de energia e alimentos, que vinham contribuindo para a desinflação global, já não caem na mesma velocidade, disse o presidente do BC. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, o processo como um todo é desinflacionário, porém os últimos índices surpreenderam com leituras de inflação acima da esperada.