O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse na quarta-feira, 28, que as inflações implícitas subiram muito, o que causa grande desconforto à autarquia. Durante conferência anual do Santander, ele voltou a enfatizar a mensagem de que o BC vai fazer o que for preciso para atingir a meta de inflação, de 3% ao ano.
Conforme Campos Neto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado na terça-feira com desaceleração na margem, veio um pouco melhor, mas ainda sem dar conforto para a autoridade monetária.
O presidente do Banco Central voltou a negar na quarta-feira que a autoridade monetária, seja por falas de seus diretores ou demais comunicados oficiais da autarquia, tenha estabelecido um novo forward guidance para a política monetária, mas reforçou que a instituição fará o que for preciso para trazer a inflação ao centro da meta no horizonte relevante.
“A melhor forma para se ter credibilidade é fazer política monetária sob o framework técnico e com comunicação”, sentenciou o banqueiro central ao participar no período da manhã de quarta-feira da 25ª Conferência Anual Santander, em São Paulo. “Não demos guidance porque neste momento é importante ter flexibilidade”, disse.
O comentário é uma espécie de reforço às últimas falas dos dirigentes da autarquia no sentido de desfazer a percepção de que, com as falas mais hawk de alguns diretores, a autarquia teria se colocado em uma espécie de corner para aumentar a Selic já na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária.
Ao mesmo tempo Campos Neto citou a questão fiscal como uma espécie de driver para o direcionamento da política monetária.
“Queda sustentável de juro sempre esteve associada à melhora fiscal”, disse o presidente do BC, observando que apesar da evolução das receitas, no campo fiscal as despesas do governo têm subido mais.
A despeito de acreditar que há motivos para se comemorar no que tange à inflação global, Campos Neto destaca que o movimento de desinflação está diminuindo de intensidade nos últimos tempos. “Essa desinflação mais lenta no mundo decorre da contaminação pelo mercado de trabalho mais aquecido”, reiterou.
Nos Estados Unidos, alertou o banqueiro central, as propostas debatidas na campanha presidencial pelos dois principais candidatos são inflacionárias, o que merece ser observado com mais atenção.
Outro foco de atenção nos Estados Unidos, de acordo com o presidente do BC, é que não há sinais sendo dados na direção da austeridade fiscal naquele país.
O presidente do Banco Central avalia que, embora os principais temas debatidos na campanha para a eleição do próximo presidente dos Estados Unidos sejam inflacionários, a percepção é de que o ritmo de crescimento da economia do país está desacelerando. Isso, de acordo com o banqueiro central brasileiro, está ligado à precificação por parte dos americanos de uma política monetária mais agressiva por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
“No nosso cenário, a desaceleração dos EUA será benigna e, provavelmente, organizada”, disse Campos Neto.
Após repetir que a intervenção no câmbio chegou a ser considerada em alguns momentos pelo Banco Central, o presidente da instituição disse que a autarquia está com o “dedo no gatilho” para atuar no mercado se for necessário. “A gente chegou muito perto de pensar em fazer intervenção em alguns momentos. Significa que o Banco Central vai atuar se for preciso, e está sempre ali com o dedo no gatilho”, declarou.
Ele apontou que o fato de o câmbio ser flutuante não significa que nunca haverá uma intervenção. Ponderou, no entanto, que as intervenções no câmbio precisam ser cuidadosas para evitar transbordamento a outros mercados.
Mais uma vez, Campos Neto frisou que o BC só intervém quando há disfuncionalidade no câmbio, observando também um princípio de separação no qual a política monetária é para juros, enquanto a estabilidade financeira é assegurada via medidas macroprudenciais.
Intervenções no câmbio em momentos de elevação no prêmio de risco, observou, levam a um transbordamento a outros mercados, influenciando os preços de ativos.
“No histórico brasileiro, o que acontece é que os juros longos começam a subir … Quando os juros longos sobem, você atrapalha todos os projetos estruturais, que são hoje grande parte da economia”, assinalou Campos Neto, acrescentando que intervenções no câmbio também podem afetar a precificação do crédito privado.
“Então, a gente tem que imaginar que tem sempre um link entre as diversas variáveis macroeconômicas, de preço de mercado. A intervenção ideal é aquela que nem distorce, a ponto de transbordar a outro mercado, e nem ignora um movimento que pode ser um movimento atípico de fluxo no câmbio. É sempre entre esses dois mundos que tentamos navegar”, explicou.